segunda-feira, 13 de maio de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – últimos esclarecimentos sobre o ataque ao acampamento dos tugas; Lutamos e o seu relato pessoal; orgulho de ser companheiro de luta de Sem Medo e preocupações com o próprio futuro após a transferência do comandante; a ação como momento de mostrar a todos que se tratava de um bravo guerrilheiro

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/05/mayombe-de-pepetela-fim-da-noite-de.html antes de ler esta postagem:

Vemos Sem Medo animado com o plano de assalto ao acampamento dos tugas no Pau Caído... Tinha tudo para dar certo... O Chefe de Operações quis saber em qual função estaria o Sem Medo e este lhe respondeu que participaria do grupamento de assalto comandado pelo Comissário Político.
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Seguiriam para tomar as posições apenas no dia seguinte. Alguns civis foram indicados para ajudar no transporte dos morteiros. Antes que a ação tivesse início, eles retornariam para Dolisie... Três outros haviam sido destacados pelo próprio Sem Medo para ajudarem no municiamento dos morteiros.

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É do Lutamos a narrativa pessoal que antecede a ação.
Ele explica que o ataque ao Pau Caído seria decisivo para o movimento e a região de Cabinda. Como único nativo a participar da guerrilha, Lutamos se sentia incomodado pela ausência de sua gente na causa. Via com angústia o modo como acusavam o movimento, pois sentia que o maior problema havia sido a falta de uma boa mensagem dirigida ao povo.
Como não havia o envolvimento massivo dos cabindenses, muitos diziam que se tratavam de um bando de traidores. Lutamos achava que ele próprio tinha o papel de mostrar aos demais guerrilheiros que sua gente não era traidora. E isso era mesmo muito difícil porque ele sabia que o viam com desconfiança. Sentia que apenas o Sem Medo não se mostrava desconfiado em relação a ele... E especificamente sobre o comandante, lembrava-se que começaram na guerrilha no mesmo ano... Lutamos engajou-se como guia por conhecer as paragens melhor do que a maioria, já Sem Medo havia se tornado professor na Base.
Na função de professor, devia cumprir também a tarefa de redigir “comunicados de guerra”. Os líderes consideravam sua função tão importante que até o excluíam dos combates. Aconteceu que houve uma ocasião em que ele exigiu participação, e desde então jamais deixou os cenários de conflito.
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Com orgulho, Lutamos deixou claro que sempre esteve com Sem Medo e que, de tanto que se conheciam, o líder sabia que ele não era dos que traem. Infelizmente para o rapaz, bem poucos pensavam como o comandante.
Ao ficar sabendo que Sem Medo partiria para o Leste, Lutamos foi tomado de grande tristeza. Passou a preocupar-se com o próprio futuro. Quem o defenderia diante das acusações dos demais? Alguém se colocaria tão veementemente contra o tribalismo? O movimento carecia de quadros como o Sem Medo... Isso era constatação das mais lamentáveis.
Lutamos sabia que teria de se impor... Cada ação de conflito se apresentava como oportunidade única. Ele sabia que tinha de demonstrar coragem. Mas reconhecia as suas limitações e confessava que tinha medo. Os deuses (cita Nzambi) o sabiam... O medo era a sua maior dificuldade, todavia reconhecia o seu papel e pensava que, se não se portasse com bravura, o seu povo também sofreria as represálias.
Entre os guerrilheiros sempre havia os que diziam que os cabindas deviam ser exterminados. Normalmente isso acontecia quando estavam irritados... Para Lutamos isso era uma grande tristeza, sobretudo porque sabia que seu povo era lutador... Faltava a luta guerrilheira avançar mais para que todos se engajassem nela.
O combate contra os tugas no Pau Caído seria decisivo...
Lutamos esperava fazer a luta como Sem Medo, pois era isso o que o seu povo esperava de sua parte.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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