Ondina dizia que iria para onde quer que o Sem Medo se transferisse... Mas ele respondeu que não permitiria, e acrescentou que como responsável pela nova região teria todas as condições de evitar a reaproximação.
Com isso, esperava que Ondina aceitasse de vez o rompimento entre ambos. Quis argumentar que estava tratando a questão com lucidez, pois, no final das contas, queria apenas o bem para ela e o João... Tinha certeza de que o casal de noivos voltaria a uma convivência mais madura.
(...)
Uma vez mais se relacionaram...
Às quatro horas ele se levantou. Ondina perguntou se
ele retornaria... Após a resposta negativa, Sem Medo retirou-se do quarto para
preparar-se para a marcha.
(...)
Todos
os que se juntaram ao Sem Medo (e aí devemos incluir muitas mulheres e mais
civis) percorreram o longo trajeto até a Base, onde chegaram ao meio-dia.
Ele percebeu que o Comissário se mostrou insatisfeito
ao revê-lo. Logo notou que sua ideia era a de comandar o ataque. Certamente
estava pensando que com a participação de Sem Medo todos o veriam na posição de
comando.
Sem
Medo aproximou-se e o convidou para uma conversa na beira do rio... Colocaram-se
no mesmo local onde habitualmente trocavam ideias. Sem delongas, disse ao
Comissário que em breve seria transferido para uma nova frente. Logo deixaria a
região da Cabinda, pois aquela seria a última ação da qual tomaria parte. Por
fim, disse que o Comissário passaria a ser o comandante da Base, e que, sendo
assim, era melhor que chefiasse o ataque ao acampamento do pau Caído.
O
Comissário Político quis saber o motivo daquela decisão... Sem Medo explicou
que na prática trocariam os papéis e que confiava na capacidade de comando do
camarada.
(...)
Via-se que o João Comissário não estava à vontade para
encarar o Sem Medo de frente. Disse que se ele pensava daquela forma, então
comandaria a ação... De resto, sua indisposição para a conversa revelava o
quanto ainda estava irritado com o outro. Mesmo assim, Sem Medo arriscou dizer
que era inútil comportarem-se como “galos de briga”...
O Comissário Político apenas deu de ombros e nada falou.
Sem Medo desistiu e disse que podiam prosseguir daquele modo mesmo, sem que
precisassem se entender. Na sequência virou-se e dirigiu-se para a Base tendo o
fuzil acomodado ao ombro... O Comissário seguiu mais atrás.
(...)
O Comando definiu o ataque... Basicamente contariam com
bazucas e dois morteiros... Um grupo de assalto avançaria sobre o acampamento
inimigo. Junto ao Pau Caído havia um morro onde poderiam montar os morteiros e
as bazucas. Os guerrilheiros se colocariam no sítio para onde provavelmente os
tugas fugiriam, então seria o confronto e o assalto ao acampamento.
Pelo
menos em teoria, o plano parecia perfeito... Bazucas e morteiros bem
posicionados e a destruição do inimigo não tardaria. Sem medo não escondeu a
animação e disse que poderiam aniquilar os tugas. O Comissário problematizou ao
cogitar a possibilidade de os morteiros atingirem o grupamento de assalto...
Muata, que era o guerrilheiro responsável pelos morteiros, garantiu que estariam
bem posicionados e teriam vista privilegiada do acampamento inimigo.
Para Sem Medo, a tática estava bem definida. Os morteiros
entrariam em ação e isso sinalizaria o ataque das bazucas. O grupamento de
assalto avançaria a seguir. Muata comandaria o pessoal da artilharia (dez
homens); o Chefe de Operações lideraria os que atirariam com as bazucas (cinco
fazendo os disparos e outros cinco carregando o armamento); o Comissário Político
comandaria os trinta que avançariam contra os tugas.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto