sábado, 20 de maio de 2017

“A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, de Júlio Verne – da “Coleção eu Leio” – a espetacular apresentação dos “narizes compridos” prosseguiu; Passepartout teve de participar da base do “carro de Jagarnate; reencontrando o patrão; um acidente fenomenal; embarcando no navio americano

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_19.html antes de ler esta postagem:

Todas as apresentações foram muito bem executadas pelos ginastas e malabaristas. O público não se cansou de aplaudir as piruetas executadas com maestria nas escadas e com a utilização de diversos objetos (varas, bolas, barris...).
O que todos esperavam com ansiedade era o número especial dos “narizes compridos” em que se apresentavam como “arautos da Idade Média” dotados de asas. Não havia dúvida de que os europeus se encantariam com o grupo artístico que contava com a proteção do deus Tingu.
Os habilidosos atletas se apresentavam com longos narizes de bambu. Uns eram lisos, outros curvados ou com verrugas, mas o interessante é que variavam de 1,5 a 3 metros de comprimento!
O ornamento era tão bem colocado que podiam realizar várias manobras sobre ele. Uns doze ginastas se deitaram no picadeiro. Outros tantos deixaram-se cair sobre os seus narizes e realizaram manobras espetaculares. Perigosamente, mas também com muita habilidade, conseguiam desenvolver piruetas e equilibrismos.
O mais espantoso era a “pirâmide humana”, que exigia uns cinquenta ginastas. O caso era que não se apoiariam uns sobre os ombros dos outros. Em vez de pés nos ombros, apoiariam narizes contra narizes e formariam uma estrutura conhecida como “Carro de Jagarnate”. Só mesmo o deus Tingu para protegê-los!
(...)
Justamente para este número escolheram Passepartout para compor a base da “pirâmide”.
É que um dos artistas havia pedido afastamento da companhia. Batulcar e os mais experientes de sua trupe entenderam que o novato não teria problemas para se incorporar ao número. Todos viam que ele tinha força e vigor, além disso bastava manter-se reto e firme. Certamente ele não teria dificuldades.
Nem é preciso dizer que Passepartout entristeceu-se ao perceber-se com o traje medieval, asas multicoloridas às costas e o nariz de dois metros colocado no rosto. Nada podia fazer, pois aquilo fazia parte de seu projeto de viagem aos Estados Unidos... Era o seu ganha-pão.
(...)
O francês juntou-se aos demais colegas que formariam a base do “Carro de Jagarnate”. Este primeiro grupo posicionou-se estendido no chão. Todos mantinham os narizes para o alto.
Sobre este grupo, outros equilibristas se acomodaram. E depois outros tantos se seguiram uns sobre os outros... O ponto de apoio, como sabemos, eram os narizes.
E foi assim que um espetacular e harmonioso amontoado humano se formou... O êxtase tomou conta do público que não parou de aplaudir. A pirâmide já atingia o teto do ambiente quando a orquestra caprichou no fundo musical dramático.
Mas de repente todos notaram que o “monumento humano” começou a oscilar. Os equilibristas perderam estabilidade e aos poucos todos desmoronaram como se fossem cartas de baralho.
(...)
O que ninguém esperava ocorreu. A confusão se instalou sob a gigantesca lona. Houve muita correria porque, com a queda dos artistas de tão alto, havia risco de as pessoas do público também serem atingidas.
Ninguém menos do que Passepartout era o responsável pelo desastre. E tudo porque da posição em que estava pôde observar um conhecido no meio da plateia. O rapaz simplesmente abandonou o trabalho no momento em que os ginastas da parte superior contavam com a sustentação dos que estavam mais abaixo.
Ele saiu em disparada e saltou a rampa. Pendurou-se nos acessórios e atirou-se aos pés de ninguém menos do que Phileas Fogg, que estava com Aouda no meio do público.
Logicamente o inglês espantou-se ao reconhecer o criado. Passepartout disse que, sim, era ele mesmo que estava ali. Haviam se reencontrado!
No mesmo instante, sem entrar em maiores detalhes, Fogg ordenou que seguissem direto para o cais.
Logo que se retiraram da tenda depararam-se com o honorável Batulcar. O homem estava bem nervoso e vociferava contra o fujão ao mesmo tempo em que exigia uma indenização.
Sem perder tempo, Fogg jogou-lhe um maço de notas.
(...)
Às seis e meia da tarde, no momento mesmo da partida, os três chegaram ao navio americano.
Passepartout ainda levava as asas multicoloridas às costas e o enorme nariz no rosto.
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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