quarta-feira, 10 de maio de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 7 e 12 de março de 1895; Beatriz e Hortênsia aos poucos se adaptaram ao colégio das madres; dona Carolina retirou Luisinha para uma consulta médica e a menina não retornou ao internato; apelidos em casa e na escola; os de Helena mudavam constantemente

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_8.html antes de ler esta postagem:

No dia 7 de março de 1895, novamente uma quinta-feira, Helena e dona Carolina foram visitar Luisinha no Colégio das Irmãs. Fazia um mês que ela estava no regime de internato.
A visita era sempre depois do almoço. Então, bem cedinho, dona Carolina fez umas rosquinhas para levar para a pobrezinha que muito se queixava da rigidez da instituição.
Antes de seguirem para o colégio, as duas passaram na casa de tia Aurélia, onde se juntaram a ela e ao tio Conrado, que também não deixavam de visitar Beatriz e Hortênsia.
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Helena conta que suas duas primas já estavam se acostumando com o Colégio. Ela esperava mesmo que isso ocorresse porque desde pequenas sempre foram criados mais fechadas em casa.
Mais uma vez Luisinha queixou-se da vida junto às madres. Dessa vez reclamou muito de dores no estômago. Tanto Helena quanto a mãe acharam que ela estava bem mais magra.
Foi Helena que insistiu para que dona Carolina levasse a pequena para uma consulta com o doutor Teles. A madre superiora implicou e disse que o médico as visitava regularmente para tratar da saúde das demais internas.
Dona Carolina ouviu uma série de advertências, mas mesmo assim insistiu em retirar Luisinha para a consulta médica.
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Helena explica que continuou a pedir à mãe para que não devolvesse Luisinha ao Colégio das Irmãs. Dona Carolina respondeu que conversaria com o marido para que uma decisão mais sensata fosse tomada.
A própria Helena garantiu que solicitaria ao pai que mantivesse a irmã fora daquele colégio. Ela tinha certeza de que seu Alexandre concordaria, principalmente porque Luisinha era “muito sossegada” e não era “saideira” como ela mesma.
Nesse registro Helena não apresenta a conclusão do episódio, mas é bom que se saiba que a família retirou a pequena Luisinha do internato. Outro argumento que ela certamente usou com o pai foi o de que aquele tipo de escola era para as meninas que não tinham família na cidade e, por virem “de fora”, não tinham onde ficar.
Luisinha havia lhe dito que “nem amarrada” voltaria à escola das irmãs. Estava decidida a retornar para a Escola Normal e, se não aceitassem sua rematrícula, poderia assistir às aulas como ouvinte.

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Em seus registros de 12 de março, Helena tratou dos apelidos da garotada e daqueles que davam a ela em particular.
Em casa os irmãos tinham “apelidos fixos”. Mas viviam mudando os que davam a ela. A mesma coisa acontecia na escola.
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Quando ela era mais criança, os irmãos a chamavam de “Ovo de Tico-Tico”. Este apelido era por causa de suas sardas. Conforme o tempo passou e ficou mais alta, Helena passou a ser chamada de “Frutuosa Pau de Sebo”, que era como a vizinhança chamava a uma mulher da região, “comprida e amarela”. Depois começaram a chamá-la de “Aninha de Bronze”, numa referência a outra mulher da cidade conhecida por ser briguenta.
De fato, Helena andava discutindo com seu irmão Renato porque não aceitava suas piadinhas e nem que ele ditasse o que ela devia fazer.
Os apelidos dos irmãos de Helena não mudavam. Renato era chamado de “Gato” (que não se pense que isso era lisonja); Nhonhô de “Peru”; Luisinha era a “Pamonha”.
Helena observa que não via esse tipo de tratamento nas outras famílias. Ela sabia que na casa de tia Aurélia os filhos até eram castigados quando começavam a querer chamar uns aos outros por apelidos.
Ela era da opinião que aquele tipo de repreenda só servia para piorar as coisas. Helena e os irmãos dificilmente se agrediam fisicamente quando tinham desavenças entre si. Bastava um chamar ao outro pelo apelido e já “se sentiam vingados”.
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Helena cita também seus apelidos na escola.
No começo a chamavam de “Galinha de Postura Caída” por causa de seu primeiro uniforme. É que as crianças notavam que a saia que ela usava era curta na parte da frente e comprida atrás.
Depois de algum tempo passaram a chamá-la de “Relâmpago”, e tudo porque a viram numa tremenda carreira durante uma chuvarada. Evidentemente Helena corria para se proteger e não se molhar.
Este apelido foi trocado pelo de “Tempestade” depois que ela discutiu com o professor de Aritmética, seu Emídio.
O pai de Helena, seu Alexandre, se divertia com esses nomes todos e dizia que “Tempestade” caia-lhe muito bem.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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