No dia 7 de março de 1895, novamente uma quinta-feira, Helena e dona Carolina foram visitar Luisinha no Colégio das Irmãs. Fazia um mês que ela estava no regime de internato.
A visita era sempre depois do almoço. Então, bem cedinho, dona Carolina fez umas rosquinhas para levar para a pobrezinha que muito se queixava da rigidez da instituição.
Antes de seguirem para o colégio, as duas passaram na casa de tia Aurélia, onde se juntaram a ela e ao tio Conrado, que também não deixavam de visitar Beatriz e Hortênsia.
(...)
Helena conta que suas duas primas já estavam se
acostumando com o Colégio. Ela esperava mesmo que isso ocorresse porque desde
pequenas sempre foram criados mais fechadas em casa.
Mais uma vez Luisinha queixou-se da vida junto às madres. Dessa vez
reclamou muito de dores no estômago. Tanto Helena quanto a mãe acharam que ela
estava bem mais magra.
Foi Helena que insistiu para que dona Carolina levasse
a pequena para uma consulta com o doutor Teles. A madre superiora implicou e
disse que o médico as visitava regularmente para tratar da saúde das demais
internas.
Dona Carolina ouviu uma série de advertências, mas mesmo assim insistiu
em retirar Luisinha para a consulta médica.
(...)
Helena explica que continuou a pedir à mãe para que não devolvesse
Luisinha ao Colégio das Irmãs. Dona Carolina respondeu que conversaria com o
marido para que uma decisão mais sensata fosse tomada.
A própria Helena garantiu que solicitaria ao pai que mantivesse a irmã
fora daquele colégio. Ela tinha certeza de que seu Alexandre concordaria,
principalmente porque Luisinha era “muito sossegada” e não era “saideira” como
ela mesma.
Nesse registro Helena não apresenta a conclusão do episódio, mas é bom
que se saiba que a família retirou a pequena Luisinha do internato. Outro
argumento que ela certamente usou com o pai foi o de que aquele tipo de escola
era para as meninas que não tinham família na cidade e, por virem “de fora”,
não tinham onde ficar.
Luisinha havia lhe dito que
“nem amarrada” voltaria à escola das irmãs. Estava decidida a retornar para a
Escola Normal e, se não aceitassem sua rematrícula, poderia assistir às aulas
como ouvinte.
(...)
Em seus registros de 12 de
março, Helena tratou dos apelidos da garotada e daqueles que davam a ela em
particular.
Em casa os irmãos
tinham “apelidos fixos”. Mas viviam mudando os que davam a ela. A mesma coisa
acontecia na escola.
(...)
Quando ela era mais criança, os irmãos a chamavam de “Ovo de Tico-Tico”.
Este apelido era por causa de suas sardas. Conforme o tempo passou e ficou mais
alta, Helena passou a ser chamada de “Frutuosa Pau de Sebo”, que era como a
vizinhança chamava a uma mulher da região, “comprida e amarela”. Depois começaram
a chamá-la de “Aninha de Bronze”, numa referência a outra mulher da cidade
conhecida por ser briguenta.
De fato, Helena andava
discutindo com seu irmão Renato porque não aceitava suas piadinhas e nem que
ele ditasse o que ela devia fazer.
Os apelidos dos irmãos de Helena não mudavam. Renato
era chamado de “Gato” (que não se pense que isso era lisonja); Nhonhô de
“Peru”; Luisinha era a “Pamonha”.
Helena observa que não via esse tipo de tratamento nas outras famílias.
Ela sabia que na casa de tia Aurélia os filhos até eram castigados quando
começavam a querer chamar uns aos outros por apelidos.
Ela era da opinião que aquele tipo de repreenda só
servia para piorar as coisas. Helena e os irmãos dificilmente se agrediam
fisicamente quando tinham desavenças entre si. Bastava um chamar ao outro pelo
apelido e já “se sentiam vingados”.
(...)
Helena cita também seus apelidos na escola.
No começo a chamavam de “Galinha de Postura Caída” por causa de seu
primeiro uniforme. É que as crianças notavam que a saia que ela usava era curta
na parte da frente e comprida atrás.
Depois de algum tempo passaram a chamá-la de “Relâmpago”, e tudo porque
a viram numa tremenda carreira durante uma chuvarada. Evidentemente Helena
corria para se proteger e não se molhar.
Este apelido foi trocado
pelo de “Tempestade” depois que ela discutiu com o professor de Aritmética, seu
Emídio.
O pai de Helena, seu Alexandre, se divertia com
esses nomes todos e dizia que “Tempestade” caia-lhe muito bem.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_21.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto