O panorama político de início da República no Brasil não era dos melhores.
O marechal Deodoro da Fonseca, que liderou o exército na proclamação que colocou fim à Monarquia (15/novembro de 1889), liderou o governo provisório e tornou-se o primeiro presidente constitucional, com a aprovação da Constituição de 1891.
Uma grave crise econômica e também o autoritarismo de Fonseca aprofundaram rusgas políticas entre ele e seus opositores (congressistas ligados ao setor agrário-exportador, monarquistas e oficiais da marinha).
Poucos meses depois de promulgada a Constituição, Deodoro determinou o fechamento do Congresso. Em reação a este desrespeito à Lei, o almirante Custódio de Melo liderou uma sublevação da marinha contra o presidente, ameaçando bombardear a capital com farta munição da Armada de Guerra posicionada na Baia da Guanabara.
Deodoro renunciou à presidência, sendo substituído pelo vice-presidente (também marechal do exército) Floriano Peixoto. Todavia, no caso de vacância da presidência antes de completados dois anos de mandato, a Constituição previa novas eleições.
(...)
Não
demorou e Floriano Peixoto também se mostrou autoritário e repressor. De modo
algum admitia a convocação de eleições. Ordenou a prisão de seus opositores. Como
consequência, principalmente no sul do país, grupos federalistas se rebelaram
contra o presidente.
Em setembro de 1893,
novamente altos oficiais da marinha (e entre eles Custódio de Melo) se
manifestaram politicamente. Dessa vez exigiam a convocação dos eleitores para
que um novo governo fosse eleito.
Floriano não admitiu
a rebelião. Houve combates marcados por disparos de canhões da armada contra as
posições do exército em terra firme. Por sua vez, as tropas governistas
disparavam desde suas fortificações contra a armada liderada por Custódio de
Melo.
Para
o nosso intento, basta que consideremos que o conflito (que teve duração de
seis meses) foi sangrento e que Floriano passou a ser conhecido como “Marechal
de Ferro” pelo modo implacável como perseguiu seus inimigos na marinha e os que
se rebelaram na Revolução Federalista no sul do país (que se estendeu até 1895).
(...)
Essa introdução toda foi
para dar algum embasamento aos registros de Helena Morley em seu diário na data
de 1º de março de 1894.
Era dia de eleições
presidenciais. Mas é bom que se saiba que nos estados do sul do país (Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul) elas não ocorreram devido à “Revolução Federalista”
que, como vimos, se desenrolava desde o ano anterior.
Helena conta que o seu Alexandre havia chegado da Boa Vista com o tio
Joãozinho para votar (para o presidente que sucederia Floriano e também para um
representante para a Câmara dos Deputados). Ela não entra em detalhes, mas os principais
candidatos eram Prudente de Morais e Afonso Pena.
O candidato a deputado de seu Alexandre e do tio Joãozinho era o doutor
João da Mata (Conselheiro João da Mata Machado) que, de acordo com a nota do
livro, havia sido “Ministro de Estrangeiros na Monarquia e era presidente da
Câmara dos Deputados por ocasião da Revolta de 1893, tendo sido preso por
Floriano Peixoto”.
(...)
Política era assunto que todos na casa de Helena
se envolviam. E isso acontecia por causa da influência de tia Aurélia e do tio
Conrado, que era tio do doutor João da Mata. Os dois eram muito amigos e a
amizade se estendia a toda família.
Em Diamantina a
população via o doutor João como um bom homem. E Helena compartilhava dessa
opinião. Era uma honra para a cidade tê-lo como representante político na
capital federal. Na época em que Floriano Peixoto havia ordenado a sua prisão,
todos em Diamantina “ficaram com muita raiva”.
Seu
Alexandre, pai de Helena, dizia-lhe que esperava que o doutor João ainda se
elegesse presidente do estado e depois da República.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_15.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto