Mãos entrelaçadas...
Enfim. Anne se encheu de contentamento...
A partir de então, sentiu que tudo poderia se encaminhar de modo diferente e Brogan sairia da armadura na qual estava envolvido... Depois poderiam se entrelaçar ainda mais.
(...)
Ele perguntou se ela gostaria de voltar a ouvir o Big Billy. A ideia
agradou, então saíram à rua de braços dados. Porém, quando tudo se desenhava de
modo perfeito, Brogan a largou para cumprimentar efusivamente um tipo que
cruzou o seu caminho.
Era Teddy, que estava acompanhado de duas belas
mulheres... Para Anne, ficou claro que se conheciam e se gostavam, pois
trocavam muitos sorrisos e tagarelavam depressa e sem parar... Acomodaram-se em
torno de uma mesa de café.
A francesa pouco entendia do que diziam. Isso à parte,
entediou-se por achar que Brogan se tornou aliviado por ter topado com os tipos
que o livraram do “longo (e monótono) colóquio” com ela...
E tinha mais... As mulheres, além de bonitas, eram alegres e bem jovens.
Enquanto conversavam, Anne pensou que muitas delas deviam fazer parte do
convívio do amigo americano. Isso a fez desanimar novamente... Ao menos seria
beijada pelo seu eleito?
Chateou-se por lembrar que nem tinha certeza dos
motivos que a levaram a retornar a Chicago... Brogan, um tipo que ela sequer
conhecia, também não tinha a menor obrigação de fazer algo por ela...
Enquanto pensava sobre essas coisas e cogitava sobre o que podia fazer
de melhor, lembrou-se que lhe restava voltar ao hotel... Mas de repente seu
anfitrião tomou-lhe o braço novamente.
(...)
Os tipos já tinham se afastado.
Brogan fez questão de dizer que ficou contente por ter lhe apresentado
Teddy, o “batedor-de-carteiras-escritor”... Anne quis saber sobre as mulheres,
mas ele não as conhecia...
Pararam numa esquina e aguardaram uma condução que os levasse até o bar
onde Big Billy tocava com sua banda. Anne torceu para que não aparecesse nenhum
bonde. Ela entendia que se fossem de táxi poderiam ficar bem próximos. Essa
oportunidade lhe parecia única, e ficou tão empolgada por ela que se entrassem
num bonde pediria para ser levada ao seu hotel, abandonando a noite a dois.
Como se pode perceber, a mulher parecia sedenta por um envolvimento mais
caloroso com o seu anfitrião na América... Então surgiu um táxi... Brogan
sinalizou e o casal entrou no veículo.
(...)
Ele a abraçou. Trocaram um beijo ardente... E
tanto se beijaram que Anne sentia-se vacilante ao chegarem ao bar, onde os
músicos estavam num intervalo.
Big Billy aproximou-se da mesa onde se acomodaram...
Ele trocou alguns gracejos com o amigo, mas logo a banda voltou a tocar e os
dois ficaram a sós... Anne estava exultante e fazia previsões sobre como a
noite teria prosseguimento. Mas não conseguia sentir firmeza nos gestos de
Brogan... Eles não lhe transmitiam nenhuma pista...
Pouco tempo se passou
e Brogan perguntou se Anne gostaria de retornar ao hotel. Sua resposta deixava
claro que pretendia sair dali, mas não queria largá-lo... Ele também deixou
claro que não queria se afastar dela naquela noite. Enfim, os dois estavam se entendendo
e desejando um ambiente mais reservado...
(...)
Então aconteceu o que Anne esperava desde o momento em que ligou para
Brogan... Em vez do hotel, encaminharam-se para a casa dele... No percurso
seguiram abraçados durante todo o tempo... Nada falaram... Logo que entraram na
cozinha amarela, Brogan a apertou contra si e declarou que, para ele, aquele
momento era como que um sonho, pois permanecera infeliz durante todo o dia.
Anne rebateu a afirmação garantindo que ela é
quem havia sido torturada por ele, que não se decidia a beijá-la... Brogan
respondeu que entendeu que ela é que demonstrou que não gostaria de uma
aproximação maior desde que fora beijada por ele e reagiu limpando o seu queixo
com um lenço...
Então falaram sobre seus desentendimentos, que incluíam
a ansiedade de Anne pelo quarto de hotel e a insegurança de Brogan... Essas
coisas... Sempre a beijá-la, ele explicou que seu intento sempre fora o de leva-la
até ali... De repente, recordou-se de que deveria buscar a mala de viagem de
Anne... Novo inconveniente?
Nada disso... Dessa vez estava tudo bem, Anne não precisava dela.
O que importava era passarem a noite juntos. Na
mesma cama.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-o.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto