quinta-feira, 15 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – um congresso no “Delisa”; Brogan de mau humor; Anne se culpa pelo fato de a noite não ser agradável como podiam esperar; fim da breve relação?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-o.html antes de ler esta postagem:

De certa forma, Beauvoir dá a entender que o famoso clube “Delisa” (local de apresentação de tradicionais jazzistas em Chicago), para onde Anne e Brogan se dirigiram, era um ambiente que também agregava grupos que atuavam pelos direitos civis dos negros... O casal chegou num momento em que o local estava sendo utilizado por um desses movimentos...
(...)
Eles foram colocados em um boxe próximo ao palco, mas não havia nenhuma apresentação musical no momento... Enquanto se serviam de frango frito, Anne observou que vários dos presentes (nem todos eram negros ali) portavam barretes turcos em suas cabeças... Ela quis que Brogan explicasse do que se tratavam e ele disse apenas que os que ali se reuniram eram “uma das ligas como tantas outras que existiam”, e que certamente estavam realizando um de seus congressos.
Anne concluiu que não seria agradável permanecer no local... Principalmente porque percebeu que Lewis estava um tanto fatigado. Sentiu que o fato de ela ter insistido para jantarem fora o deixara irritado... Alimentaram-se silenciosamente, e Anne pensou sobre as últimas 36 horas e o quanto elas deviam ter sido pesadas também para o amigo americano... Toda pressão sentimental somada às horas que passaram sem dormir deixaram-no esgotado fisicamente.
(...)
De repente um tipo começou a se pronunciar ao microfone... Anne perguntou sobre o que ele falava e Brogan disse que era sobre a liga... Certamente haveria alguma atração, mas ele não tinha ideia de qual seria nem quando teria início...
Anne percebeu que era sem vontade que Lewis falava... Estava mesmo desanimado. Ela, por sua vez, ficou desapontada... Muito mais por ter se lembrado de que estavam ali devido à sua insistência... O tipo do microfone anunciou uma mulher que foi recebida por aplausos contundentes... Muitos outros também foram apresentados na sequência, e Anne imaginou que toda a liga seria apresentada.
Ela olhou para Brogan e notou que sua irritação aumentava a cada instante... Ela sugeriu que saíssem, mas a resposta dele foi áspera, garantindo que não sairiam imediatamente, já que tinham vindo de tão longe...
Além do peso da culpa, Anne sentia-se magoada também por supor que a irritação do outro se devesse ao fato de ela não ter aceitado sua proposta de retornarem ao aconchego da casa... Ela procurou dialogar, mas Brogan não demonstrava interesse... Quase que com monossílabos, ele insistia que deviam esperar nem que isso lhes custasse muito tempo...
Anne quis mostrar que não desejava sacrifícios, mas o amado parecia fazer questão de patentear, indiretamente, que aquilo estava acontecendo por culpa dela... Durante duas horas ele permaneceu ensimesmado, sem pronunciar uma única palavra... Ela pediu um uísque duplo esperando se reanimar com a bebida... No palco, os tipos se alternavam e maio aos aplausos.
(...)
Acanhada, refletia sobre o absurdo das últimas horas... Estivera no parque ensolarado, onde tudo ocorrera como num sonho bom... Anel no dedo e palavras que afirmavam desejo de união permanente... À noite, porém, essa desavença e a irritação que poderia pôr tudo a perder...
Apesar da reviravolta, ela considerava que não havia nenhuma injustiça na postura do amado...
Mas aquilo poderia provocar a separação definitiva!
Pensar que, de fato, se separariam, fez com que lágrimas chegassem aos seus olhos.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas