O Rangoon navegou o litoral de Annam e da Cochinchina.
As ondas passaram a não favorecer qualquer expectativa de conforto por parte dos passageiros. Elas estavam “curtas” e isso resultava em baques que desanimavam até os mais pacientes. À exceção de Phileas Fogg, todos passaram a apresentar fisionomias muito cansadas.
(...)
Muitos viajantes enjoaram e
reclamaram que sua fadiga se devia mais às condições do navio do que as
agitações marítimas.
As embarcações da Companhia Peninsular tinham mesmo um
defeito em sua construção (elas apresentavam cálculos mal feitos da “relação
entre o calado e o vão”). Isso gerava instabilidade!
Verne cita o Impératrice e o Cambodge, navios das Messageries
Françaises, bem superiores aos da Companhia Peninsular. Além do Rangoon, o
Corea também apresentava problemas quando saia transportando o equivalente a
1/6 de seu peso.
(...)
Passepartout via que a tripulação não conseguia
resolver a contento as dificuldades impostas pelas condições de navegação.
Perdia-se muito tempo com a instalação das velas, e ele notava que o vapor
produzido parecia não ser suficiente para vencer as milhas que restavam até Hong
Kong.
Diferentemente de Phileas Fogg, o criado agitava-se em impropérios “contra
o capitão, o maquinista e a Companhia”. Ele entendia que aquele transtorno só
podia ser explicado pela lotação de passageiros que impunham ao Rangoon.
Afinal, por que tinham de transportar tantos mais passageiros?
Ele se preocupava com o objetivo que Fogg pretendia alcançar. Mas somos
tentados a imaginar que ele também se preocupava com o desperdício do gás que
queimava à toa no número 7 da Saville Row.
(...)
Fix notou que o francês não escondia a sua pressa em chegar logo a Hong
Kong. Aproximou-se e perguntou-lhe a respeito. Quis saber se o patrão estava
ansioso para embarcar para Yokohama.
Passepartout não só confirmou como admitiu que Fogg estava “tremendamente
ansioso”. O policial perguntou-lhe se também ele passara a crer na tal “viagem
ao redor do mundo”.
O rapaz respondeu que acreditava
completamente na aposta e perguntou se o seu interlocutor era da mesma opinião.
Fix disse que não acreditava naquela história. Então, no mesmo instante, Passepartout
piscou o olho e soltou um “Fingido!”.
O criado deu a entender que
o misterioso companheiro de tantas milhas participava de alguma farsa. Ao
ouvi-lo, Fix pôs-se a pensar.
Será que o ingênuo
rapaz desconfiava de sua identidade?
Teria adivinhado quais eram os seus propósitos?
Fix não acreditava. Isso
não podia estar acontecendo!
(...)
Nós sabemos que a ideia de Passepartout a respeito de
Fix nada tinha a ver com a realidade. Fix temia que o outro tivesse descoberto o
seu ofício de detetive policial e a sua suspeita em relação a Phileas Fogg, que
ele tinha por assaltante do Bank of England.
(...)
Passepartout não demorou a
tirar a dúvida que atormentava Fix.
Os dois se reencontraram algum tempo depois e o francês perguntou se, ao
chegarem a Hong Kong, conheceriam a “desgraça” de se separarem.
O policial se espantou com a indagação e atrapalhou-se
ao tentar dar uma resposta...
Passepartout o interrompeu
e afirmou de modo provocativo que seria uma grande alegria contar com a companhia
de Fix no prosseguimento da viagem.
Na próxima postagem conheceremos a continuação
deste diálogo que resultaria em esclarecedor ou traria mais confusão aos
pensamentos do policial.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_5.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto