segunda-feira, 20 de maio de 2019

“Os Direitos Humanos”, de Ari Herculano de Souza – uma introdução; sobre o contexto de meados da década de 1980; desrespeito aos direitos e instalação das desigualdades e injustiças; “O Bicho”, de Manuel Bandeira; negação de condições mínimas e barbárie

Na apresentação de “Os Direitos Humanos”, publicado na longínqua década de 1980, Ari Herculano de Souza nos convocava à reflexão sobre o tema sugerindo uma breve verificação do nosso entorno...
Que realidade tínhamos? A mais dramática... E infelizmente algo muito parecido com o que vemos na atualidade: Crianças abandonadas e desnutridas, indigentes sem teto dormindo ao relento e famílias miseráveis contrastando com a riqueza ostentada por pequena parte da sociedade.
Como se vê, a renda estava concentrada. Esse colapso marcou o fim da longa ditadura militar e contrariou a expectativa defendida por economistas que apoiavam o regime... Dizia-se por exemplo que era preciso que o bolo crescesse para dividi-lo.
De fato, houve tempos de crescimento da riqueza nacional (os tempos do “Milagre Brasileiro”), mas o custo de vida tornou-se mais caro e a parte mais pobre da população empobreceu ainda mais. Os índices de pobreza aumentaram!
(...)
Então a violência saltava aos olhos...
O autor destaca que além das carências que se evidenciavam, a realidade também era de opressão, exploração e autoritarismo que perseguia, produzia vítimas e afastava a população das decisões políticas.
O livro parte do princípio de que o desrespeito, a violação e a mutilação dos direitos humanos explicavam a situação...
Se os direitos fossem respeitados, a realidade seria diferente.
(...)
O propósito é o de explicar esses direitos, suas origens, importância e a luta histórica das sociedades por esses direitos.
Didaticamente, o professor pergunta por que a realidade era de tanta injustiça... Seria um castigo dos céus? Não haveria como fugir da crueldade do destino? Aos seres humanos está reservada apenas a condição de miséria?
Logo na abertura da primeira parte lemos “O Bicho” (1947), poema de Manuel Bandeira:

O bicho

“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.

O poema sensibiliza, leva-nos à empatia pelos que são desfavorecidos...
Não se pode admitir que um semelhante viva em tão precária condição.
O desrespeito aos direitos favorece a exclusão!
A partir do momento em que os excluídos apontam por todos os lados e se tornam visíveis (como sugere o poema), a sociedade civil acomodada à realidade passa a perceber que há negação de condições mínimas para todos.
E isso torna a espécie mais próxima da barbárie.
Leia: Os Direitos Humanos. Editora Do Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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