quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – muitos homens deviam estar morrendo no mesmo momento em que escondiam Sézenac no fundo do rio; ajustando compromissos para que a verdade nunca viesse à tona; com Nadine aos prantos, os Dubreuilh aguardaram Henri

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_22.html antes de ler esta postagem:

Não demorou e chegaram ao local que Vincent havia escolhido... Henri avistou a ponte que
passava sobre o rio. Tudo era silêncio... E deserto.
Pararam o carro junto ao parapeito e num instante atiraram o embrulho que continha “a coisa que tinha sido Sézenac”. Henri olhou para a massa que afundava e pensou que jamais saberia quem na verdade era aquele que submergia.
Vincent o agradeceu... Ele dispensou o agradecimento e declarou que só o ajudara porque não tinha alternativa... Na sequência emendou que era contra o procedimento de Vincent e seu grupo.
O rapaz não se importou... Respondeu que os salafrários deviam ser eliminados. Henri comentou que percebera motivos, até pessoais, para o assassinato de Sézenac... Mas o que podia ser dito das vítimas que ele sequer conhecia? Aquilo se tornara uma obsessão, como se fosse uma droga da qual não podia se desvencilhar.
Vincent redarguiu... Disse que não gostava de matar, pois não era sádico... Conviveu com tipos que tinham esse tipo de prazer no maqui, indivíduos que até “fatiavam” os milicianos que executavam... Mas definitivamente este não era o seu caso... Considerava-se normal, e Henri o conhecia bem.
(...)
Estavam chegando a Saint-Martin... Vincent explicou que Henri não precisava problematizar a postura dos militantes de seu grupo... Um ou outro devia ter algum distúrbio, e até podia ser que matavam na mesma medida em que eram obcecados sexualmente... Mas ele garantiu que a maioria era de pais de família, “gente de bem”.
Para Vincent, era uma questão de “tomar partido”... É claro que isso só era possível porque tinha clareza de que lado estava.
Henri argumentou que se podia tomar partido fazendo algo útil... Citou o caso de Patureau, que defendia os malgaxes (tomara o partido deles) correndo o risco de ser linchado.
Vincent discordou... Sentenciou que em breve a Europa estaria envolvida em mais uma guerra... Em vez de buscar “ações úteis” era melhor ir “acertando as contas com os inimigos”.
Henri disse que talvez nem ocorresse guerra... Vincent respondeu que pensar daquela maneira era ingenuidade... Será que Henri não sabia que todos os que se envolvem nas discussões políticas são como os ratos? A guerra era inevitável também por isso!
(...)
De volta ao jardim, Vincent recomendou sigilo absoluto... Para todos os efeitos, a ação nunca ocorrera... Se perguntado a respeito do paradeiro de Sézenac, Henri diria que o tipo simplesmente desapareceu por aí e deve ter dado cabo à própria vida.
Se algum dia ouvisse que Vincent falara algo a respeito em depoimento podia ter certeza de que só podia ser um blefe.
Henri afirmou que jamais o denunciaria.
Despediram-se.
(...)
Ao deixar a garagem, Henri notou que Vincent já havia desaparecido na escuridão. Pensou que podia sustentar que nada daquilo ocorrera... Ninguém teria dificuldade de admitir a fuga do apavorado Sézenac.
Ao entrar, notou que os três estavam acordados... Anne e Robert Dubreuilh usavam seus roupões... Nadine parecia não ter trocado de roupa, certamente não pregara os olhos e chorava copiosamente.
Ao vê-lo, perguntou de onde ele estava vindo... Henri quis saber por que ela estava chorando.
Nadine explicou que ela mesma havia telefonado a Vincent quando esteve no café... Anne interveio e disse que a filha queria apenas que ele denunciasse Sézenac à polícia.
Ainda em prantos, a garota garantiu que pedira ao outro que não fosse à propriedade, mas ele insistiu que precisava conversar com o viciado. Contou que o aguardou na estrada e que depois se retirou para o quarto... Começou a ficar apavorada quando ouviu o som de pedrinhas atiradas contra a sua janela... Ao abri-la, deu com Vincent querendo saber qual era a janela do quarto de Henri.
O que aconteceu na sequência? Nadine queria saber... Anne e Robert também.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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