Era ironicamente que Passepartout dizia que “um funcionário da Companhia Peninsular (como Fix havia se apresentado a ele) não conseguiria ficar na metade do caminho!”.
Para quem desembarcaria em Bombaim... Em breve aportariam na China... A América estava só um pouco adiante. E de lá para a Europa seria um pulo!
Ainda desconcertado, Fix se pôs a rir nervosamente. Evidentemente um se equivocava em relação ao outro.
O policial ficou ainda mais confuso depois que Passepartout perguntou-lhe se “ganhava um bom dinheiro” com o trabalho que vinha realizando.
Fix apressou-se a responder que “sim e não”. Emendou que “há bons negócios e maus negócios”. De modo vago explicou que os gastos com a viagem não saíam do próprio bolso.
Em pensamento, o francês alimentou ainda mais a sua convicção de que aquele tipo só podia estar a serviço dos apostadores do Reform Club. Riu do que tinha escutado e sentenciou que não duvidava das palavras de Fix.
(...)
A conversa foi encerrada e Fix dirigiu-se à sua cabine. Estava convicto
de que o criado de Fogg havia descoberto sua missão. Já que sua identidade
estava comprometida, teria de refletir sobre as consequências. Passepartout
teria contado ao patrão? O francês era cúmplice de Fogg?
Algumas horas de angústias de passaram. Fix começou a se desesperar com
a possibilidade do fracasso. Mas podia ocorrer de seu suspeito nada saber a
respeito das conclusões de seu criado. E isso o deixava esperançoso.
Depois de muito refletir, o policial decidiu que devia se abrir com Passepartout.
Entendeu que isso se faria necessário a partir do momento em que Fogg estivesse
prestes a escapar em Hong Kong, pois essa situação significaria perdê-lo de “território
inglês de uma vez por todas”.
Se o francês não era cúmplice de Fogg, certamente se interessaria em
livrar-se de problemas com a Justiça e o abandonaria.
(...)
Fix estava preocupado...
Passepartout convencia-se
cada vez mais de que os apostadores do Reform Club eram os responsáveis pela
perseguição implacável do “misterioso agente”.
Fogg não imaginava
que ao seu redor houvesse tantos raciocínios que se relacionavam à sua
empreitada. Permanecia indiferente a tudo, inclusive aos encantos da jovem
Aouda.
Passepartout notou o modo como o patrão se comportava. O rapaz
espantava-se ao concluir que o coração do inglês parecia funcionar apenas para
impulsioná-lo aos atos heroicos e às gentilezas. Ao que tudo indicava, o patrão
não era do tipo sentimental, que se deixa dominar pelo amor.
(...)
Certa vez, quando estava
próximo da sala de máquinas, Passepartout pôs-se a reclamar e a dar palpites.
Disse que as válvulas não estavam suficientemente carregadas de modo que
pudessem gerar velocidade ao navio. Observou que “aquilo só podia ser coisa de
ingleses” e que, se o navio fosse americano, ainda que afetasse o conforto dos
passageiros, venceria com mais facilidade as milhas que restavam até Hong Kong.
(...)
Entre 3 e 4 de novembro a situação tornou-se séria. O
panorama não era nem um pouco satisfatório para quem desejasse maior
velocidade.
O tempo piorou muito e para complicar ainda mais, a ventania passou a
ser de noroeste, o que prejudicava a marcha do Rangoon. Por questão de
segurança, a potência dos motores deixou de ser empregada a todo vapor. O navio
passou a avançar diagonalmente e, de acordo com Verne, suas hélices davam
apenas dez voltas (sem maiores detalhes).
Calculava-se que a chegada
a Hong Kong ocorreria com um atraso de 20 horas. E isso se a tempestade diminuísse!
Apesar das previsões pessimistas, e da possibilidade de perder a embarcação
para Yokohama, Phileas Fogg não demonstrava preocupação, nervosismo ou tédio.
A jovem Aouda podia se aproximar dele com
frequência e fazer os seus rotineiros comentários. O inglês mantinha a mesma
tranquilidade desde que fora por ele resgatada.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_62.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto