Vemos Sem Medo animado com o plano de assalto ao acampamento dos tugas no Pau Caído... Tinha tudo para dar certo... O Chefe de Operações quis saber em qual função estaria o Sem Medo e este lhe respondeu que participaria do grupamento de assalto comandado pelo Comissário Político.
(...)
Seguiriam
para tomar as posições apenas no dia seguinte. Alguns civis foram indicados
para ajudar no transporte dos morteiros. Antes que a ação tivesse início, eles
retornariam para Dolisie... Três outros haviam sido destacados pelo próprio Sem
Medo para ajudarem no municiamento dos morteiros.
(...)
É do Lutamos a narrativa pessoal que antecede a ação.
Ele explica que o ataque ao Pau Caído seria decisivo
para o movimento e a região de Cabinda. Como único nativo a participar da
guerrilha, Lutamos se sentia incomodado pela ausência de sua gente na causa.
Via com angústia o modo como acusavam o movimento, pois sentia que o maior
problema havia sido a falta de uma boa mensagem dirigida ao povo.
Como
não havia o envolvimento massivo dos cabindenses, muitos diziam que se tratavam
de um bando de traidores. Lutamos achava que ele próprio tinha o papel de
mostrar aos demais guerrilheiros que sua gente não era traidora. E isso era
mesmo muito difícil porque ele sabia que o viam com desconfiança. Sentia que
apenas o Sem Medo não se mostrava desconfiado em relação a ele... E
especificamente sobre o comandante, lembrava-se que começaram na guerrilha no
mesmo ano... Lutamos engajou-se como guia por conhecer as paragens melhor do
que a maioria, já Sem Medo havia se tornado professor na Base.
Na função de professor, devia cumprir também a tarefa de redigir
“comunicados de guerra”. Os líderes consideravam sua função tão importante que
até o excluíam dos combates. Aconteceu que houve uma ocasião em que ele exigiu
participação, e desde então jamais deixou os cenários de conflito.
(...)
Com
orgulho, Lutamos deixou claro que sempre esteve com Sem Medo e que, de tanto
que se conheciam, o líder sabia que ele não era dos que traem. Infelizmente
para o rapaz, bem poucos pensavam como o comandante.
Ao
ficar sabendo que Sem Medo partiria para o Leste, Lutamos foi tomado de grande
tristeza. Passou a preocupar-se com o próprio futuro. Quem o defenderia diante
das acusações dos demais? Alguém se colocaria tão veementemente contra o
tribalismo? O movimento carecia de quadros como o Sem Medo... Isso era
constatação das mais lamentáveis.
Lutamos sabia que teria de se impor... Cada ação de
conflito se apresentava como oportunidade única. Ele sabia que tinha de demonstrar
coragem. Mas reconhecia as suas limitações e confessava que tinha medo. Os
deuses (cita Nzambi) o sabiam... O medo era a sua maior dificuldade, todavia
reconhecia o seu papel e pensava que, se não se portasse com bravura, o seu
povo também sofreria as represálias.
Entre os guerrilheiros sempre havia os que diziam que os
cabindas deviam ser exterminados. Normalmente isso acontecia quando estavam
irritados... Para Lutamos isso era uma grande tristeza, sobretudo porque sabia
que seu povo era lutador... Faltava a luta guerrilheira avançar mais para que
todos se engajassem nela.
O combate contra os tugas no Pau Caído seria decisivo...
Lutamos esperava fazer a luta como Sem Medo, pois era isso
o que o seu povo esperava de sua parte.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/05/mayombe-de-pepetela-os-guerrilheiros.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto