Helena explica que o seu pai ficou muito satisfeito com a posse de Prudente de Morais. Aliás, este era o sentimento geral da cidade, que ficou sabendo da notícia a partir de um telegrama. Todos festejaram como se se tratasse de evento do cotidiano provinciano.
Seu Alexandre disse que, à exceção dos “jacobinos”, ninguém mais aprovava o governo de Floriano Peixoto. A postagem anterior explica um pouco a respeito desses “jacobinos”.
(...)
Não havia como a menina entender como a posse de Prudente de Morais
pudesse resultar em benefícios para Diamantina. A este respeito, seu Alexandre
dizia que o governo era uma máquina muito bem organizada e, se o presidente
fosse bom na condução de um governo eficiente, o país inteiro se beneficiaria.
Assim os resultados positivos certamente chegariam à Diamantina.
Helena
era da opinião de que só acreditaria nas palavras de seu pai se o mandatário
ordenasse a canalização da água e se consertasse todo o calçamento. Seu Alexandre
tentou explicar que aquele tipo de benefício não era da responsabilidade do
presidente, que governava o país a partir da capital (Rio de Janeiro). E
emendou: a menos que ele (o presidente) fosse um “filho da terra”, como era o
caso do doutor Mata.
Seu Alexandre até deu
o exemplo do que o doutor Mata poderia fazer caso chegasse à presidência: “mandar
fazer uma estrada de ferro até Ouro Preto”.
(...)
Helena
finaliza os seus registros de 15 de novembro de 1894 garantindo que não
esperava que construíssem estrada de ferro em Diamantina, afinal não precisavam
desse tipo de coisa!
Sua opinião sempre
fora a de que “andar a cavalo é muito bom!”
(...)
Helena era uma boa
menina para a família. Em tudo contribuía para que os serviços de casa não
sobrecarregassem dona Carolina.
Em seus registros de
11 de outubro de 1893 podemos conhecer os afazeres aos quais se dedicava às
quartas-feiras, os dias em que ela mais se cansava.
Enquanto passava a
roupa, pensou sobre as dificuldades de acertar os babados de um de seus
vestidos. Não seria muito melhor se as mulheres continuassem a se vestir com as
peças de baeta (tecido de grosso algodão) como no passado?
Ela concordava que os ornamentos como os babados deixavam saias e
vestidos muito mais vistosos, mas aquilo tornava a sua tarefa mais difícil. Os
babados eram bobagem... Foi o que concluiu.
(...)
Desanimada, Helena decidiu não fazer mais nada durante aquela tarde.
A única coisa da qual não sentia preguiça era
escrever, e foi isso o que ela passou a fazer.
Ela lembrou que os
registros que fazia em seu diário eram incentivados pelo pai. Seu Alexandre era
quem lhe dizia que, escrevendo, podia “contar a história do tempo antigo para o
futuro”.
Helena se perguntava se no futuro poderia haver mais novidades ainda do
que aquelas de seu tempo. E é neste ponto que ela cita certo José Rabelo que não
se cansava de buscar um meio de inventar algo que permitisse aos humanos
voarem. Era por isso que ele vivia a capturar urubus e a pesá-los.
Em suas reflexões só podia considerar muito interessante aquela loucura
de capturar os urubus... Será que o tal José Rabelo conseguiria algo com suas
experiências?
De
tanto pensar, Helena passou a cogitar e achar muita graça de uma “mutação que transformasse
as pessoas em urubus”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_25.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto