O encontro foi demorado... Sabemos que o centro da discussão entre Dubreuilh, Samazelle e Lambert era em torno da publicação imediata das revelações bombásticas trazidas por Peltov... Em nenhum momento, Robert demonstrou total segurança em relação a essa decisão. Já os dois jovens entendiam que teriam bem pouca chance de vencê-lo em qualquer reunião deliberativa de L’Espoir ou Vigilance... É por isso que eles decidiram partir a campo o quanto antes e obter evidências que o convencessem.
(...)
Vimos anteriormente que sua conversa com Anne revelou-nos alguns de seus
motivos.
Dubreuilh retornou da reunião... E foi com ela
que ele foi ter logo na sequência.
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Vemos Robert perguntando à esposa se havia feito mal
em impedir a precipitação de qualquer publicidade às denúncias... Anne não o
censurou e explicou que estivera a pensar sobre as constantes preocupações a
respeito de determinadas coisas... Elas nunca têm muita importância, e “no
final das contas todo mundo morre”... Tudo acaba se acertando...
Falaram sobre isso... Podemos dizer que Robert argumentou sobre a ideia
de que, se a morte encerra a nossa constante problematização em busca de uma
saída para os males humanidade, em casos específicos, então, ela pode ser
associada a uma “maneira de fugir dos problemas”... Anne concordou, mas
destacou que a morte só é fuga se decidimos que “a vida é que é verdade”...
Dubreuilh definiu que decidimos prosseguir vivendo porque acreditamos na vida,
e que pensar que “só a morte representa a verdade” nos encaminharia ao
suicídio. Acrescentou, porém, que os suicídios “nunca têm esse sentido”.
Anne disse que talvez insistamos em viver porque
sejamos inconsequentes e covardes... Viver é mais fácil? Isso não prova nada...
Robert destacou que o suicídio há que ser algo difícil... E também que viver
não é simplesmente ”continuar respirando”. Viver implica fazer opções e
“reconhecer os valores da vida”...
Robert terminou sua falação dizendo que a discussão sobre os campos
soviéticos não estava encerrada... É claro que aquele assunto desgastava a
todos... Valeria a pena manter-se refugiado “num ceticismo generalizado”?
Anne resolveu não responder.
Esse diálogo concluiu o difícil dia de Robert Dubreuilh... Para Anne
restou a certeza de que no dia seguinte novas discussões ocorreriam sobre
outros temas... Isso seria um sinal de que as preocupações do presente
deixariam de ser significativas?
(...)
No sábado seguinte, Nadine e Lambert voltaram a Saint-Martin... A moça
nada falava... O moço viajaria para a Alemanha para tratar da pesquisa sobre os
campos da zona russa... Robert foi evitado pelo casal, mas Lambert não se
absteve de tratar a respeito de sua tarefa com o chefe.
No domingo pela manhã, durante o café, Nadine não escondia a sua
indignação em relação à viagem de Lambert... Para ela aquilo era uma perda de
tempo... É claro que os campos existiam, mas ninguém podia fazer nada, pois se
tratavam de “coisa da própria sociedade”.
O rapaz não ficou na defensiva e devolveu que
ela era um tipo que tomava partido facilmente... Nadine devolveu-lhe que a
situação era conveniente para ele, que aproveitaria do passeio para desenvolver
suas ideias contrárias à URSS.
Anne sabia que
durante a noite os dois deviam ter prosseguido a discussão no pavilhão...
O dia seguinte foi marcado por situações em que Nadine fingia estar fazendo
algo para não ter de conversar com Lambert... À noite os dois discutiram no
jardim... O rapaz dizia que deviam voltar a Paris, pois ele tinha de se
encontrar com algumas pessoas antes de partir para a Alemanha... Mas Nadine
respondeu que não se importava porque ela mesma só precisaria estar na Vigilance às dez da manhã.
A moça estava nitidamente irritada e não fez a
menor questão de colaborar... Lambert explicou que não ficaria mais de uma hora
em seu compromisso e que depois jantariam conforme combinaram. Mas Nadine disse
que havia mudado de ideia e não seguiria viagem com o companheiro... E ainda
apresentou obstáculos para se reencontrarem depois.
Lambert saiu irritado e dizendo que aquilo era
um “adeus para sempre”...
Nadine topou com Anne e foi gritando com ela...
Exigiu que não dissesse nada porque tudo o que a mãe poderia pronunciar já era
de seu conhecimento e, por isso, não interessava.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_28.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto