sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – notícias do acidente; partindo para finalizar de uma vez por todas a louca história dos duplicados

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/o-homem-duplicado-de-jose-saramago-de.html antes de ler esta postagem:

De fato, Tertuliano teve uma noite difícil... Demorou-se a dormir e durante boa parte do tempo ficou a imaginar o carro perdendo o controle e indo de encontro ao caminhão...
Não podia deixar de pensar que, se um pneu tivesse estourado, a polícia relataria... É certo que o carro era bem rodado, mas fazia poucas semanas que o mesmo havia sido enviado à revisão e nenhum problema sério foi constatado, nem mecânico nem elétrico.

Pouco depois das sete da manhã despertou de um sobressalto... Tinha certeza de que devia fazer algo, mas não sabia o quê... Era muito cedo para ir à casa de Helena. Então decidiu que devia ir à banca de jornal mais próxima, pois certamente o acidente seria noticiado.
Arrumou-se e desceu às pressas... Passou pela recepção, onde o funcionário do turno da manhã já havia assumido sua jornada... Tertuliano sentiu-se na necessidade de justificar sua retirada ligeira e disse que estava saindo apenas para comprar o jornal.
Regressou ao hotel com três jornais... Folheou os dois primeiros e não encontrou uma linha sequer... Mas o terceiro apresentava substancial matéria com fotografia e tudo o mais... Em síntese, a reportagem explicava que por volta das 9:30 do dia anterior, nas proximidades da cidade, ocorreu o acidente violento que envolveu um “carro de turismo e um caminhão tir”.
A notícia dava conta de que os integrantes do automóvel morreram antes da chegada do socorro. As vítimas fatais estavam identificadas na matéria. A fotografia mostrava o carro destruído e também por isso Tertuliano começou a tremer.
O caminhoneiro prestou esclarecimento às autoridades... Segundo a matéria jornalística, ele tivera ferimentos leves e disse que teve a impressão de notar que o casal do automóvel vinha na direção contrária em plena discussão e confronto físico.
Tertuliano concluiu que no momento do acidente ainda estava na cama com Helena. De repente passou a questionar sobre o que teria se passado entre Maria e o “falso Tertuliano”... Pelo visto alguma coisa não tinha dado certo na casa de campo, pois discutiam durante a viagem de regresso.
(...)
O professor pensou em Helena... Faltavam poucos minutos para as oito e ela devia ter se levantado... Podia ser que ela ainda estivesse na cama sob os efeitos dos comprimidos... Isso dependia muito de seu estado mental... O que teria ocorrido depois que ele a deixou?
Helena era tão inocente quanto a Maria da Paz... Ela não tinha a menor ideia do que havia ocorrido ao verdadeiro marido.
(...)
A recepção forneceu-lhe barbeador e loção. Alimentou-se como o de costume e retirou-se do hotel às nove.
Seguiu direto para a casa de Helena... Decidiu contar-lhe toda a verdade, assim a louca história dos duplicados chegaria definitivamente ao fim. Infelizmente, o caso havia acabado de modo trágico para duas pessoas...
Ele nem sabia ao certo que rumo daria à própria vida... Mesmo assim esperava que seu curso fosse de normalidade.
Como não tinha consciência do que faria, talvez fosse melhor virar as costas e desaparecer de uma vez por todas... Mas evidentemente essa não era a solução... Até porque Antônio Claro seria dado como desaparecido e investigadores seriam encarregados de encontrá-lo.
(...)
Tertuliano estacionou do outro lado da rua... Com o jornal debaixo do braço, dirigiu-se ao prédio e entrou no elevador.
Em vez de abrir a porta com as chaves que pertenceram ao Antônio Claro, tocou a campainha.
Helena o atendeu com ares de espanto... Era visível que não tivera uma boa noite e possivelmente o comprimido não produzira resultado.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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