quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Dubreuilh não devia contar com Henri para outras parcerias de engajamento político; “algo não colava” no relacionamento de Nadine com Anne; Lambert e seu “Auto-Retratos”, um ataque a Perron e aos Dubreuilh

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_12.html antes de ler esta postagem:

Ainda a respeito do primeiro evento do comitê em defesa da causa malgaxe, Henri dizia que, de qualquer modo, nenhuma ação conduzia “a parte alguma”... Suas palavras rebatiam a opinião de Dubreuilh, que insistia que faltara estrutura e organização... Para ele, o grupo carecia de um jornal e alguma arrecadação que possibilitasse planejamento mais adequado.
Então, para Robert, futuras ações tinham de ser melhor sucedidas também graças à experiência do encontro. Henri era taxativo ao afirmar que não ocorreriam novas reuniões... Evidentemente, Dubreuilh observava que não acreditava que Perron estivesse “morto para a política”, já que entendia que seu histórico o levaria a “empolgar-se novamente”.
(...)
Às provocações de Robert, Henri respondia que seu projeto de vida baseava-se em retirar-se para a Itália... Na ocasião em que falavam a respeito dos tímidos resultados do encontro promovido pelo comitê proposto por Lachaume, Dubreuilh disse que podia apostar que Henri não completaria um ano de “reclusão” na Itália.
Nadine se intrometeu garantindo que aceitava a aposta... Disse que estava segura a respeito porque o lugar e a casa onde viveriam eram muito bonitos... Chamou Anne para testemunhar a seu favor, afinal ela vira fotografias do lugar.
Anne estava com ares de muito cansaço... Respondeu apenas que “parece muito bonito”... Depois pediu desculpas e se retirou reclamando do sono. Dubreuilh aproveitou para também se deitar. Nadine desejou que a mãe pudesse dormir melhor.
A sós, Henri e Nadine trocaram palavras a respeito da condição de Anne... Para Nadine, a mãe sentia falta da América... E comentou que, se assim era, devia ter permanecido indefinidamente nos Estados Unidos.
Henri quis saber se Anne havia contado algo sobre a última viagem e Nadine respondeu que ela era “toda cheia de segredos”.
Henri observou que a relação das duas era mesmo muito estranha... Nadine explicou que a amava, mas era certo que muitas vezes irritava-se com Anne... A recíproca devia ser verdadeira.
Era estranho mesmo... Henri pensou sobre o fato de as duas irem aos extremos na defesa uma da outra... Todavia “alguma coisa não colava”... Era Anne aparecer e Nadine tornava-se agressiva e teimosa.
(...)
Os dias seguintes foram marcados por esforços das duas.
Tornou-se comum vê-las juntas, menos carrancudas... Riam, mas sempre havia o risco de os gracejos que trocavam anunciarem novos desentendimentos.
Certa manhã, Nadine e Anne retiraram-se pelo jardim... Estavam alegres e caminhavam de braços dados. A partir de seu quarto, Henri as viu quando se retiraram e também quando retornaram.
À chegada não se verificava nenhuma harmonia. Pelo contrário! Estavam discutindo... Nadine trazia alguns jornais.
Quando desceu para o almoço, Henri notou que Dubreuilh lia Lespoir Magazine. Nadine estava ao seu lado... Ensimesmada, Anne acomodou-se num canto. Depois de cumprimentar a todos, ele quis saber das novidades. Nadine estava visivelmente irritada e apontou para o jornal. Na sequência, ao mesmo tempo em que anunciava o motivo de sua irritação, sugeriu que Henri partisse para a agressão física contra Lambert.
Ele pareceu não dar importância, já que as palavras de Nadine revelavam o óbvio... Certamente o desafeto da família escrevera um artigo tecendo críticas à sua produção textual.
Nadine emendou que não era apenas ele o criticado... Dubreuilh mostrou-lhe o jornal onde se lia o título do artigo, “Auto-Retratos”. Em síntese, Lambert insistia que Henri estava em franca decadência. De acordo com suas palavras, o “brilhante começo” literário de Perron se perdeu por causa da influência de Dubreuilh...
“Auto-Retratos” apresentava um resumo do livro lançado por Henri... De acordo com Lambert, faltava talento para o autor... Mas seu texto também era medíocre. O conteúdo pretensamente jornalístico não conseguia esconder os ataques de ordem pessoal... Detalhes da vida de Henri, Nadine Anne e Dubreuilh estavam escancarados...
Nem se pode dizer que só havia falsidades... Mas o objetivo era claro... Lambert passava uma impressão odiosa de Henri e dos Dubreuilh, apresentados como “privilegiados de esquerda” e dados a hábitos ridículos.
Nadine voltou a insistir que Henri devia partir para as “vias de fato” e quebrar a cara do outro... Ele respondeu que tinha vontade de fazer isso, todavia argumentou que não ganhariam nada se assim procedesse... Pelo contrário! Provavelmente os jornais repercutiriam ainda mais negativamente... Era tudo o que Lambert queria! Ou seja, oportunidade para aparecer e tecer novas críticas ao que considerava inimigos.
Dubreuilh concordou... Lambert desejava publicidade... Retaliação seria a pior das ações... Irritada, Nadine argumentou que a inação possibilitaria maior encorajamento de Lambert.
Henri lamentou, mas acrescentou que todos os que se propunham a escrever sujeitavam-se às mais ácidas críticas... Nadine não aceitava ser atingida, além do mais não era autora como os pais ou Henri.
Anne contemporizou ao garantir que todos acabam se acostumando aos “reveses literários”... E para interromper os lamentos e irritação, sugeriu que fossem almoçar.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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