sábado, 11 de maio de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – o mecânico do kimbo da região madeireira resolveu juntar-se à guerrilha; notícias sobre a repressão dos agentes imperialistas infiltrados em meio ao povo; o trabalho do Comissário Político rendia seu fruto; nova insônia e atração pela Ondina

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/05/mayombe-de-pepetela-ainda-conversa.html antes de ler esta postagem:

O jantar terminou e cada um se dirigiu ao próprio quarto.
Mal se deitou, Sem Medo ouviu o Kandimba chamá-lo... acontece que havia chegado um tipo querendo falar diretamente com o responsável. O velho achou melhor colocá-lo em contato com o Sem Medo porque o rapaz (referia-se ao Mundo Novo) ainda não estava totalmente inteirado sobre sua nova função.
Sem Medo dirigiu-se à varanda e teve a sensação de reconhecer o recém-chegado. Suas feições não lhe eram estranhas... O homem até sorriu e lhe perguntou se não se lembrava dele... Na sequência explicou que era um dos trabalhadores da região madeireira... Então Sem Medo reconheceu o mecânico e perguntou o que ele vinha fazer numa hora tão avançada. Ele respondeu que havia deixado o povoado e avançado para o Congo para integrar-se ao movimento armado... Disse que esperava ser admitido na luta.
Num primeiro momento, Sem Medo pareceu não entender, mas logo abraçou o mecânico e a sorrir anunciou que ele era bem-vindo. O homem explicou que a conversa que teve com os guerrilheiros lhe fora convincente, e que sua decisão se tornara mais sólida após a devolução do dinheiro. Entendeu que os guerrilheiros haviam se arriscado muito e isso o sensibilizara. Enfim se convencera de que era explorado e que devia participar da luta. Entendeu que os guerrilheiros eram gente de bem, que lutavam para defender o povo.
O mecânico não escondeu sua empolgação... Contou que passara a ouvir a rádio “Angola Combatente” e que graças a isso aprendeu muito. Outros companheiros começaram a comungar das mesmas ideias, então debatiam sobre a situação do país e sobre a atuação do MPLA. Alguns se interessaram em ingressar na luta armada, e esse era o seu caso.
Sem Medo perguntou se ele não pretendia voltar ao kimbo (povoado). O mecânico respondeu que voltaria se o comandante considerasse que isso era bom para o movimento... Talvez atuasse com a gente do povo... De sua parte, tinha intenção de participar da guerrilha, embora não soubesse manipular armas. Novamente salientou que havia outros com o mesmo interesse.
O comandante o tranquilizou. Disse que o treinamento lhe daria condições de participar das ações guerrilheiras... Sobre os demais interessados, destacou que era muito importante a presença de simpatizantes entre a gente do povo, pois poderiam fornecer informações e contribuir de diversas outras formas com o movimento.
O mecânico lembrou que a “PIDE” (que, como já foi salientado em outra postagem, reunia agentes recrutados entre os nativos para o trabalho de investigação e perseguição de suspeitos de colaborarem com os rebeldes) havia realizado várias operações de repressão à população. Os agentes não se conformavam com o ataque da guerrilha e a perda de soldados. Muita gente acabou sendo presa e todos passaram a entender quem defendia e quem violentava o povo.
(...)
A conversa com o mecânico renderia muito mais. Todavia o adiantado da hora fez Sem Medo interrompê-la. Perguntou se havia comido, e como a resposta foi negativa, orientou o Kandimba a providenciar-lhe algo.
Só havia pão e chá, mas o mecânico aceitou de bom grado. Enquanto o homem se alimentava, Sem Medo lhe fez companhia... Depois mostrou-lhe onde passaria a noite. Por fim orientou-o a falar com o Mundo Novo logo que o dia amanhecesse. Explicou que o jovem era o novo responsável pelo bureau.
(...)
Quando Sem Medo se recolheu, pensou na conversa do mecânico e lembrou que o Comissário Político havia feito um bom trabalho quando insistiu em devolver-lhe o dinheiro que havia sido surripiado pelo Ingratidão do Tuga.
Tentou dormir, mas a chegada do mecânico o despertara mesmo... Para piorar, começou a pensar em Ondina, que estava no quarto vizinho. Imaginou-a em toda a sua sensualidade... Logo convenceu-se de que devia ir ao seu encontro.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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