segunda-feira, 8 de maio de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 7 e 14 de fevereiro de 1895; visitas à Luisinha no Colégio das Irmãs; dona Carolina e Helena se espantam com a rigidez e o tratamento severo dispensado às novatas; também Conrado e Aurélia se entristeceram com o que viram; madrugada de missas, penitência e estudos; o episódio dos pastéis extraviados

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_66.html antes de ler esta postagem:

No dia 7 de fevereiro, Helena, sua mãe, tia Aurélia e tio Conrado foram visitar as meninas que haviam ingressado no colégio interno das religiosas.
Ao retornar para casa, a garota registrou no diário as impressões sobre o que viram. A frase que melhor define a visita é “voltamos todos tão aborrecidos que perdemos o prazer do resto da tarde”.
Helena não conseguia entender como que meninas tão obedientes como Luisinha e as primas Beatriz e Hortênsia podiam chorar de tanto desgosto por conta do cotidiano no colégio. Temos que destacar que elas estavam com as madres há apenas dois dias.
No parlatório as meninas não pararam de chorar. E no momento da despedida nenhuma delas queria entrar. Por isso as religiosas tiveram de levá-las na marra. Luisinha estava irreconhecível. Parecia gritar para demonstrar todo o seu descontentamento para a irmãs. Referindo-se à Helena, vociferava que ela é que havia sido esperta por não querer estudar naquele colégio que parecia “um inferno”.
Aurélia e Conrado ficaram muito tristes ao notarem toda insatisfação e tristeza das filhas. Fizeram dona Carolina esperar um tempo na casa deles na intenção de terem uma companhia para se distraírem.
(...)
Mais tarde Helena sugeriu à mãe que tirasse Luisinha do colégio das irmãs. Do modo como estava é que não podia ficar! Ela disse que as meninas lhe contaram sobre o cotidiano das internas. Sem entrar em maiores detalhes, deixou claro que ficou com muita pena delas.
As coitadas tinham de se levantar na alta madrugada para participar da missa. O frio era intenso, mas mesmo assim deviam permanecer ajoelhadas por uma hora no chão duro.
Após a missa tomavam “uma água de café com cuscuz” e na sequência tinham início os estudos. Pelo visto as garotas reclamaram também da alimentação (insuportável), do banho (frio) e das madres (implicantes e impossíveis de aguentar).
No final Helena sentencia que só podia achar muito bom o fato de ter se recusado a entrar no internato.

(...)

14 de fevereiro de 1895 foi a quinta-feira da semana seguinte.
Em seu registro no diário, Helena explica que as quintas-feiras eram os bons dias das semanas. Mas isso era antes da ida de Luisinha para o colégio interno.
Às quintas-feiras a família se dirigia para o campo. Todos ficavam muito alegres.
Mas neste dia 14 ela e a mãe voltaram a visitar Luisinha. Sentiram-se tão aborrecidas que até evitaram trocar palavras uma com a outra no caminho de volta para casa. Ficaram muito tristes e a ponto de desabarem em lágrimas se tivessem de falar a respeito da pobrezinha.
Helena registrou que vinha tentando convencer a mãe a tirar a irmã do colégio. Ela não devia manter Luisinha apenas para acompanhar a tia Aurélia. Além do mais, Beatriz e Hortênsia podiam muito bem se acostumar sem a prima.
As filhas de tia Aurélia sempre levaram uma vida mais retraída, então para elas seria mais fácil. Este de modo algum era o caso de Luisinha, que “sempre viveu em liberdade”. Para quem ansiava pelos passeios nos campos da Boa Vista, a escola mais se assemelhava a uma prisão.
(...)
Para termos uma ideia da situação, Helena conta que dona Carolina perguntou à Luisinha se ela tinha gostado dos pasteizinhos de carne que foram deixados com uma das madres. Dona Carolina decidiu levar os quitutes que a menina tanto gostava também porque ela se queixava da comida do colégio.
Surpresa desagradável foi saberem que os pastéis não foram entregues à Luisinha, mas para outras meninas que dividiram entre si. A certa distância a garota até desconfiou que a encomenda era destinada a ela porque notou que aquilo só podia ter sido feito por sua mãe.
Helena termina seu registro dando a entender que dona Carolina não deixaria a filha por muito mais tempo naquele colégio porque elas também sofriam com o padecimento da pequena.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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