Depois do choque provocado pela revelação a respeito da trama do marido, Helena se acalmou... Viu que Tertuliano também estava abalado e lhe disse que não era o único culpado. Ele concordou, mas deu a entender que sua responsabilidade na tragédia era maior porque havia se acovardado em relação às iniciativas macabras de Antônio Claro.
Helena quis saber da relação de Tertuliano com a Maria da Paz... Ele explicou que estavam noivos e que gostava dela... Deu a entender também que passara a noite com Helena para se vingar de seu marido.
Na sequência Tertuliano retirou o relógio e a aliança do Antônio Claro e deixou-os sobre a mesa... Estava para se retirar e acrescentou que enviaria as roupas do outro pelo correio.
(...)
Saramago revela o que ocorreu entre Maria da Paz e o Antônio Claro na
casa de campo... O problema entre ambos ocorreu pela manhã, quando o ator
dormia sossegadamente ao lado da Maria. Seu braço esquerdo estava acomodado numa
almofada próxima da cabeça da moça.
Aos poucos o quarto foi se iluminando pela claridade
do dia que penetrava pelos vãos das janelas... Maria estava como que abandonada
à preguiça e de repente virou-se para o lado um tanto agitada... Seus olhos
toparam a mão do companheiro da noite.
No mesmo instante ela concluiu que aquele tipo não era o seu Tertuliano.
A sua conclusão se embasou simplesmente na marca de aliança do dedo anelar
daquela mão diante dos olhos. Seu noivo não usava anéis e já fazia muito tempo
que a marca que lembrava o frustrado casamento havia desaparecido.
Maria não teve dúvidas... Retirou-se da cama, apanhou suas roupas e saiu
do quarto. Vestiu-se na sala e seus pensamentos não conseguiam encontrar uma
resposta para o fenômeno que acabara de perceber... Definitivamente aquele tipo
não era Tertuliano. Mas seria possível que em tudo fossem idênticos?
Por mais que tentasse chegar a uma resposta, Maria não possuía elementos
suficientes para construí-la... É verdade que se lembrou de conversas que
tivera com o Tertuliano, suas frases evasivas por ocasião do envio da carta à
produtora e a sua promessa de um dia revelar-lhe toda a verdade. Mas o que
poderia concluir a partir desses parcos elementos?
Algum tempo se passou e o tipo a chamou... Incrível! A voz era a de
Tertuliano... Maria não respondeu. Ele voltou a chamá-la argumentando que ainda
era cedo para se retirarem da cama.
Ela caminhou até a porta do
quarto... O desconhecido protestou ao vê-la vestida... Maria foi logo querendo
saber quem ele era exatamente e o que significava aquela marca de anel em seu
dedo.
Um tanto surpreendido,
Antônio Claro olhou para a própria mão e notou que não havia levado em
consideração aquele pequeno detalhe... Maria disse que ele não era o Tertuliano...
O tipo confirmou e ela quis que ele se identificasse no mesmo instante.
Antônio Claro
explicou que no momento ela devia se contentar com aquela informação... Depois
Tertuliano lhe explicaria tudo.
Mas ela demonstrou toda sua indignação e resolveu que
precisava saber por quem havia sido enganada.
Antônio Claro procurou se pronunciar com calma... Isso enervava ainda
mais a pobre moça. Ele disse que a havia enganado, todavia Tertuliano o ajudara
em suas maquinações... Acrescentou que o professor não tinha saída, além disso,
ele não era exatamente um herói.
O tipo levantou-se
completamente nu e se aproximou da Maria... Disse que aquela história toda não
tinha nenhuma importância e que o melhor que tinham a fazer era aproveitar o
momento juntos.
Maria gritou e correu para
a sala... Algum tempo depois ele também se vestiu e anunciou que a levaria à
sua casa, pois não tinha paciência com mulheres histéricas. Ela podia ficar
tranquila, pois nunca mais se encontrariam.
(...)
Como sabemos, continuaram a discutir durante a
viagem de regresso... Agrediram-se. Antônio Claro perdeu o controle do veículo,
que se chocou de frente com o grande caminhão. Isso selou o fim dos dois.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_33.html
Leia: O
Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto