sexta-feira, 26 de maio de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 17 de fevereiro de 1895; de expectativas negativas para o início do ano letivo; Renato e outros estorvos para os estudos regulares em casa; na turma das “vadias da escola”; o professor Sebastião e sua insistência com a produção textual das pupilas; registros de 23 de fevereiro de 1895; Zinha, aparência desleixada e agressividade no trato com as colegas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_25.html antes de ler esta postagem:

Vimos que no final de 1893 Helena conheceu o fracasso escolar ao ser reprovada em seu primeiro ano da Escola Normalista.
Frequentou novamente a turma de primeiro ano em 1894 e dessa vez obteve êxito (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_7.html).
Seus registros de 17 de fevereiro de 1895 dão conta de que as aulas do segundo ano teriam início no dia seguinte. Sua expectativa não era das melhores.
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Helena tinha convicção a respeito de sua capacidade intelectual. Sabia que era inteligente e se entristecia ao notar que muitos a tinham por “burra”.
Ela sabia que em casa enfrentava muitas dificuldades para manter concentração nos estudos. Dona Carolina comprava livros para ela e Renato, mas o garoto não era nada disciplinado e por isso os dois terminavam brigando...
Acontecia sempre que ela abria um livro... Renato a incomodava dizendo que aquele era precisamente o que pretendia ler. Nem havia motivos para desentendimentos, mas ele implicava e a desavença tinha início.
Helena sabia que não era justo colocar toda a culpa pelas dificuldades de estudo em Renato e seu comportamento. Ela reconhecia que, além disso, os afazeres de casa também a atrapalhavam. E havia mais! Todos os dias visitava a chácara da avó! Obviamente restava-lhe bem pouco tempo para estudar.
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A opinião de seu Alexandre era a de que a filha devia prestar mais atenção às aulas... Certamente ela aprenderia.
Helena também não tinha certeza disso. Em seu diário afirmava que a “infelicidade” a levara a conviver com as “mais vadias da escola”.
Por “vadias da escola” devemos entender o grupo de meninas que não se sentavam nas primeiras carteiras da sala e não prestavam atenção ao que era ensinado. Esse grupo já tinha essa fama desde o primeiro ano, então não seria fácil livrar-se dela.
Helena gostava tanto da escola e dos momentos que passava junto com as amigas que nem se importava com o que diziam a respeito delas.
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Com o reinício das aulas, voltavam as tarefas diárias de redigir a “carta ou redação da escola”, além da cópia “do exercício dos Ornamentos da Memória”.
História, Geometria ou Francês eram matérias difíceis de serem aprendidas. Quem podia garantir que os resultados seriam positivos? Mas com aquela rotina certamente as alunas terminariam o curso sabendo escrever cartas...
Não foi sem uma ponta de ironia que Helena registrou esse tipo de juízo em seu diário. Ela mesma confessa que gostava muito de escrever. E essa era a “única coisa” que cumpria dos seus deveres escolares.
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Não há dúvida que o professor Sebastião, de Português, era o que mais a influenciava a dedicar-se às redações. Após as aulas, ele se posicionava junto à porta e recolhia os exercícios e redações de todas as alunas.
Helena reconhece que todas viam o quanto ele se esforçava para beneficiá-las. Nenhuma tinha coragem de desapontá-lo.

(...)

No registro de 23 de fevereiro de 1895, Helena descreve um episódio marcado por discussão entre colegas de escola.
No referido dia, um sábado, ela estava sentada perto de Luísa, que resolveu dar um conselho para certa Zinha.
Essa Zinha era falada... A seu respeito, diziam que era maluca. Helena explica que a garota tinha a aparência de uma mulher maltratada, de uns trinta anos. A pele da menina era escamosa, seu cabelo era “duro como rabo de cavalo”, além disso era desengonçada e tinha os dentes grandes.
Luísa sugeriu que ela se penteasse para não se apresentar “com o cabelo tão emaranhado”. Bastou isso para que a Zinha se irritasse e berrasse para que todos a ouvissem.
A insultada não se importou por usar termos chulos em defesa própria. Inicialmente perguntou se a outra pensava que ela era “da sua iguala”. Ela tinha noção de quem era o seu pai? Mas que ousadia pretenderem aconselhá-la! Depois desabafou que, com aquele cabelo mesmo, valia mais do que todas as outras da escola.
No final de seu desabafo, Zinha esclareceu vociferando que era filha de Dinis Varejão... Chamou a pobre da Luísa de “cachorra” e encerrou a conversa.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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