Os guerrilheiros já estavam quase todos nas posições que o Comando havia acertado para o ataque do início do dia seguinte. Bem próximos do sítio onde estava o acampamento inimigo, passariam a noite de descanso.
Sem Medo mais uma vez foi atormentado pela insônia... A imagem de Ondina surgiu para puxá-lo antes que pudesse adormecer profundamente. Despertou e concluiu que fez bem ao negar veementemente qualquer envolvimento com ela... A marcha guerrilheira lhe fazia bem e logo que o confronto tivesse início se sentiria mais livre.
(...)
Virou-se na direção do Teoria e percebeu que ele também
não adormecera. Sussurrou-lhe que a ação era muito importante. Lembrou que o
movimento possuía seus problemas, mas estes se resolviam no processo mesmo de
luta... A “ação revolucionária” mobilizaria o povo de Cabinda. Não deviam se
importar tanto se haveria traições porque a Revolução era mais importante.
Teoria nada disse... Virou-se e tentou lutar contra o
próprio medo até que conseguisse dormir...
(...)
Os
homens despertaram pouco depois das cinco horas... O Comissário chegou
sugerindo a divisão dos homens em dois grupos. Ele comandaria um e o outro
seria comandado por Sem Medo. A ideia era a de manter os dois grupos mais ou
menos próximos. A estratégia foi aprovada, e o Comissário continuaria
encarregado de dar as ordens para a ação.
Avançaram com todo o cuidado pela mata. Deixaram para
trás as mochilas. Sem Medo pensava que dessa vez realmente encontrariam
inimigos. Mais um pouco e se posicionaram há uns cinquenta metros do
acampamento dos tugas...
As
duas colunas se dividiram e de tal modo se colocaram que os inimigos teriam
muitas dificuldades para escapar... Uma vez que as bazucas e os morteiros
fizessem o seu serviço, os tugas teriam de tomar a rota da esquerda e ali
topariam com os homens chefiados pelo Comissário Político.
Com
o avanço também dos comandados por Sem Medo, haveria um massacre. Então o povo
de Cabinda reconheceria a força da Revolução...
(...)
O momento do ataque estava chegando...
Sem Medo manteve-se deitado e em contato com a terra e a
vegetação selvagem do Mayombe... Leli não apareceu em suas visões... Ondina
sim... Ela surgiu numa capa e ele a tirou, revelando-a toda nua e ardente. De
volta à realidade, pensou que haviam se encontrado tarde demais.
Faltavam apenas dois minutos para o início do ataque...
Sem Medo observou os homens conferindo seus relógios... Entre os que estavam em
sua coluna viam-se o Verdade com sua costumeira calma; o Teoria mastigando um
filete de capim; Muatiânvua de olho no comandante e a espera de qualquer ordem;
e o Pangu-A-Kitina, que encontrou ocasião para virar-se em sua direção e
transmitir-lhe um sorriso.
Por
fim vinha-lhe a imagem de Ondina anunciando o início do fogo.
(...)
De fato, o Mayombe começou a estremecer com os obuses que
caíram no acampamento tuga... Na sequência ouviu-se a gritaria dos soldados e
mais uma chuva de chumbo grosso... Não demorou e o disparo da bazuca de Milagre
começou o seu serviço.
Nesse
momento vários tugas se lançaram para as trincheiras. O Milagre antecipou-se e
fez outro disparo iluminando todos de uma vez. O rapaz colocou-se de pé,
carregando a bazuca e fazendo mira... Outro grupo de tugas se espantou com a
tremenda ousadia, mas nem teve tempo de revidar porque foi atingido por um obus
disparado por outro guerrilheiro. Outros tugas correram para os abrigos, mas foram
alvejados pela AKA do Chefe de Operações...
Foram muitos tiros de Pépéchás, enquanto Milagre
continuava a disparar sua bazuca sem piedade.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto