quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – de alívio e desapontamentos; a mãe deve chorar a morte do “falso filho” em seu sepultamento; Tertuliano já vive como se Antônio Claro fosse

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_29.html antes de ler esta postagem:

Tertuliano contou toda história à mãe. Ela não o interrompeu, e em apenas duas situações alterou a fisionomia... Primeiro quando ele falou sobre o plano de Antônio Claro sobre levar Maria à sua casa de campo... Depois quando ele explicou os motivos que o levaram a seguir para a casa do ator para passar a noite com Helena e, dessa maneira, vingar-se do tipo.
Depois que a narrativa chegou ao fim, dona Carolina sentiu que devia sentenciar que os
duplicados eram doidos... Todavia nada disse a respeito. Perguntou ao filho o que faria a partir de todo aquele drama que parecia não ter fim... Tertuliano explicou que a pessoa que ele havia sido estava oficialmente morta... Acrescentou que, evidentemente, havia a possibilidade de assumir a posição do cidadão Antônio Claro.
Dona Carolina sugeriu que ele revelasse toda a verdade. Mas Tertuliano não concordou e respondeu que isso, além de não trazer nenhum benefício aos vivos (no caso, ele e Helena, que seriam “atirados à praça pública para regalo e desfrute da feroz curiosidade do mundo”), também não ressuscitaria os que haviam morrido no acidente.
Ela mudou um pouco sua pergunta e quis saber o que podia ser feito... Tertuliano respondeu que o melhor seria ela acompanhar o enterro do outro como se fosse o de seu verdadeiro filho... Em síntese, devia chorar pelo “falso Tertuliano”.
Mas então, o que seria do “verdadeiro Tertuliano”? Dona Carolina insistiu... Ele respondeu que “à luz do mundo” não era mais Tertuliano, mas sim Antônio Claro...
Evidentemente continuaria a ser o seu filho, porém não a poderia visitar na cidade natal, onde todos já o sabiam defunto... Dessa forma, teriam de se encontrar em lugares onde não soubessem da existência do filho professor de História.
Dona Carolina quis saber a respeito da Helena... O filho a encontraria? Tertuliano respondeu que pretendia ir a casa dela no dia seguinte para devolver-lhe o relógio e a aliança do finado marido.
Mais uma vez a velha lamentou a morte dos dois que estiveram na casa de campo... Tertuliano demonstrou remorso, admitiu a culpa e salientou que uma das vítimas era completamente inocente.
Até este momento as luzes do quarto estiveram apagadas... No instante mesmo em que Tertuliano as acendeu, notou que Dona Carolina chorava. Calaram-se por alguns minutos.
(...)
Dona Carolina secou as lágrimas do rosto ao mesmo tempo em que afirmava que “a velha Cassandra tinha razão”... Depois, dirigindo-se diretamente ao filho, lembrou-o de que “não devia ter deixado entrar o cavalo de madeira”.
Não havia como se punir ainda mais... Tertuliano argumentou que não havia como remediar a situação... Dona Carolina concordou e adiantou que nem mesmo para o futuro teriam como obter cura para tantas feridas.
Depois o rapaz quis saber se a mãe ouvira da polícia algo a respeito do acidente... Ela respondeu que disseram que o carro havia saído da pista e se chocado de frente com um caminhão de grande porte... Pelo visto Antônio Claro e Maria da Paz morreram imediatamente.
Para Tertuliano o episódio parecia bem estranho porque tinha o ator como bom motorista... Talvez algum problema na pista o levasse a perder a direção... Mas sobre essa hipótese dona Carolina não podia falar porque as autoridades nada disseram.
(...)
Logo entardeceu... Tertuliano sugeriu jantarem, depois ele conseguiria um quarto para a mãe no mesmo hotel... Ela rejeitou, pois preferia retornar o quanto antes. Concordou que precisavam jantar, mas achava mais conveniente pegar um táxi. O professor explicou que não seria preciso, pois ele mesmo poderia levá-la. Só então dona Carolina soube que o filho estava com o veículo de Antônio Claro.
(...)
Logicamente dona Carolina estava muito triste com a situação... É claro que se sentia aliviada por saber que o filho estava vivo... Mas não era a mesma coisa... Sua identidade era a do Antônio Claro, também as vestes, o carro e outros objetos... Passaria a viver a vida do outro?
Tertuliano entendia que teria de descobrir uma (vida) melhor que a do tipo...
(...)
Depois de jantarem, Tertuliano lembrou a mãe de apagar as gravações que deixara na secretária eletrônica... Acertaram este detalhe e dona Carolina insistiu que queria voltar de táxi.
Ele ainda quis acompanhá-la no táxi, visto que a mãe não admitia entrar no carro do outro.
Despediram-se... Ele sugeriu que ela descansasse... Ela respondeu que certamente nenhum dos dois conseguiria dormir.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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