quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Sézenac numa cama instalada no pavilhão; Dubreuilh sugere a Anne que obtenha informações do agente duplo; uma vida em constante perigo; Vincent, sua arma silenciosa e os tabloides de fósforo; é preciso dar sumiço ao corpo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_20.html antes de ler esta postagem:

Para Nadine, a postura de Henri e dos pais só podia ser entendida como covarde... Não foi por acaso que se retirou violentamente e manifestando a sua opinião.
Anne disse que a entendia... E referiu-se ao Diego, tão querido pela filha, assassinado ao tempo da ocupação.
Anne tornou-se triste... Estava prestes a chorar quando solicitou a Robert e a Henri que transportassem Sézenac ao pavilhão, onde havia preparado uma cama. Desde que tomara a injeção o tipo dormia pesadamente e não era aconselhável deixá-lo na sala de jantar.
Henri comentou que ao tempo da Resistência ele mesmo seria capaz de matá-lo... No momento não via o menor sentido numa execução... Em contrapartida entendia que era escandaloso ajudá-lo a sobreviver.
Dubreuilh disse que não havia solução que pudessem considerar satisfatória... O melhor seria não haver nenhum problema... De qualquer modo teriam de tomar uma decisão arbitrária. Pelo menos naquele momento, o mais correto seria encaminhar o rapaz para a cama do pavilhão conforme Anne havia sugerido.
(...)
Os olhos fechados de Sézenac em seu sono profundo davam ao seu rosto certo ar de serenidade... Anne puxou uma coberta sobre suas pernas enquanto comentava que, dormindo, o rapaz nada tinha de ofensivo.
Henri lembrou que, independentemente do uso frequente de drogas, ele vivia perigosamente... Sézenac sabia de muita coisa sobre tipos colaboracionistas como ele mesmo, por isso não eram poucos os que pretendiam sua morte... O grupo de Vincent vivia à caça desse tipo de gente... Isso era algo que Sézenac pretendia denunciar à polícia... Por outro lado, sabendo que Vincent conhecia as denúncias de seu envolvimento com a Gestapo, tinha mesmo muito a temer.
Dubreuilh sugeriu que Anne o entrevistasse em momento oportuno tentando coletar informações importantes... De acordo com a sua opinião, os viciados em drogas “falavam com facilidade”... Depois pensariam em embarcá-lo para longe da França.
(...)
Henri deixou Anne e Dubreuilh envolvidos em questionamentos sobre Sézenac, sua traição, e seu lastimável estado físico e psicológico.
Aproximou-se da janela de seu quarto e também pensou no rapaz... Lembrou-se da noite de Natal, quando todos se felicitavam no estúdio de Paule... Também Sézenac, um traidor, estava presente em meio aos companheiros que festejavam o final da guerra, as vitórias norte-americana e soviética...
O tempo presente estava carregado de novos traumas.
Por algumas horas, Henri permaneceu a contemplar as luzes dos faróis dos carros que trafegavam as subidas e decidas da estrada ao longe.
(...)
Ainda não dormia pesadamente quando teve a sensação de que sonhava com o bater de granizo contra a janela... Despertou... Nadine estava em seu quarto, mas não era de lá que vinha o barulho... De repente uma quantidade maior de pedrinhas foi lançada a partir do jardim. Ele abriu a janela imaginando que encontraria Sézenac.

Surpreendeu-se ao notar Vincent... Vestiu-se e desceu imediatamente. O rapaz estava sentado num dos bancos e movimentava nervosamente o pé esquerdo.
Henri quis saber o que ele fazia na casa de Dubreuilh àquela hora da madrugada... Vincent perguntou se ele estava com o carro... O motivo era simples... Matara Sézenac e precisava retirar o corpo.
Vincent explicou que usara sua “arma silenciosa”... O problema é que o organismo do tipo não reagira adequadamente aos “tabloides de fósforo” e não queimou como deveria. Seu grupo havia subtraído vários desses tabloides dos alemães no maqui, mas ao que tudo indicava estavam um tanto envelhecidos.
Henri também se sentou e perguntou por que Vincent fizera aquilo... Sabia que ele era capaz de matar e conhecia sua fama de “justiceiro”, mas custou a processar o que lhe dissera. Então quer dizer que ele ficara por três horas esperando que sua vítima queimasse?
Henri conseguiu pronunciar que estavam providenciando a retirada de Sézenac “para uma floresta” de onde não conseguiria retornar.
Mas isso não importava para Vincent... Interessava saber que o delator estava apagado... Lembrou-se do iludido Chancel, que o apresentava como “meu irmãozinho”...
Vincent dizia com alívio que desconfiara a tempo, pois o outro podia entregá-lo à polícia.
Henri perguntou sobre como ele soube que Sézenac estava instalado ali... Ele explicou que ficara no encalço do tipo... Chegara de bicicleta e teria transportado os restos mortais num saco, depois colocaria uma pesada pedra e lançaria tudo ao rio... Isso só não ocorreu porque o corpo não queimou por completo.
Na sequência, Vincent pediu que se apressassem... Já sabia o local exato onde despacharia. Henri nada disse e não esboçou movimento... Ficou perplexo como se o Vincent estivesse a pedir-lhe que assassinasse Sézenac com as próprias mãos.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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