sábado, 6 de maio de 2017

“A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, de Júlio Verne – da “Coleção eu Leio” – Fix revela sua verdadeira identidade; explicações sobre os motivos da perseguição policial e novo pedido de colaboração; embriaguez, inconformismo e fidelidade a Fogg; Passepartout nocauteado pelo ópio

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_34.html antes de ler esta postagem:

O criado nem notava que estava se embriagando com o conhaque que o outro lhe servia sem parar. Disse que então haviam armado uma armadilha para Phileas Fogg. Já alterado pela bebida, pôs-se a fazer um discurso a uma audiência imaginária formada por cavalheiros do Reform Club. Achavam que era correto colocar um homem honesto como Phileas Fogg numa armadilha?
Neste momento Fix percebeu que havia algo de confuso na interpretação do rapaz e perguntou-lhe a respeito. Afinal com quem ele pensava que estava conversando?
Passepartout não titubeou ao responder que Fix era um agente que representava os apostadores do Reform Club. Para ele estava claro que sua missão era “controlar e atrapalhar o roteiro de seu patrão”. Sem dúvida algo humilhante! Acrescentou essas palavras e emendou que não tinha dito nada a Fogg sobre o que havia descoberto.
Fix pediu que o francês confirmasse que, de fato, seu patrão de nada sabia. Passepartout esvaziou o copo e repetiu que nada contara ao patrão. Mais uma vez o policial sentiu que precisava refletir melhor sobre seus próximos passos. Entendeu que o moço havia se enganado ao seu respeito e que ele parecia ser sincero. Pelo visto não era cúmplice de Fogg.
(...)
Sem perder tempo, Fix olhou nos olhos de Passepartout e disse que não era um agente nos moldes como ele imaginava e nada tinha a ver com o Reform Club. Depois confessou que na verdade se tratava de um inspetor de polícia. Logo após apresentou a sua identificação.
Passepartout ouvia o que o outro lhe dizia, mas em nenhum momento deu-lhe crédito. A cada copo ingerido sua consciência tornava-se mais turva. Fix mostrava-lhe a identificação e ao mesmo tempo dizia que aquela história de aposta era apenas um pretexto de Fogg para escapar da polícia com a dinheirama.
O tipo disse ainda que, inconscientemente, Passepartout tornava-se seu cúmplice. Este não concordava e perguntava por que o patrão faria aquilo. Foi então que Fix explicou o caso do roubo ao Bank of England no dia 28 de setembro. Nada menos do que cinquenta e cinco mil libras haviam sido subtraídas da instituição. A descrição do suspeito em tudo combinava com a de Phileas Fogg.
Passepartout não admitia tantas ofensas ao honrado patrão. É por isso que esmurrou a mesa ao mesmo tempo em que vociferou que Fogg era o homem mais honesto do mundo.
Fix perguntou como é que ele podia saber se nem o conhecia direito. Argumentou que Passepartout começou a trabalhar para o patrão no dia em que surpreendentemente ele o envolveu naquela viagem maluca, sem nenhuma bagagem! Levavam apenas uma bolsa com grande soma em dinheiro! Aquela história de aposta simplesmente não colava. Não havia como sustentar que se tratasse de um homem honesto. Passepartout tinha de admitir. Será que ele queria ser preso como cúmplice do roubo milionário?
O francês já não conseguia encarar o policial. Passou a falar sem muita clareza que seu patrão era um homem honesto. Era um homem valente e generoso que se arriscara ao salvar a jovem Aouda! Aquelas acusações não faziam o menor sentido! Dizia essas coisas como quem pretende afastar uma suspeita que ameaçava sua consciência.
Por fim, Passepartout perguntou a Fix o que ele queria de sua parte. O policial explicou que tivera de seguir Fogg até ali porque ainda não recebera o mandado de prisão. Não podia deixá-lo partir de Hong Kong, então queria que o ajudasse a retê-lo na cidade. Se ele colaborasse teria parte da gratificação prometida pelo Bank of England.
Passepartout conseguiu dizer que jamais colaboraria. Pretendeu levantar-se, mas caiu novamente na cadeira. Estava completamente bêbado e sem condições de dar dois passos em linha reta. Novamente sentado, esforçou-se ao dirigir-se mais uma vez ao Fix. Declarou que mesmo que tudo o que havia sido dito contra Fogg fosse verdade, e com isso ele não concordava de nenhum modo, jamais agiria contra ele. Pois era seu criado fiel e via-o como “bom e generoso”. Em hipótese alguma o trairia. Não havia dinheiro ou ouro que o fizesse mudar de opinião.
O policial quis saber se, de fato, o rapaz se recusava a colaborar. Passepartout confirmou que se recusava.
(...)
Então Fix sugeriu esquecerem o que tinham conversado e bebessem um pouco mais. E para finalizar o seu plano de separar patrão e criado, puxou um dos cachimbos com ópio e colocou-o próximo à mão do rapaz.
Passepartout deu algumas baforadas... Foi o suficiente para tombar a cabeça sobre a mesa.
Fix pagou a conta e retirou-se da bodega. Carregava consigo a certeza de que Fogg não seria avisado da partida antecipada do Carnatic. Pelo menos conseguira separar os dois.
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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