O encontro com a vizinha do apartamento localizado mais abaixo não foi dos mais empolgantes para Isidore.
Tudo bem, ele não era um tipo aceitável... Isso estava “estampado” em sua fisionomia... Mas a jovem e bela garota dizia coisas muito estranhas... Não tinha ideia de quem era Buster Gente Fina! E tudo indicava que ela desprezava o culto e a fusão com Mercer.
Suas palavras a respeito de um “cabeça de galinha” acessar a fusão foram agressivas... Apesar de suas limitações, J.R. entendeu perfeitamente que a outra não escondia o seu desprezo. É por isso que resolveu retornar ao apartamento e acabar de se arrumar para iniciar o dia de trabalho.
(...)
Já caminhava pelo longo corredor,
quando a jovem pediu para que parasse... Ela disse que ele poderia retornar
depois que retornasse para casa, assim poderia recolher móveis melhores em
outros apartamentos...
Reanimado, ele perguntou se ela faria um jantar para
os dois com ingredientes que ele arranjasse...
Sem constrangimento, a garota refutou a ideia... Disse que tinha muito a
fazer... Talvez num outro dia pudessem jantar juntos...
J.R. estranhou aquela frieza... “Algo como um sopro
vindo do vácuo entre os mundos habitados, na verdade, de lugar nenhum”.
(...)
A moça voltou a abrir a porta... Ele quis saber se ela lembrava o seu
nome... Ela respondeu que lembrava até o nome da “pessoa literalmente incrível,
Hannibal Sloat”, para quem trabalhava... E depois de dizer que aquilo
certamente só podia ser produto da imaginação dele, emendou que se chamava
Rachael Rosen.
Como o nome Rosen não era estranho para Isidore, ele perguntou se tinha
algo a ver com a famosa empresa que fabricava robôs humanoides usados no
programa de colonização espacial...
Uma expressão confusa tomou conta da garota até ela afirmar que não
tinha ideia do que ele estava dizendo. Mais uma vez respondeu que aquilo só
podia ser invenção de sua “cabeça de galinha”... “Pobre senhor Isidore”, ela
completou.
J.R. quis justificar-se,
mas ela interrompeu-o dizendo que se chamava Pris Stratton, seu “nome de
casada”... Seria melhor Isidore chamá-la de srta. Stratton, pois não se
conheciam... Ela fez questão dizer que, pelo menos para ela, ele era um
desconhecido...
Pris Stratton voltou
para o apartamento e fechou a porta...
Isidore ficou sozinho no vasto corredor escuro... Era tempo de se
dirigir ao seu apartamento e depois ao trabalho.
(...)
J.R. tomou o seu rumo.
Ainda segurava o imprestável cubo de margarina... Pensava que as coisas
poderiam mudar e que ela ainda aceitaria ser chamada por ele apenas de Pris...
Ainda poderiam jantar... Quem sabe se ele arranjasse uma “lata de vegetais
pré-guerra”?
Levou em consideração que talvez a pequena não
soubesse cozinhar... Então, nesse caso, ele mesmo prepararia a refeição e a
ensinaria... É claro, para ele, cozinhar era típico de mulheres e, com toda
certeza, “por instinto”, ela tomaria gosto pela cozinha.
Enquanto vestia o seu avental branco, pensava sobre como se justificaria
ao sr. Sloat... Pensava também sobre as incoerências de Pris... Nunca ouviu
falar de Buster Gente Fina, certamente o mais “importante ser humano vivo”...
Buster só seria superado por Mercer, Mas esse era uma entidade que, como o
próprio sr. Sloat dizia, “vinha das estrelas e se impunha à cultura dos mortais
por um molde cósmico”.
O que Isidore poderia oferecer à vizinha pequena e
graciosa? Nada! Ele era simplesmente um “especial” que um dia morreria
contaminado pela Grande Poeira... “Cabeça de Galinha”, não poderia casar ou emigrar. Isso era definitivo.
Devidamente uniformizado, foi até o terraço para
funcionar o “seu velho e surrado hovercar”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_17.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto