domingo, 7 de maio de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 5 de fevereiro de 1895; dona Carolina resolveu matricular as filhas no Colégio das Irmãs; as filhas de tia Aurélia e tio Conrado também ingressariam no internato; despedindo-se das amigas; opinião e conselhos de Ester e Ramalho; escapada no último momento

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_7.html antes de ler esta postagem:

Se o final do ano escolar de Helena havia sido bom, o mesmo não pode se dizer a respeito de Luisinha, sua irmã. A pequena foi reprovada e dona Carolina achou por bem matriculá-la no Colégio das Irmãs, que tinha regime de internato e a fama de ser bem rigoroso.
Para que Luisinha não se sentisse só, dona Carolina resolveu que Helena também estudaria na mesma escola.
Helena tinha certeza que a decisão da mãe só podia ter sido influenciada por tia Aurélia, que havia matriculado suas duas filhas no mesmo colégio. Como já se destacou em postagem anterior (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_29.html), tia Aurélia e tio Conrado eram muito sistemáticos com a educação dos filhos. Mas Helena não entendia por que aqueles dois resolveram internar as duas sossegadas filhas. Elas viviam estudando e sequer saíam de casa para brincar!
O tio Conrado não pretendia que suas filhas se tornassem irmãs de caridade, então ficava difícil entender sua decisão. Para Helena, a tia Aurélia insistiu com dona Carolina a respeito do internato para que suas filhas tivessem a companhia das primas.
(...)
É nos registros do dia 5 de fevereiro de 1895 que Helena faz a narrativa.
A entrada no Colégio das Irmãs havia sido marcada para o dia anterior. Então, antes de partir, Helena resolveu visitar as amigas e demais chegados da vizinhança para se despedir.
Ela conta que todos demonstravam espanto ao saberem da decisão de sua mãe. A última casa que visitou foi a de Ester e de Ramalho. Estes ficaram indignados com a internação e manifestaram que de modo algum podiam concordar.
Ester e Ramalho revelaram um juízo sobre Helena muito diferente daquele que dona Carolina e os demais parentes faziam dela. Sem dúvida, isso a fez mudar de ideia a respeito da mudança de escola.
Foi Ester quem lhe disse para nem pensar em se transferir para o Colégio das Irmãs. O regime de educação era muito severo e seguramente Helena perderia seu “gênio alegre e expansivo” e emendou que ficaria “sem graça”, viraria outra pessoa. E aconselhou que ela deveria “bater o pé” e se recusar a ir.
Helena sustenta que quis explicar que não havia outra saída porque pelo visto, se não se transferisse, dificilmente se concentraria nos estudos. Mas Ester redarguiu dizendo que ela não precisava pensar que as meninas estudiosas valiam mais do que as vadias (que era o que as pessoas pensavam de Helena e das crianças que não se dedicavam mais aos estudos).
Os dois amigos insistiram para que ela almoçasse com eles. Durante a refeição repetiram várias vezes que ela não devia mudar o gênio e nem entrar para aquele colégio.
(...)
A insistência de Ramalho e Ester fez com que Helena pensasse seriamente em não ingressar no Colégio das Irmãs. Ester havia estudado naquele mesmo internato e era muito sua amiga. Sendo assim, não tinha motivos para enganá-la.
Por outro lado, Helena tinha convicção de que não mudaria o seu modo de ser mesmo mudando-se para a escola mais rigorosa. Ela mesma sentencia que “cada um é como nasce”. Apesar disso, sabia que podia ocorrer de perder o gosto por tudo o que valorizava na vida e acabar como as primas e Luisinha, que eram “tão chocas”.
(...)
Depois de todas essas reflexões, Helena resolveu não ingressar no Colégio das Irmãs. Mas não contou nada para a mãe.
Seguiram para o colégio. Helena combinou com dona Carolina que suas roupas iriam depois. As madres receberam as ingressantes e seus parentes no parlatório. Então Helena deixou que as primas e Luisinha entrassem primeiro, enquanto isso ela se esgueirou por uma porta lateral e saiu pela Rua da Glória.
A garota esperou os familiares na parte mais baixa da rua. Ela notou que o tio Conrado estava enfurecido com a sua atitude, mas nada falou. Tia Aurélia não escondeu o seu descontentamento e quis saber como ela pôde “fazer uma coisa dessas”.
Dona Carolina estava resignada e disse apenas que quem sairia perdendo era ela mesma. Certamente se arrependeria quando voltasse a ver Luisinha “muito estudiosa, com bom modo, muito santinha”. Que vantagem ela teria? Ao se recusar a ingressar no colégio interno permaneceria como sempre, “fazendo de rebeca de toda função”.
(...)
A atitude de Helena foi de rebeldia e de desobediência à mãe. Mas também revela o quanto desejava maior autonomia.
No final de seu registro, afirma que Ester a incentivara. Faria a matrícula no Segundo Ano da Escola Normal e estudaria para não fracassar como havia ocorrido no Primeiro Ano.
Será importante acompanharmos as próximas postagens para termos uma noção do modelo de ensino no Colégio das Irmãs. E também para sabermos como Luisinha se saiu como interna da instituição.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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