quinta-feira, 25 de maio de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 11 de outubro de 1893; as referências de Helena sobre o passado na Lomba; o melhor é ir tocando a vida com os “babados que temos de resolver”; registros de 28 de junho de 1894; reunião no rancho de tio Joãozinho; mato alto, muitas cobras

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_24.html antes de ler esta postagem:

Enquanto “não inventassem nada que possibilitasse voo às pessoas”, Helena considerava que talvez fosse melhor viverem como antigamente... Era demais ter de passar aqueles babados de vestido!
Em tudo a vida do passado devia ser bem melhor. “Saias de algodão ou de baeta” e muita simplicidade...
Esse “saudosismo” da garota por uma época que sequer havia vivenciado se baseava  nas narrativas ouvidas de dona Teodora. A simplicidade dos tempos na Lomba a atraíam.
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Helena conta que a vida era simples, mas ninguém passava qualquer tipo de necessidade. Se fosse preciso escrever algo era só extrair “uma pena da asa do pato” e preparar um bico em sua ponta... Vestido para andar na roça? Também não era problema porque havia algodão em abundância e era só pegar quantidade suficiente, descaroçar, passar na cardadeira, fiar... Depois as escravas teciam o pano no tear.
Como não havia máquina de costura, os panos eram cosidos à mão... Sem fósforos, os ranchos tinham de manter uma fogueira avivada por todo o tempo. Se ela se apagava, juntavam algodão e disparavam um tiro para queimá-lo. Sim, a espingarda também era utilizada para matar.
Ao se lembrar deste detalhe, Helena explica que, apesar da vida pacata, alguns praticavam maldades.
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No final de seus registros, a menina volta a refletir sobre os babados do vestido que estava dando trabalho para ser passado... Será que os tempos antigos haviam sido mesmo de “menos esforços”? Pode ser, mas malvadezas sempre ocorreram. Então sentenciou que era uma bobagem pretender “viver naqueles tempos passados”.
Ainda sobre “babado”, Helena cita o modo como a sua avó falava “em código” à Chiquinha sempre que inesperadamente apareciam muitas filhas para jantar... Dona Teodora perguntava sobre como ela se arranjaria  com “tanto franzido no babado”... Quando Chiquinha respondia que já havia “desfranzido”, era porque a filha já tinha mandado colocar “mais água e couve no feijão”.

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Os registros de 28 de junho de 1894 foram reservados para destacar a reunião de tias e primos no novo rancho que o tio Joãozinho estava organizando na Boa Vista. Ele fazia aniversário no dia de São João (24 de junho, que havia caído num domingo) e por isso todos o visitavam.
Como tudo era muito recente, a instalação era também bem precária. O tio mandou cobrir dois quartos com capim para que os familiares se instalassem.
Tudo estava sendo feito na base da improvisação... O rancho estava completamente aberto, pois nem mesmo as portas tinham sido instaladas. O mato estava alto e talvez por isso cobras eram avistadas com certa frequência.
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O relato nos dá a entender que havia o “rancho velho” que tinha dois quartos. O maior era utilizado pelo pai e pelo tio de Helena. O menor ficava para Siá Etelvina, que cozinhava para os dois.
Siá Etelvina não escondia seu descontentamento nessas ocasiões de reuniões da família porque seu trabalho dobrava. Por mais que ela preparasse pratos para as tias e os primos, nunca ficavam totalmente satisfeitos.
Zulmira, uma das que chegaram com uma das tias, surrupiou uma lata de sardinha que o tio Joãozinho escondia no madeiramento do forro. Helena achou graça e evidentemente não deixou de aproveitar do petisco.
Ela garante que as crianças se divertiam muito, mas Etelvina as “deixava na mão”. Como o próprio tio Joãozinho providenciava algo nas panelas, não chegavam a passar fome.
Umas tábuas na sala do rancho novo serviram de cama para os meninos. As meninas dormiram todas juntas com as tias num dos quartos.
(...)
O rancho ficou muito bem localizado junto às gabirobeiras. Tudo muito agradável.
Helena explica que neste mesmo 28 de junho todos se acomodaram nas tábuas em frente da porta de entrada... Ester sentou-se num cupinzeiro e a conversa seguiu fácil.
Seu Alexandre, o pai de Helena, havia se colocado diante de Ester. De repente, sem nada dizer, ele encaminhou-se vagarosamente na direção do cupinzeiro. Todos notaram, mas ninguém ousou perguntar.
Ele viu que uma perigosa jararaca se aproximava da garota. Sendo um tipo dos mais calmos, seu Alexandre golpeou bem na cabeça do bicho com a sua “manguara de três-folhas” (um bastão).
Foi por pouco... A cobra estava armando o bote para cima da pobrezinha!
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_26.html
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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