quinta-feira, 29 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Paule sai da reunião aliviada e agradecida a Anne; de volta a Sant-Martin e às discussões entre Nadine e Lambert; traição e difícil entrosamento; poucas notícias sobre a investigação dos campos soviéticos; motocicleta e convite de Volange no centro dos novos desentendimentos do casal

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_7336.html antes de ler esta postagem:

Paule não suportou a humilhação que sofreu na mansão de Lucie Belhomme... A aparição triunfal de Josette foi demais para ela. Anne soube tirá-la do ambiente nefasto e as duas foram discretas nas apressadas despedidas.
Enquanto o ônibus fazia o itinerário na volta para casa, Paule não encontrava palavras de agradecimento à amiga. Disse que ela podia ter lhe alertado anteriormente sobre o “mau caminho” que trilhava, mas Anne garantiu que não pensava assim...
Não era exatamente o fato de ter se isolado por causa de seu devotamento a Henri... Paule sabia que Anne via isso com reservas... A moça assumia suas limitações e o fato de ser passada para trás e humilhada pelas pessoas constantemente. É por isso que garantia que jamais se esqueceria da cumplicidade da amiga no evento em que foi convidada apenas para ser vilipendiada.
(...)
Anne retornou para Saint-Martin.
Nadine voltou de Paris só depois de uma semana. Perguntada a respeito de Lambert e sua investigação na Alemanha, a garota disse apenas que ele enviou-lhe carta garantindo que retornaria em breve... Emendou que certamente brigariam novamente porque ela faria questão de anunciar-lhe que, durante a sua ausência, estivera com Joly em Paris e que curtiram aventuras amorosas. Anne pediu-lhe que não falasse a esse respeito com o moço, mas Nadine deu de ombros e garantiu que a própria mãe havia lhe ensinado a ser franca e verdadeira como devem ser as pessoas decentes...
Anne a corrigiu e disse que defendia que as pessoas deveriam estabelecer relações em que a mentira não fosse concebível, todavia reconhecia que a relação entre ambos ainda não atingira essa maturidade... Isso à parte, ela tinha certeza de que a filha estava “fabricando” aquela história de traição para maltratar os sentimentos de Lambert.
Sem assumir claramente se estava blefando ou não, Nadine deixou claro que tinha Lambert nas mãos e que ele fazia tudo o que ela desejava... Entendia o rapaz como uma “comédia” porque ele não conseguia admitir que, no fundo, outras pessoas e coisas eram-lhe mais importantes  do que ela (o pai, Henri, o jornal, as reportagens...).
Anne sabia que o despeito da filha se devia à viagem que ele fez sem que levasse em consideração as suas ponderações, e advertiu que estava claro que Nadine ainda não tinha percebido que Lambert a queria acima de tudo. Mas a moça respondeu que não estava certa disso porque ele nunca lhe havia declarado nenhum devotamento.
A garota acreditava que compreendia tudo o que precisava a respeito de seu relacionamento com Lambert... Os dois conversavam muito sobre diversas coisas... Talvez por isso mesmo não conseguissem um momento especial para uma declaração mais significativa a respeito de suas intenções um com o outro. Nadine não dava conta dessa situação... Anne, de sua parte, queria convencê-la de que a revelação da aventura com Joly resultaria em “horrível aflição” para Lambert, e em “desgaste terrível” para a relação de ambos.
Nadine riu a valer... Esclareceu que nada falaria a Lambert e que achava engraçado que Anne a aconselhava a mentir (então insinuava que a aventura com Joly havia sido real).
(...)
Dois dias se passaram e Lambert retornou... Pouco disse sobre a investigação, já que teria de voltar a campo futuramente (setembro)...
(...)
Tudo indicava que o casal havia se reconciliado, pois passavam várias horas juntos sob o calor do sol... Liam, passeavam e trocavam carícias e várias ideias... Eventualmente, Lambert saia sozinho pelas estradas com a motocicleta. Isso irritava Nadine, que manifestava o desejo de também pilotar a máquina...
Seu desejo era fazer o mesmo, porém ele e Anne se opunham e as discussões ocorriam...
É claro que havia a preocupação com o perigo desnecessário a que ela se submeteria por conta do capricho. Então a moça passou a demonstrar zelo pelo equipamento, pintou o para-lama e enfeitou a motocicleta com vários penduricalhos...
Anne entendia que a filha não conseguia esconder a sua inveja, pois a motocicleta era o objeto que, de certa forma, garantia ao namorado certa liberdade e superioridade em relação a ela.
(...)
Numa noite, Nadine e Lambert iniciaram nova discussão no jardim... Anne pôde depreender que o rapaz havia lhe revelado que tinha sido convidado por Volange para dirigir sozinho um jornal... Nadine esbravejou garantindo que ele não desconfiava que, na verdade, seria usado como testa-de-ferro por aquele tipo conservador.
A irritação de Nadine era injustificada? Certamente não.
                                                                                  Postagens anteriores (http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_14.html, http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_15.html, além de várias outras) nos recordam que havia divergências entre os camaradas de Nadine (também de Henri) e Louis Volange... Devemos saber que já fazia algum tempo que este tipo vinha tentando atrair Lambert para os seus projetos.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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