Não demorou e chegaram ao local que Vincent havia escolhido... Henri avistou a ponte que
passava sobre o rio. Tudo era silêncio... E deserto.
Pararam o carro junto ao parapeito e num instante atiraram o embrulho que continha “a coisa que tinha sido Sézenac”. Henri olhou para a massa que afundava e pensou que jamais saberia quem na verdade era aquele que submergia.
Vincent o agradeceu... Ele dispensou o agradecimento e declarou que só o ajudara porque não tinha alternativa... Na sequência emendou que era contra o procedimento de Vincent e seu grupo.
O rapaz não se importou... Respondeu que os salafrários deviam ser eliminados. Henri comentou que percebera motivos, até pessoais, para o assassinato de Sézenac... Mas o que podia ser dito das vítimas que ele sequer conhecia? Aquilo se tornara uma obsessão, como se fosse uma droga da qual não podia se desvencilhar.
Vincent redarguiu... Disse que não gostava de matar, pois não era sádico... Conviveu com tipos que tinham esse tipo de prazer no maqui, indivíduos que até “fatiavam” os milicianos que executavam... Mas definitivamente este não era o seu caso... Considerava-se normal, e Henri o conhecia bem.
(...)
Estavam chegando a Saint-Martin... Vincent explicou
que Henri não precisava problematizar a postura dos militantes de seu grupo...
Um ou outro devia ter algum distúrbio, e até podia ser que matavam na mesma
medida em que eram obcecados sexualmente... Mas ele garantiu que a maioria era
de pais de família, “gente de bem”.
Para Vincent, era uma questão de “tomar partido”... É claro que isso só
era possível porque tinha clareza de que lado estava.
Henri argumentou que se podia tomar partido fazendo algo útil... Citou o
caso de Patureau, que defendia os malgaxes (tomara o partido deles) correndo o
risco de ser linchado.
Vincent discordou... Sentenciou que em breve a Europa estaria envolvida
em mais uma guerra... Em vez de buscar “ações úteis” era melhor ir “acertando
as contas com os inimigos”.
Henri disse que talvez nem ocorresse guerra... Vincent respondeu que pensar
daquela maneira era ingenuidade... Será que Henri não sabia que todos os que se
envolvem nas discussões políticas são como os ratos? A guerra era inevitável
também por isso!
(...)
De volta ao jardim, Vincent
recomendou sigilo absoluto... Para todos os efeitos, a ação nunca ocorrera...
Se perguntado a respeito do paradeiro de Sézenac, Henri diria que o tipo
simplesmente desapareceu por aí e deve ter dado cabo à própria vida.
Se algum dia ouvisse
que Vincent falara algo a respeito em depoimento podia ter certeza de que só
podia ser um blefe.
Henri afirmou que jamais o denunciaria.
Despediram-se.
(...)
Ao deixar a garagem, Henri notou que Vincent já havia
desaparecido na escuridão. Pensou que podia sustentar que nada daquilo
ocorrera... Ninguém teria dificuldade de admitir a fuga do apavorado Sézenac.
Ao entrar, notou que os três estavam acordados... Anne e Robert
Dubreuilh usavam seus roupões... Nadine parecia não ter trocado de roupa,
certamente não pregara os olhos e chorava copiosamente.
Ao vê-lo, perguntou de onde ele estava vindo... Henri
quis saber por que ela estava chorando.
Nadine explicou que ela mesma havia telefonado a Vincent quando esteve
no café... Anne interveio e disse que a filha queria apenas que ele denunciasse
Sézenac à polícia.
Ainda em prantos, a garota garantiu que pedira ao outro que não fosse à
propriedade, mas ele insistiu que precisava conversar com o viciado. Contou que
o aguardou na estrada e que depois se retirou para o quarto... Começou a ficar
apavorada quando ouviu o som de pedrinhas atiradas contra a sua janela... Ao
abri-la, deu com Vincent querendo saber qual era a janela do quarto de Henri.
O que aconteceu na sequência? Nadine queria
saber... Anne e Robert também.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_27.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto