quinta-feira, 1 de maio de 2014

Projeto “Ocupação” no Instituto Cultural Itaú e a exposição dedicada a Zuzu Angel – considerações diversas

Zuzu nasceu na pequena Curvelo, em Minas Gerais, em 1921. Seu nome de batismo era Zuleika de Souza Netto...
Ainda criança, mudou-se para Belo Horizonte e, desde cedo, demonstrou talento na confecção de vestidos... Mais tarde conheceu Norman Angel Jones (filho de um pastor americano; destacou-se por sua dedicação a obras assistenciais), que se tornou seu marido. O casal passou um tempo na Bahia, estado onde Stuart nasceu. Em 1947 transferiram-se para o Rio de Janeiro. Na então capital do país, nasceram Ana Cristina e Hildegard.


Norman separou-se de Zuzu, que organizou uma oficina em casa mesmo, e passou a desenhar e costurar roupas femininas com um diferencial que, mais tarde, atraiu também a atenção de celebridades internacionais.

Para quem não sabe, Zuzu tornou-se a mais importante estilista brasileira dos anos 1960 e 1970. A ditadura militar que ocorreu no período causou-lhe uma ferida profunda (e a própria morte)...
O filho Stuart Angel Jones ingressou no MR-8, um dos vários grupos que realizava ações contra a repressão... O jovem foi preso em abril de 1971 e eliminado por torturadores. Desde então, a biografia de Zuzu foi marcada por uma incansável luta em busca de informações sobre o seu paradeiro.

                                                                          É bom que se saiba que Stuart Angel era casado desde 1968 com Sônia de Moraes Angel. Ela também foi vítima da ditadura militar e foi presa poucos meses depois de se juntar ao filho de Zuzu. Absolvida, teve de se exilar na França... Retornou clandestinamente após o desaparecimento do marido... Militante da ANL, passou algum tempo no Chile (onde Salvador Allende governava) e, de volta ao Brasil, acabou capturada com o companheiro Antônio Carlos Bicalho Lana. Foi vítima de tortura extremada.
Sônia foi enterrada como indigente em Perus após ser violentamente assassinada no ano de 1973...
Seu paradeiro também foi negado à família que, apenas em 1981, recebeu restos mortais (que se constatou serem de um cadáver masculino)... Só depois de longa investigação (mais seis exumações), os verdadeiros restos mortais de Sônia foram transladados para o Rio de Janeiro em agosto de 1991.


A busca empreendida por Zuzu pautou todas as circunstâncias de sua vida... Enlutada, viveu cinco anos de incansável militância. Teve de enfrentar a repressão contra as liberdades... E fez isso como pôde e utilizando os mais diferentes recursos!
Solicitou informações do próprio regime... Mas nunca obteve resposta satisfatória. Ainda em setembro de 1971, fez um desfile marcado por seu protesto no consulado brasileiro em Nova York... Correu um sério risco, mas desde então a imprensa internacional passou a repercutir a sua luta...
A mãe desesperada pediu que autoridades nacionais e estrangeiras intercedessem por ela... Os militares nunca apresentaram o corpo de Stuart e, para confundir ou provocar, prosseguiu anunciando em jornais que o jovem era um terrorista procurado.
Humanistas se sensibilizaram pela causa de Zuzu... Músicos fizeram referências ao seu drama em suas composições.

Até o dia 11 de maio (dia das mães) é possível conferir a exposição sobre Zuzu Angel, que está no Itaú Cultural (terças às sextas: 9:00-20:00; sábados, domingos e feriados: 11:00-20:00).
O prédio situa-se à Avenida Paulista, 149. A entrada é franca.

Quatro andares estão ocupados pela exposição.
Logo na entrada há uma linha de tempo muito bem “costurada”... 
A linha de tempo segue definida por fita e linha de algodão, recursos bem conhecidos das costureiras. Além dos registros que se referem à vida de Zuzu, a linha destaca os episódios políticos e sociais que marcaram os anos de ditadura e repressão militar, e os concomitantes eventos dos mais diversos setores da arte... A linha não se encerra em 1976, quando Zuzu foi morta numa emboscada à saída do túnel da estrada Lagoa-Barra.
Zuzu sofreu ameaças em mais de uma ocasião... Tinha certeza de que as mesmas forças repressoras que eliminaram o filho tramavam contra ela.
Os anos que se seguiram à sua morte são marcados por processos que demonstraram que o regime articulou o atentado...

Zuzu vive!
Livros, filmes (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/filme-zuzu-angel-primeira-parte.htmle músicas foram feitos em sua homenagem. Hildegard Angel fundou o Instituto Zuzu Angel de Moda (1993)... Curvelo reconheceu a valorosa contribuição de sua mais ilustre filha, que passou a nominar um logradouro. Também o túnel onde foi assassinada passou a ser conhecido pelo seu nome.

No primeiro andar e nos dois andares abaixo do piso de entrada estão os diversos objetos que compõem a exposição... São vestidos, equipamentos de oficina de costureira, fotografias, audiovisuais, cartas (reproduções podem ser manipuladas), camisetas e artigos que carregam o anjinho criado por Zuzu.
É muito difícil não se emocionar com os documentos que estão expostos.
O visitante pode extravasar suas impressões escrevendo uma carta a alguém que desapareceu... Também pode deixar seu registro a respeito do que vê... Principalmente sobre a Zuzu (mulher, mãe, profissional, ativista abnegada)...
Um abraço,
Prof.Gilberto

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