A Argus era uma revista sobre arte e publicações diversificadas... Nadine disse que a última edição apresentava uma crítica positiva ao romance lançado por Henri... Ele não deu importância e disse apenas que a Argus conseguia manter-se... Nadine comentou que ela bem
podia ser semanal.
Neste ponto, Henri se lembrou da indefinição de Dubreuilh em relação ao semanário que o tal Manheim desejava financiar. Como se sabe, os comunistas e os demais que o acompanhavam viam com muito bons olhos a iniciativa.
Nadine observou que o pai só não se animava na empreitada porque fazia questão da participação de Henri... Este respondeu que não havia motivo para não avançar, pois era certo que não faltariam colaboradores confiáveis... Ela disse que Robert Dubreuilh estava mudado, a idade alterara o seu modo de ser... Talvez por isso tivesse a necessidade da companhia de alguém para ajudá-lo naquilo que se julgava incapaz.
A questão era essa... Então Henri quis encerrar o assunto garantindo que Robert acabaria por se decidir, pois todos o empurravam na direção da publicação.
Nadine quis saber se o marido gostaria de participar do projeto... Talvez se não se mudassem para a Itália... Henri respondeu que um dos objetivos da mudança era justamente afastá-lo daquele tipo de engajamento... Ela completou que buscava um belo lugar repleto de sol... Ele concordou.
(...)
Na sequência, Nadine pediu as cartas que Henri havia
lido.
Enquanto ela manipulava os envelopes e seus conteúdos manuscritos, ele
folheava sem muito interesse os exemplares de Argus... Pensava somente que não voltaria a se envolver em nada
parecido com a Vigilance.
Nadine comentou a carta de um jovem que dizia que a vida de Henri
era-lhe um exemplo... Ele achou graça, mas a esposa defendeu o leitor dizendo
que o tipo havia compreendido uma série de mensagens do escritor.
Henri explicou que o jovem havia exagerado na opinião manifestada... O
fato é que os juízos dos fãs têm pouca importância... Nadine perguntou o que se
podia pensar a respeito dela... Ele respondeu que não devemos ter este tipo de
preocupação... Isso não nos leva a nada.
O tema da conversa levou-o a refletir sobre o seu modo de ser escritor
na Itália... De certo modo, percebia a dificuldade que teria para “evitar
pensar em si”... De repente disse à Nadine que ela tinha Maria, certamente
teria de se dedicar à sua formação... Além disso, havia coisas que a
interessavam, e ela não deixaria de vivenciá-las.
Nadine arrematou que em
Porto Venere teriam “tempo de sobra”... Henri quis saber se essa constatação
lhe causava medo... Com sinceridade, ela respondeu que até não ter a passagem
em mão nunca tivera certeza da viagem...
Ela perguntou se ele
acreditava que a viagem de fato ocorreria... Henri respondeu que
“evidentemente”... Nadine disse que não considerava tão evidente assim...
Depois comentou que, enquanto não estivessem a bordo do trem, aquele enredo bem
podia se passar como que uma brincadeira... Será que ele tinha certeza de que
tinha vontade de partir? Ela quis saber.
Henri perguntou se sua
dúvida devia-se ao fato de achar que ele se aborreceria com ela... Definitivamente
não era esse o caso...
Nadine respondeu que o ouvira falar muitas vezes
que a vida a dois não o aborrecia... Sua dúvida era em relação “ao todo”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_85.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto