Sem dúvida o atraso do Carnatic foi providencial para os planos de Phileas Fogg. Sua planilha acusava que havia perdido 24 horas, mas se o navio não tivesse sido recolhido para reparos numa de suas caldeiras, teria de amargar um atraso ainda maior porque o próximo navio para o Japão só sairia depois de oito dias.
Trinta e cinco dias depois de ter deixado Londres, seguramente podemos dizer que a aposta não estava perdida. Principalmente porque o navio que partia de Yokohama para São Francisco só zarparia depois de embarcar os passageiros que chegassem no Carnatic.
A viagem pelo Pacífico em direção à costa oeste da América do Norte tinha previsão de durar vinte e dois dias. Não se podia descartar a possibilidade de um avanço favorável que compensasse as horas perdidas com o Rangoon.
(...)
Não podemos nos esquecer que Fogg tinha compromissos
em Hong Kong. E eles diziam respeito à jovem Aouda, que precisava encontrar seu
primo Jejeeh. Esperava-se que ele a acolhesse até que houvesse condições
seguras para o seu retorno à Índia.
Logo que deixaram o Rangoon, Fogg ofereceu o braço para conduzir a bela
Aouda. Os dois caminharam até um palanquim. O inglês solicitou que os
carregadores os levassem a um hotel que satisfizesse suas necessidades. Os
moços seguiram direto para o Hotel do Clube.
Passepartout seguiu logo atrás. Vinte minutos depois
davam entrada no hotel. Phileas Fogg tratou de instalar Aouda num bom
apartamento e cuidou para que nada lhe faltasse. Pediu a Passepartout que não
deixasse o local enquanto estivesse fora. À jovem explicou que sairia à procura
do parente ao qual ela seria entregue.
(...)
O raciocínio de Fogg era simples. A Bolsa de Valores era prédio onde certamente
conheciam o rico comerciante parse Jejeeh.
Aconteceu que logo que o inglês entrou em contato com um corretor local obteve
a resposta que necessitava. Já fazia dois anos que o negociante não se
encontrava em território inglês. Sabia-se que ele fizera riqueza e se
estabelecera na Europa, provavelmente na Holanda.
Não havia o que fazer. Fogg retornou ao Hotel do Clube e seguiu para o
apartamento de Aouda. Pediu licença e colocou-a a par do ocorrido. Por um
instante a jovem não se manifestou. Via-se que ela não sabia o que fazer, e é
por isso que perguntou ao seu protetor.
Phileas Fogg respondeu no mesmo instante que ela devia voltar com eles
para a Europa. Aouda disse com ternura que não podia mais abusar de sua boa
vontade.
É claro que, além de tudo, ela
sentia que era um estorvo para o inglês em sua “volta ao mundo”. Mas Fogg
apressou-se a explicar que sua companhia não o atrapalhava em nada.
Na sequência, chamou
Passepartout e ordenou que ele fosse até o Carnatic para reservar três cabines.
O rapaz ficou
contente de saber que a jovem prosseguiria em viagem com eles. Ficou contente,
mas não se manifestou, apenas saiu apressadamente do Hotel Clube em direção ao
porto.
(...)
Verne tece alguns comentários sobre Hong Kong.
Explica que a ilha havia se
tornado possessão inglesa depois da guerra (do Ópio) de 1842.
Poucos anos se passaram e os ingleses realizaram consideráveis
prodígios na localidade. A cidade se tornara importante centro comercial depois
que os ingleses fundaram o porto Victoria.
Localizada na embocadura do rio de Cantão, Hong Kong está a cem
quilômetros distante de Macau (que era possessão portuguesa), localizada na
outra margem. O autor deixa claro que uma competição comercial entre as duas
cidades dominadas por europeus certamente seria vencida “pela cidade inglesa”, pois
“a maioria do trânsito chinês passava por ela”.
Os elogios não param por aí. A cidade estava
dotada de docas, hospitais, alfândegas, palácio de governo e até uma catedral
gótica. Também graças às iniciativas britânicas, as ruas eram forradas de
macadame Era como se ali fosse ponto de chegada de “cidades comerciais dos
condados de Kent ou de Surrey”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_6.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto