quinta-feira, 8 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – novamente em Nova York; telefonema para Philipp e decepção; uma semana inteira para se envolver em compromissos e se manter afastada do desejo de uma companhia masculina

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-anne_5.html antes de ler esta postagem:

Aqueles que esperavam alguma referência às palestras e debates ocorridos no congresso de psicanálise na América do Norte certamente se decepcionaram com a sequência da narrativa. É que o romance segue detalhando o envolvimento mais próximo de Anne com tipos que ela conheceu (o escritor Brogan; o jovem Philipp da família Davies) e a sua busca por relações marcadas pela liberdade e por potencial satisfação de desejos e prazer... Podemos dizer que ela mesma se surpreendia ao se perceber ansiosa por querer muito mais do que apenas conversar e se divertir com eles.
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Os Davies ficaram para trás... Depois de algum tempo no Canadá, Anne retornou a Nova York... Um coquetel reuniria alguns de seus conhecidos. Tinha uma vista privilegiada a partir do apartamento onde estava, mas acontece que estava muito agitada e desejava telefonar para Philipp... Desceu até o bar, onde um pianista dedilhava as teclas de seu instrumento enquanto os garçons se movimentavam em meio às mesas ocupadas por casais...
Anne pediu sua bebida e acendeu um cigarro... Não se sentia segura em relação ao que iria fazer. Enquanto bebia Martini, pensava sobre suas aventuras...  Ainda havia a cidade e suas paragens... Valeria a pena percorrê-la como turista e conhecê-la melhor... Optando gastar o seu tempo ao lado de alguém, certamente a cidade ficaria em segundo plano... Pensou, neste caso, que seria melhor sentir saudade de pessoas do que das pedras do lugar. Ela buscava prazer.
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Considerou o seu tempo e suas possíveis relações...
Uma semana na grande cidade seria pouco para o seu ímpeto... Brogan a havia segurado pelo braço e a aquecera nas ruas da gelada Chicago... O jovem Philipp a fizera permanecer acordada por uma noite inteira numa expectativa delirante. Ele havia manifestado o seu desejo de estar com ela na cidade e que aguardaria o seu telefonema.
Em suas reflexões chegou a pensar que, ao se decidir pelo rapaz, trairia o escritor... Sem maiores escrúpulos, telefonou para Hartford, o lar de Philipp.
(...)
Anne anunciou que estava em Nova York. Philipp respondeu que estava contente por ouvi-la e lamentou o fato de tudo ter ficado sem graça depois de sua partida... Como que a se justificar pela ligação, Anne disse que ele mesmo havia pedido que ela o avisasse. Depois perguntou se ele poderia vê-la antes de seu regresso.
Ela partiria no sábado... Mas o rapaz lamentou e quis saber se sua nova viagem não poderia ser adiada. Ele demonstrou decepção ao saber que Anne não poderia adiar o compromisso em Cape Cod (lugar turístico no leste de Massachusetts; de valor histórico por marcar a chegada dos peregrinos do Mayflower, e de concorridas praias), onde viviam amigos que a aguardavam.
A expectativa não se confirmou... Decepção... Philipp também não demonstrou nenhum esforço, então ficou a impressão de que os compromissos de Anne impossibilitaram o encontro. Anne se despediu dizendo que poderiam se rever em Paris no próximo verão... O rapaz disse um “até logo” e pediu que ela “não o esquecesse demais”.
(...)
A francesa foi recebida na casa dos Wilson... Mais festa e novos conhecidos... Novos números de telefones anotados e encontros marcados... Contudo, Anne sentia um grande vazio apesar da troca de sorrisos e falas. A semana inteira seria assim mesmo...
Em meio às animadas pessoas, tratando de formalidades, Anne pensou que poderia viajar até Chicago e se encontrar com Brogan naquela mesma noite... É claro que ele também poderia recusá-la, mas uma nova rejeição traria muito mais prejuízos do que aquela que já havia sofrido do moço de Hartford? Essas reflexões deixaram-na um tanto acanhada, pois aquele ímpeto repentino a tornava semelhante às “fêmeas no cio”.
Para diminuir a própria ansiedade, Anne ponderou que poderia não se interessar tanto assim por Brogan, com quem passara apenas uma tarde... De qualquer forma, tornou-se mais cômodo imaginar que sua companhia nem seria tão satisfatória assim. Definitivamente, permaneceria em Nova York e a semana passaria rapidamente com os vários compromissos (“exposições, concertos, jantares, festas”...).
À meia-noite ela estava a caminho do hotel.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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