Nadine apareceu na tarde de sábado... Ela estava com Lambert e, ácida como sempre, foi logo dizendo à mãe que tinha certeza de que ela devia ter se divertido muito na América... Do contrário não teria prolongado sua permanência em Chicago, cidade que muitos tinham por “horrível”...
Anne procurou ser discreta e convincente ao se referir à viagem... Dessa forma, não houve maiores indagações que poderiam levá-la ao constrangimento... Lambert pareceu-lhe animado... Ela viu que o jovem casal havia se empenhado em algumas reportagens. Certamente isso os aproximou mais.
(...)
Havia uma construção separada da casa... E foi ali
que Anne solicitou a organização de uma cozinha e colocação de telefone...
Nadine e Lambert podiam se instalar com autonomia quando fossem a
Saint-Martin... A moça aprovou o pavilhão e fez questão de garantir que
passariam ali as próximas férias... Mas Anne advertiu que talvez eles não
tivessem a privacidade que apreciavam e, além disso, suspeitava que Lambert não
se sentisse à vontade por ter de se relacionar cotidianamente com ela e Robert
por um período mais prolongado...
Nadine garantiu que ele apreciava os Dubreuilh... Como
que a querer dar conta de apresentar todos os prováveis inconvenientes, Anne
explicou que de seu quarto era possível ouvir qualquer discussão que ocorresse no
jardim... Sobre isso, a jovem garantiu que não dava a mínima importância, e até
se gabava de não ter nada a esconder de quem quer que fosse.
Nadine perguntou ao companheiro se ele ficaria chateado por passar as
férias no retiro... Lambert negou veementemente e, enquanto se posicionavam na
motocicleta, ela emendou que a mãe costumava implicar com tudo, ao passo que,
bem ao contrário, o rapaz se alegrava ao fazer o que ela lhe pedia.
(...)
Poucos dias depois, L’Espoir noticiou a morte do
senhor Lambert ao cair da portinhola do trem... Nadine telefonou comunicando
que, por causa daquela tragédia, Lambert partira para Lille e, sendo assim, não
apareceriam no próximo fim de semana.
Anne não se subtraiu às indagações que a morte do senhor Lambert (em
situação altamente suspeita) suscitou... O velho teria se suicidado por causa
do traumático processo que teve de responder? Ou alguma trama havia sido
preparada especialmente para o seu assassinato?
Por algum tempo as conversas com Robert giraram em trono dessa
fatalidade... Porém, logo outras preocupações dominaram as reflexões dos
Dubreuilh...
(...)
É que Scriassine exigiu um encontro entre Robert e um funcionário do
Regime Soviético (trata-se de Peltov; mais sobre isso em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html;
http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_10.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-o_11.html).
Anne explica que Scriassine chegou com os documentos um dia antes do
encontro marcado com Peltov... Tudo muito sigiloso... Deixou alguns documentos
e se retirou... A papelada foi minuciosamente verificada por Dubreuilh... Havia
textos em francês, inglês (a maioria) e em alemão. Ele a convidou para também
ler o colossal volume... Assim, permaneceram por um bom tempo em silêncio verificando
“relatórios, exposições, estatísticas, excertos do código soviético,
comentários”...
O que mais chamou a atenção de Anne foram os testemunhos de homens e
mulheres presos em campos de concentração... Não havia como não relacioná-los
aos campos nazistas...
Os relatos descritivos eram de americanos que,
aliados dos soviéticos na guerra contra a Alemanha nazista, percorreram grande
parte da União Soviética... De acordo com Scriassine, entre quinze e vinte
milhões de pessoas eram vítimas daqueles campos degradantes.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_23.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto