O resultado final do ano escolar de 1894 foi bem diferente para Helena.
Nos registros de 20 de dezembro ela tratou do assunto.
(...)
No dia anterior, uma quarta-feira, havia ocorrido o exame de Música.
Pelo visto as pessoas não
esperavam muito de Helena em relação às provas daquele ano, principalmente na
de Música. Mas aconteceu que ela surpreendeu a todos.
De certo modo notamos que Helena lamentava que as
colegas mais chegadas da escola não admitissem sua capacidade. Tanto é que ela
manifesta que por vezes sentia mesmo vontade de se esforçar mais só para lhes
mostrar que se equivocavam em relação às suas potencialidades intelectuais.
Todavia ela própria considerava que do modo como as coisas ocorriam
estava tudo muito bem, pois notava que as meninas não gostavam de saber que “os
outros têm mais inteligência”.
Helena cita Clélia e Mercedes, que provavelmente se
destacavam em relação a todas as outras nos assuntos escolares. Pelo visto elas
sofriam o desprezo da estudantada por isso. De modo diferente tratavam Helena, e
podia-se dizer que gostavam dela.
Ela afirma que talvez a julgassem diferente daquilo que realmente era.
(...)
Algum tempo antes das provas finais, Dona Carolina ouviu de Naninha, sua
“prima mentora”, que Helena até poderia se dar bem nos diversos exames
escolares porque tinha boa memória. Era só decorar “os pontos nas vésperas” das
avaliações e tudo estaria resolvido. Mas salientou que no exame de Música ela
teria muitos problemas, e era quase certo que não seria aprovada porque era
muito desafinada.
Foi essa Naninha que sugeriu à dona Carolina que acertasse umas aulas
para Helena com o seu Modesto Rabequista algumas semanas antes dos exames
finais daquele ano.
Dona Teodora soube da sugestão e insistiu para que a mãe de Helena
contratasse o músico.
(...)
A garota explica que passou
cerca de um mês estudando com o seu Modesto.
No dia do exame de Música o
professor pediu que ela cantasse o Tantum
ergo. Para a surpresa de todos, Helena cantou muito bem e “tirou distinção”.
O resultado a encheu
de alegria e ela até se convenceu de que um dia poderia se tornar cantora...
Mas o certo é que Helena não dava tanta importância para a “distinção”
em exames como Música ou Ginástica. Ela gostaria de ser aprovada com
reconhecimento pelo seu mérito em disciplinas como Português e Aritmética.
De acordo com o seu próprio
juízo, isso era coisa que estava bem longe de ocorrer. Em Português, por
exemplo, jamais havia conseguido “fazer uma cópia dos Ornamentos da Memória sem erro”. Fiascos também eram os seus
aproveitamentos nas Redações e “Análises”.
(...)
Helena só tinha a agradecer.
Havia perdido um ano por ter sido reprovada no final de 1893.
Mas dessa vez passara “plenamente” em Geografia e nas
demais disciplinas atingira aproveitamentos “satisfatórios”.
Livrara-se do Primeiro Ano da Escola Normal e por isso agradecia a Deus.
As tias inglesas é que sempre lhe perguntavam a respeito do desempenho
escolar. O fato de poder dizer que havia tirado uma “distinção” as deixaria
felizes.
De resto era só festejar o início das férias e a
estadia na Boa Vista.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_66.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto