Tanto Vewê quanto o Teoria sentiam-se culpados pelos últimos transtornos...
No final, Sem Medo achou graça de tudo e destacou a coragem do Vewê no episódio em que imaginou que os tugas estivessem invadindo a Base... Vimos que o equívoco acabou provocando o deslocamento de guerrilheiros e militantes civis para o interior do Mayombe. E foi por pouco que o Teoria não foi executado pelo comandante enquanto se banhava no rio.
(...)
O Comissário Político interrompeu a fala de Sem Medo
dizendo que o Comando deveria decidir o que fazer a respeito da desastrosa
iniciativa do jovem.
Sem Medo respondeu que apenas havia proferido sua opinião,
sem dar a ela qualquer caráter de veredicto.
Mundo
Novo se intrometeu ao sugerir um julgamento público que se valesse da presença
de todos naquele instante mesmo, pois seria bem mais democrático. O Comissário
redarguiu lembrando que a ideia contrariava o Estatuto do Movimento. Mundo Novo
disse que estava de acordo, mas todos tinham de considerar que as palavras de
Sem Medo haviam sido contundentes, principalmente em relação à defesa da
coragem do Vewê. Ele destacou ainda que o discurso do comandante tocou a todos,
e que uma reunião para tratar do assunto reforçaria a ideia de mobilização.
Disse também que seria muito positivo se cada um pudesse expressar sua opinião.
Sem Medo e o Chefe de Operações se declararam favoráveis à
ideia. Então o Comissário manifestou que aceitava a opinião majoritária do
Comando.
(...)
Sem
Medo notou que o jovem Mundo Novo já devia perceber que seu nome vinha sendo
cogitado para o posto de responsável em Dolisie... Isso o deixava mais à
vontade para expressar opiniões em reuniões como aquela.
(...)
Depois
do almoço ocorreu a reunião mais ampla proposta pelo Mundo Novo.
Vewê não sofreu punições... Teoria defendeu-se garantindo
que a surucucu o atacaria, então a votação deliberou o castigo de ser obrigado
a cumprir guardas extras durante um mês.
À noite, antes de se entregar ao sono mais que atrasado,
Sem Medo notou a dificuldade do Comissário para dormir. No dia seguinte, o
Comando decidiu que fariam um ataque desde a Base às instalações dos tugas no
Pau Caído para forçar o seu recuo... Antes disso, Sem Medo retornaria para
Dolisie para preparar a ação da qual não tomaria parte... Era de se lamentar a
inusitada situação, todavia seguia animado com a certeza de que os civis
voltavam com a convicção de que
precisavam apoiar a formação de novos guerrilheiros para atuarem na Base.
(...)
Sem Medo e o Comissário se despediram friamente.
(...)
Na
sequência temos um novo relato pessoal do Chefe de Operações...
Dessa vez ele afirmou que Sem Medo havia se mostrado “um
grande comandante”. O seu ponto de vista era o de que as atitudes e palavras do
outro haviam caído como bofetadas no Comissário.
A
respeito do Comissário Político. O Chefe de Operações deu a entender que o
mesmo já vinha se considerando o melhor quadro do Comando. Mas ao opor-se ao
Sem Medo fez um papel ridículo perante os demais.
Sobre
a reunião, garantiu que os guerrilheiros apoiaram o Sem Medo, e cada vez mais
se tornava evidente que todos o admiravam. Todos o elogiaram e entenderam como
positiva sua ação rápida ao juntar os civis.
O próprio Chefe de Operações se juntou aos demais no apoio
ao comandante.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/05/mayombe-de-pepetela-fim-do-relato-do.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto