sábado, 10 de dezembro de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Dubreuilh ainda tem planos de parceria com Henri; a vida menos agitada podia entediar o velho; “é preciso que a gente se ocupe”; deve haver necessariamente um vínculo entre o que se almeja para destino pessoal e o destino da humanidade?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html antes de ler esta postagem:

Dubreuilh admitiu que pudesse procurar Manheim... Henri ficou surpreso e disse que o amigo parecia tentado a aceitar a proposta... Brincou que na época em que precisavam de dinheiro para tocar os projetos não tinham a menor possibilidade de consegui-lo. No momento o tipo parecia insistir para que aceitassem uma verba que ninguém estava solicitando.
Robert admitiu que a oferta fosse tentadora... Explicou que não havia nenhum semanário de esquerda consistente... Os “jornalecos comunistas” pouco tinham a oferecer além dos enfadonhos textos... O projeto de Manheim possibilitaria “um negócio de grande tiragem”, repleto de fotografias de boa qualidade ilustrando reportagens bem feitas.
Henri redarguiu dizendo que aquilo era muito trabalhoso... Haveria necessidade de se dedicar integralmente ao jornal, principalmente no primeiro ano... As dificuldades seriam grandes também porque os compromissos com a Vigilance não cessariam.
Dubreuilh concordou e concluiu que só poderia aceitar se contasse com a parceria de Henri. Este foi incisivo ao responder que ele bem sabia que seu destino era a Itália... Acrescentou que não seria difícil conseguir outro colaborador.
Neste ponto, Dubreuilh foi franco ao garantir que não tinha experiência em jornalismo... Teria de confiar muito no parceiro e, para um trabalho desses só confiava em Henri. Este explicou que ainda que não estivesse de mudança não toparia o projeto.
Dubreuilh lamentou porque em sua opinião a ideia se ajustava ao perfil dos dois. Ele entendia que o semanário embasaria uma resistência às iniciativas dos Estados Unidos na Europa... Henri pôs-se a rir e a dizer que o amigo estava procurando meios para voltar à ação política... E proferiu uma exclamação sobre a saúde do velho.
(...)
Nadine acabava de entrar no escritório e quis saber sobre quem ele estava se referindo... Henri explicou que Robert não estava enjoado da política... Ela respondeu que “é preciso que a gente se ocupe”...
Enquanto Nadine revirava os discos, Henri pensou sobre a necessidade que movia Robert... Provavelmente ele se aborrecesse com a vida menos agitada, então disse que, de sua parte, estava feliz por ter abandonado a política e não tinha disposição nenhuma para novos compromissos.
Dubreuilh lamentou... Sentenciou que a esquerda estava num marasmo só e que o Partido Comunista padecia no isolamento... Seria preciso reagrupar as forças.
Henri quis saber se ele estava pensando em formar um sovo SRL.
Dubreuilh não tinha uma ideia específica... Só a constatação de que algo devia ser feito...
(...)
Calaram-se... Nadine continuava a mexer nos discos.
Henri refletiu sobre as palavras de Robert... Não havia dúvida de que elas o pressionavam... Em outra época, quando admitia largar tudo, ele ainda sentia o peso de certas obrigações... Ali, naquele escritório, não estava totalmente convencido de se tratar de um tipo “absolutamente livre”. Dizer sim ou não à proposta de Dubreuilh pouco tinha a ver com o “destino da humanidade”... Talvez o outro o pressionasse no sentido de alinhar destino pessoal ao da humanidade... Mas Henri não estava interessado... Aquele tipo de engajamento e questionamento devia permanecer com Robert.
Nadine perguntou se podia tocar um disco... Dubreuilh aprovou.
Henri foi se retirando com a justificativa de que tinha trabalho a cumprir... Dubreuilh insistiu para que ele telefonasse ao Jean Patureau.
Ele disse que certamente o faria.
(...)
De fato, Patureau não era irmão de Truffaut (o advogado do polêmico Mercier)... O tipo disse que o irmão escrevera-lhe de Madagascar... Em poucas palavras, dizia que “ninguém faz nada”, mas certamente Henri Perron faria... E era por isso que ele estava entrando em contato.
De sua parte, Henri estava disposto a não fazer mais do que um artigo... E isso era tudo.
Marcou um encontro para o dia seguinte... Depois voltou para a sombra com aroma de floxes e tília.
De onde estava podia ouvir o quarteto de Franck, que Nadine colocara no toca-discos... Pensou que sua pressa em mudar-se para a Itália se justificava cada vez mais... Em Paris continuariam as visitas, telefonemas e as pressões dos que pretendiam seu engajamento.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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