domingo, 21 de maio de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – considerações sobre crises políticas do início da República no Brasil durante os governos Deodoro e Floriano; insatisfações da Armada sob liderança de Custódio de Melo; algumas referências à Revolução Federalista; registros de 1º de março de 1894, as eleições para presidente; sobre o conselheiro João da Mata, sobrinho do tio Joãozinho e orgulho para o povo de Diamantina

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_10.html antes de ler esta postagem:

O panorama político de início da República no Brasil não era dos melhores.
O marechal Deodoro da Fonseca, que liderou o exército na proclamação que colocou fim à Monarquia (15/novembro de 1889), liderou o governo provisório e tornou-se o primeiro presidente constitucional, com a aprovação da Constituição de 1891.
Uma grave crise econômica e também o autoritarismo de Fonseca aprofundaram rusgas políticas entre ele e seus opositores (congressistas ligados ao setor agrário-exportador, monarquistas e oficiais da marinha).
Poucos meses depois de promulgada a Constituição, Deodoro determinou o fechamento do Congresso. Em reação a este desrespeito à Lei, o almirante Custódio de Melo liderou uma sublevação da marinha contra o presidente, ameaçando bombardear a capital com farta munição da Armada de Guerra posicionada na Baia da Guanabara.
Deodoro renunciou à presidência, sendo substituído pelo vice-presidente (também marechal do exército) Floriano Peixoto. Todavia, no caso de vacância da presidência antes de completados dois anos de mandato, a Constituição previa novas eleições.
(...)
Não demorou e Floriano Peixoto também se mostrou autoritário e repressor. De modo algum admitia a convocação de eleições. Ordenou a prisão de seus opositores. Como consequência, principalmente no sul do país, grupos federalistas se rebelaram contra o presidente.
Em setembro de 1893, novamente altos oficiais da marinha (e entre eles Custódio de Melo) se manifestaram politicamente. Dessa vez exigiam a convocação dos eleitores para que um novo governo fosse eleito.
Floriano não admitiu a rebelião. Houve combates marcados por disparos de canhões da armada contra as posições do exército em terra firme. Por sua vez, as tropas governistas disparavam desde suas fortificações contra a armada liderada por Custódio de Melo.
Para o nosso intento, basta que consideremos que o conflito (que teve duração de seis meses) foi sangrento e que Floriano passou a ser conhecido como “Marechal de Ferro” pelo modo implacável como perseguiu seus inimigos na marinha e os que se rebelaram na Revolução Federalista no sul do país (que se estendeu até 1895).

(...)

Essa introdução toda foi para dar algum embasamento aos registros de Helena Morley em seu diário na data de 1º de março de 1894.
Era dia de eleições presidenciais. Mas é bom que se saiba que nos estados do sul do país (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) elas não ocorreram devido à “Revolução Federalista” que, como vimos, se desenrolava desde o ano anterior.
Helena conta que o seu Alexandre havia chegado da Boa Vista com o tio Joãozinho para votar (para o presidente que sucederia Floriano e também para um representante para a Câmara dos Deputados). Ela não entra em detalhes, mas os principais candidatos eram Prudente de Morais e Afonso Pena.
O candidato a deputado de seu Alexandre e do tio Joãozinho era o doutor João da Mata (Conselheiro João da Mata Machado) que, de acordo com a nota do livro, havia sido “Ministro de Estrangeiros na Monarquia e era presidente da Câmara dos Deputados por ocasião da Revolta de 1893, tendo sido preso por Floriano Peixoto”.
(...)
Política era assunto que todos na casa de Helena se envolviam. E isso acontecia por causa da influência de tia Aurélia e do tio Conrado, que era tio do doutor João da Mata. Os dois eram muito amigos e a amizade se estendia a toda família.
Em Diamantina a população via o doutor João como um bom homem. E Helena compartilhava dessa opinião. Era uma honra para a cidade tê-lo como representante político na capital federal. Na época em que Floriano Peixoto havia ordenado a sua prisão, todos em Diamantina “ficaram com muita raiva”.
Seu Alexandre, pai de Helena, dizia-lhe que esperava que o doutor João ainda se elegesse presidente do estado e depois da República.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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