sábado, 6 de maio de 2017

“A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, de Júlio Verne – da “Coleção eu Leio” – os velhos chineses de amarelo; novo encontro com Fix e aquisição dos bilhetes para o Carnatic; outra boa notícia, o embarque foi antecipado para a noite; o desesperado policial convida Passepartout para um drink; considerações sobre o comércio de ópio e o degradante vício

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_89.html antes de ler esta postagem:

Passepartout caminhou em direção ao porto Victoria. Observou o movimento das ruas e os vários veículos usados pelas pessoas em suas idas e vindas. Chineses, japoneses e também muitos europeus caminhavam pelas calçadas.
Não havia o que estranhar. A sequência de cidades visitadas nas últimas semanas o levava a um sentimento de total interação. Por mais que se afastassem da Inglaterra, eram “cidades inglesas” que visitavam “ao redor do mundo”.
A partir do porto, Passepartout pôde contemplar inúmeras embarcações, grandes e pequenas, de passageiros, de guerra ou de transporte de mercadorias. Elas eram procedentes dos mais variados locais da Europa, da América e da Ásia.
Considerável contingente de velhos chineses, todos trajando amarelo, passou pelo criado de Phileas Fogg. A avançada idade dos caminhantes chamou-lhe a atenção. Depois, quando resolveu se barbear, ouviu do barbeiro chinês de inglês fluente que aqueles idosos contavam pelo menos oitenta anos cada um e que usavam o amarelo por ser a “cor imperial”, sem dúvida um privilégio reservado aos de avançada idade.
(...)
Passepartout saiu da barbearia sem entender bem o significado das informações sobre os velhos chineses que se vestiam de amarelo.
Encaminhou-se para o cais onde devia reservar as cabines do Carnatic. A certa distância notou a presença de Fix.
O policial tinha a fisionomia decepcionada. E não era para menos! Estava frustrado porque mais uma vez Fogg lhe escaparia. Amargurava saber que por um caprichoso detalhe seu suspeito conseguiria embarcar para Yokohama no dia seguinte.
Certamente o mandado de prisão estava a caminho, mas para que ele chegasse às suas mãos seria preciso “estacionar” por um tempo em Hong Kong.
Fix passeava enquanto pensava nesses infortúnios. Passepartout entendeu que aquele evidente desapontamento significava que “as coisas não se encaminhavam como os cavalheiros do Reform Club esperavam”.
O rapaz se aproximou e perguntou se ele estava disposto a embarcar no Carnatic. Obviamente indisposto, Fix respondeu entredentes que sim. Passepartout soltou uma gargalhada e exclamou que era momento de garantir lugar entre os passageiros.
Os dois seguiram para o escritório onde os bilhetes eram adquiridos. Eles reservaram quatro cabines e ouviram do funcionário que o Carnatic estava devidamente reparado e que partiria às oito da noite. Isso significava que anteciparam a saída da embarcação.
Passepartout agradeceu a informação, disse que ela agradaria ao patrão e anunciou que o avisaria a respeito de mais essa “boa-nova”.
(...)
Estava para se despedir de Fix quando o policial tomou a decisão de revelar-lhe tudo. Agarrou-se à única possibilidade de reter Fogg em “território inglês” por mais algum tempo.
Ao se retirarem do escritório, Fix convidou o companheiro para um drink em uma bodega que tinha a frente para o cais. Pelo menos a certa distância local era de aspecto agradável. Passepartout aceitou, pois não tinha pressa.
O estabelecimento possuía uma grande sala. Mais ao fundo haviam instalado uma grande cama com várias almofadas. A decoração local chamava a atenção de qualquer estrangeiro. Pode-se dizer que se tratava de ambiente que em tudo tinha a ver com uma boa bebida e conversa à toa.
Passepartout notou que sobre a cama havia uns vinte fregueses dormindo. As pequenas mesas do salão estavam repletas de bebedores. Bebia-se cervejas inglesas, gin e uísque. Além disso os frequentadores fumavam longos cachimbos feitos de barro repletos de bolinhas de ópio. A essência era de rosas...
Eventualmente um usuário atingia alto grau de entorpecimento e escorregava para debaixo das mesas. Funcionários da bodega carregavam os tipos inconscientes para a cama. Algo degradante, sem dúvida!

(...)

Verne explica que aquele ambiente era um dos resultados do lucrativo comércio de ópio encabeçado pela Inglaterra. O negócio movimentava duzentos e sessenta milhões de francos e produzia viciados que se acabavam no fumo. O que se via ali eram miseráveis magérrimos e idiotizados pela droga.
Inutilmente o governo imperial chinês elaborou leis para evitar que essa degradação ocorresse. Houve tempo em que o uso ópio era tolerado entre os mais ricos do país. Mas aconteceu que aos poucos o vício tornou-se acessível aos mais pobres. Homens e mulheres logo se viciavam após a primeira experiência. Inalavam e sentiam contrações no estômago. Algo paradoxo, mas desejavam cada vez mais aquele tipo de sensação.
Alguns viciados chegavam a fumar oito ou mais cachimbos por dia. Mas era certo que em cinco anos morriam por causa da intoxicação.
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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