Vinte horas de atraso podiam comprometer a aposta de Phileas Fogg. Mas o homem não dava mostras de qualquer preocupação e agia como se tudo estivesse afim com as suas previsões.
Aouda falou-lhe a respeito do contratempo. Em nenhum instante ele demonstrou qualquer desassossego.
Pelo visto o mau tempo fazia bem a Fix. Seu ânimo mudou completamente, É bem verdade que se sentia enjoado devido aos baques da embarcação, mas passou a desejar que a tempestade não tivesse fim.
O policial sabia que ela prejudicava Fogg. Bem podia ocorrer de, por causa do atraso, ele ter de ficar por uns dias em Hong Kong. Talvez tempo suficiente para que toda a papelada referente à prisão chegasse às suas mãos.
Passepartout é que, como vimos, parecia sentir que a boa fase havia terminado e que a tempestade anunciava um lamentável desfecho. É incrível como sentia o drama como se o dinheiro da aposta tivesse de sair de seus bolsos.
(...)
O francês não se importava de manter-se na cobertura
enquanto os demais passageiros se protegiam nas cabines. De tudo fazia para
colaborar com a tripulação e se oferecia para ajudar nas mais diversas tarefas.
E tanto perguntava ao capitão, oficiais e marinheiros a respeito do melhor modo
de proceder que todos riam-se a valer de sua ansiedade.
Fix enchia-se de satisfação e de tudo fazia para esconder sua alegria.
De fato, isso era bem prudente de sua parte. Se Passepartout desconfiasse de
seu contentamento era bem capaz que partisse para uma agressão física.
(...)
Passepartout aprendeu que devia observar o barômetro e verificar se o
indicador de pressão subia.
Em sua simplicidade, agitava o aparelho com leves tapas e dizia
impropérios, mas nada ocorria.
Na segunda metade do dia 4 de novembro a tempestade cessou, “O vento deu
um pulo de dois quartos para o sul e voltou a soprar a favor”.
As velas de gávea e as
maiores foram içadas. Dessa forma o Rangoon retomou a plena velocidade. Todavia
não era possível recuperar todo o tempo que havia sido perdido.
Só às cinco da manhã de 6
de novembro é que a terra foi avistada. De acordo com a planilha de Phileas
Fogg deviam ter chegado a Hong Kong no dia anterior. Isso significava que o
embarque para Yokohama estava perdido.
Passapartout
desabafava a respeito de sua angústia com Fix... Justo com ele! O tipo o ouvia
com satisfação e fazendo manha dizia que Fogg poderia embarcar no próximo
navio.
O francês viu que o piloto subiu ao Rangoon para manobrá-lo até o porto.
Teve vontade de perguntar se ainda era possível conseguir bilhetes para
Yokohama naquele mesmo dia, mas não teve coragem. Além disso guardava uma ponta
de esperança e só admitia que ela se apagasse quando desembarcassem.
(...)
Quem não tinha problema
nenhum para interrogar o piloto era Phileas Fogg. Ao vê-lo foi logo querendo
saber quando sairia outro vapor para Yokohama. O tipo respondeu que estava
previsto para a manhã do dia seguinte, quando a maré estaria propícia.
Passepartout quase não conseguiu conter sua emoção.
Enquanto ele queria abraçar o piloto, Fix voltou a se decepcionar e sentiu
vontade de esganar o homem que trazia a “boa-nova” para seu suspeito.
Fogg quis saber o nome da embarcação e ouviu do piloto que ela se
chamava Carnatic. O inglês perguntou o que havia ocorrido, pois sabia que aquele
vapor devia ter deixado Hong Kong no dia anterior. O piloto explicou que uma
das caldeiras do Carnatic apresentara problema e por isso teve de adiar a sua
partida.
Fogg agradeceu a informação e se retirou para o salão
do Rangoon.
Dessa vez Passepartout não
conseguiu esconder sua satisfação e segurou vigorosamente a mão do piloto ao
mesmo tempo em que dizia que ele era ótimo.
Evidentemente o piloto não tinha a menor ideia do
motivo de ser cumprimentado tão efusivamente. Voltou à sua tarefa e conduziu o
Rangoon ao porto na mais completa segurança.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_89.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto