quarta-feira, 21 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – estadia prolongada; amor sincero, vida renovada; triste despedida e desejo de revisita

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-anne_18.html antes de ler esta postagem:

Lewis despachou Maria...
Ao retornar, explicou para Anne que já fazia quatro anos que ela estava internada... Como se conheceram? Maria soube de seu livro e escreveu-lhe pedindo um exemplar... Aconteceu que desde então um vínculo foi criado e nem mesmo ele podia explicar... Era assim mesmo, ele e seu ambiente acabavam atraindo “gatos, loucos, viciados em droga”, enfim, tipos como Maria.
(...)
Anne organizou a mesa e distribuiu em dois copos o que restava do chianti para fazerem a refeição... Brogan arranjou uns discos no pick-up... Enquanto se alimentavam, ele sentenciou que não havia mentido a Maria (estava fazendo referência ao fato de ter dito a ela que estava casado com a francesa).
Anne considerou essa ocasião ideal para fazer o seu desabafo... Começou a falar sobre a sua condição de esposa e mãe... Disse essas coisas sem terminar as frases... Certamente estava bem insegura porque acreditava que aquilo significava o rompimento definitivo... É por isso que olhava o apartamento e suas instalações como se já não pertencesse ao local...
De sua parte, Brogan arrematou que não imaginava que o casamento representasse tanto para Anne... Depois de um breve silêncio, sentenciou que a cada instante ela se tornava a pessoa mais importante em sua vida... Disse isso e sugeriu que fosse descansar.
(...)
Anne se deitou e ficou ouvindo o barulho provocado pelos movimentos de Lewis na cozinha... Logo adormeceu... Quando despertou, viu que ele estava dormindo ao seu lado. Restou-lhe imaginar o que teria pensado sobre ela... E também por que não a acordou...
Novamente a lembrança de seu retorno (que se daria em dois dias) a angustiou. Então pensou que poderia telegrafar para Paris comunicando que permaneceria por mais uns dez dias... É claro que depois teria mesmo de partir de um ou outro modo... E seria o fim...
Permanecer por mais tempo significava transformar a aventura em “amor verdadeiro”... Isso a faria sofrer...
Lembrou-se de Paule...
Evidentemente não queria experimentar o mesmo sofrimento...
Por outro lado, Anne considerou que o tempo se revela um “remédio eficaz”. Lewis também se esqueceria dela... Assim, importava a consciência de que o esfacelamento da relação na memória do amado não poderia ser atribuído a ela.
(...)
Brogan acordou e quando a notou perguntou se ela não dormia... Anne sentou-se na cama e, em vez de respondê-lo, perguntou o que ele pensava sobre ela permanecer por mais alguns dias (uma ou duas semanas). O anfitrião demonstrou preocupar-se com os compromissos que a aguardavam em Paris...
Anne revelou-se decidida e, como que a apresentar uma solução para a situação, disse que isso se resolvia com uma simples mensagem telegráfica... Brogan deixou claro que, de sua parte, permaneceria com ela por toda a vida.
Na sequência os dois se entrelaçaram... Seus corpos pareceram formar um só elemento...
O casal vivenciou momentos de profundo êxtase...
Entre suspiros, Lewis e Anne trocaram confissões apaixonadas...
(...)
Anne permaneceu por quinze dias em Chicago. Brogan também não se conteve de felicidade e o tempo que passaram juntos foi muito prazeroso... Não se cobravam e não se perdiam com questionamentos sobre o passado um do outro... O tempo passou rápido e o americano falava sempre muito depressa, como quem deseja não perder oportunidade de se revelar... Cada descoberta a respeito do parceiro se tornava motivação no peito apaixonado dela.
Ela, que sempre fora um tipo inseguro a respeito dos sentimentos que despertava nos demais, estava satisfeita em não se perguntar por que Lewis a amava ou o que ela lhe oferecia de tão especial... Convencia-se cada vez mais de que o desejo do amigo era apenas estar junto dela.
Brogan não conseguia esconder a sua satisfação em conviver com alguém que, enfim, podia se entender... Ela não acreditava que um tipo como ele pudesse afastar as pessoas... Ele também fazia questão de dizer que a francesa era muito agradável e disposta a aceitar as suas sugestões.
(...)
Anne pensou sobre como teria sido se o encontro com Philipp tivesse ocorrido... Concluiu que resultaria em fracasso e ainda por cima o amor entre ela e Lewis não teria se tornado possível... O desprezo de Philipp proporcionou-lhe grande felicidade, realmente.
(...)
Os últimos momentos do casal foram de namoro sob o céu estrelado... E com direito a estrelas cadentes e desejos!Anne manifestou interesse de revê-lo na próxima primavera... Ele fez questão de garantir que sua revisita transformaria qualquer estação em primavera.
 O derradeiro dia foi reservado para compras e último jantar. À noite, Brogan deu-lhe uma flor branca... De tão emocionada, Anne a mordeu.
(...)
Os dias ao lado de Brogan foram de uma vitalidade que Anne jamais conhecera... A despedida foi pela manhã, numa esquina para onde o táxi foi chamado... Era como se Anne estivesse morrendo... O taxista perguntou se o tipo entristecido era seu marido...
Lewis seguiu “só para o seu quarto vazio”.
Anne subiu “só ao avião”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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