sábado, 10 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – repouso no hotel e reflexão sobre a condição de quem está “de passagem”; Brogan revela como ficou sabendo a respeito de Anne; no jogo de dados, a sorte está lançada?; mãos dadas e um possível novo rumo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9360.html antes de ler esta postagem:

Enquanto seguia para o quarto, Anne percebeu uma troca de olhares entre Brogan e o tipo da recepção... Ela pensou que talvez o amigo tivesse feito a reserva para dois... Mas então, por que ele não a seguiu?
(...)
Depois, durante o banho, Anne pensou em Nadine... Ela sim, não teria escrúpulos em antecipar-se ao homem que a acompanhasse e, de modo imperativo, deixar claro que o resto da noite seria na casa dele. Mas a mente Anne em nada se parecia com a da filha...
O que lhe restava? Estava ali, naquele quarto de hotel...
Mais um ambiente completamente distinto entre tantos que ela ocupou durante os três meses que duravam a sua passagem pela América do Norte... Mas era assim mesmo, e cada manhã significava um novo fazer e refazer de bagagens (e, assim, da própria vida), encontros, deslocamentos, despedidas...
Os tipos permaneciam... Ela não possuía vínculos e em breve partiria.
(...)
Deitada sobre a colcha acetinada, Anne não se iludia... Logo deveria estar de pé novamente. Por um breve instante apurou o ouvido na intenção de detectar passos (de Brogan) pela escada em direção ao quarto... Nada de passos... Aos poucos o sono a dominou.
(...)
Retornando ao saguão, Anne deparou-se com o amigo americano a postos... Seguiram para um bar alemão que despejava luzes violetas... Embora soubesse o que pretendia daquela relação, a sorte de sua aventura ainda estava indefinida.
Ela se sentia revigorada. O comportamento de Brogan estava mais agradável e, “com a voz de dois meses atrás”, falava a respeito do primeiro encontro que tiveram e seguiu explicando sobre quando retornou para casa logo que Anne partiu de táxi... É claro, passaram algumas horas juntos, mas ele nada conhecia a respeito dela... Poderia ser diferente se ao menos abrisse as cartas dos Benson... Isso à parte, completou que ao chegar a casa, viu um exemplar do New Yorker junto à porta. Foi no jornal que descobriu uma notícia sobre o congresso de psiquiatria... Entre os nomes da relação de especialistas estava o de Anne, definida como “uma médica brilhante”.
Anne disse que ao chegar ao hotel encontrou o livro que ele havia prometido. Leu no trem, no dia seguinte... Demonstrando conhecimento do conteúdo e análise dos personagens, ousou perguntar ao seu anfitrião se o Bertie do livro não era ele próprio... Então Brogan emendou que “jamais colocaria fogo numa fazenda” e que, além de ter medo de fogo, teme a ação dos soldados...
(...)
Conversaram sobre isso e foi como se estivessem terminando de se apresentar... Ele convidou-a para uma partida de dados (o “vinte e seis”)... Enquanto a moça de olhar triste entrega o copinho, Anne pensou que justamente no momento em que eles estavam se aproximando um pouco mais, Brogan se esquivou com aquela distração... Ele também tinha medo dela? Ela não conseguia decifrá-lo... O tipo se mostrava uma incógnita com semblante duro e ao mesmo tempo vulnerável.
(...)
Ele se deu bem na sua vez de jogar os dados, venceu e demonstrou alegria... Anne decidiu apostar no “cinco” e lançou as peças com violência... Fez isso como se estivesse apostando no sucesso noite que desejava... Não deu a mesma sorte, perdeu, ficou irritada e criticou o “jogo estúpido”, deixando claro que não gostava de perder... Ela associou o fracasso nos dados ao provável fracasso da noite que se avizinhava.
Nada sabendo a respeito das divagações de Anne, Brogan quis consolá-la e falou que gostava muito de jogar pôquer, mas sempre se dava mal... Completou dizendo que talvez fosse porque suas feições fossem de fácil decifração.
Anne aproveitou a deixa e esclareceu que não tinha a mesma opinião. Sempre a encará-lo de frente, disse que não conseguia ter certeza se ele estava contente com a chegada dela... No mesmo instante Brogan rebateu com um “é claro que estou contente!”.
A francesa demonstrou todo o seu alivio com aquela afirmação... Tomou-lhe as mãos... Disse que gostava delas e ouviu que ele também gostava das suas...
Era com elas que torturava o cérebro dos pacientes indefesos?
Anne pediu que confiasse o seu a ela.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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