sábado, 18 de outubro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – Sloat lamenta a morte da criatura; Milt quer saber quanto valeria um gato verdadeiro e explica que as empresas especializadas estavam fazendo peças cada vez mais semelhantes às reais; Isidore se desespera e irrita ainda mais o chefe; surpreendente desabafo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_18.htm  antes de ler esta postagem:

Mas que coisa terrível!
Hannibal Sloat ficou profundamente sentido por causa do gato morto que Isidore havia trazido ao hospital. Ao ouvir suas manifestações indignadas, Milt Borogrove apareceu à porta do escritório para saber o que estava ocorrendo...
Sloat disse que o “cabeça de galinha” (e ele nunca havia se referido ao J.R. dessa forma – pelo menos publicamente) não percebera a diferença...
Enquanto Milt pensava sobre o valor exorbitante daquele bicho, J.R. preocupava-se com a situação e perguntava se o seguro do hospital não cobria o sinistro... Esse não era o problema para Sloat... A questão é que ele não se conformava com a perda de mais uma criatura (das poucas que existiam).
Milt lamentava não possuir uma cópia do catálogo da Sidney’s e o fato de já não poderem fazer mais nada... Se ainda estivesse vivo, o bicho podia ser encaminhado a um “veterinário de verdade”...
J.R tentava se justificar... Tinha imaginado que se tratava de uma imitação perfeita... Milt tentava contemporizar... Ele sabia que, para Isidore, também os animais falsos possuem vida... Ele não saberia diferenciar... Estava claro que o motorista desastrado teria tentado dar uma carga de bateria ou mesmo encontrar o curto-circuito...
Milt Borogrove também considerou que estava cada vez mais difícil diferenciar uma criatura viva de uma artificial... Eles, que trabalhavam no Van Ness, lidavam apenas com as “máquinas avariadas”... As empresas que fabricavam os animais eletrônicos chegaram ao ponto de criar “circuitos de doença”... Evidentemente isso tornava as imitações muito próximas do real.
(...)
Sloat vociferava contra a morte da criatura... Um desperdício! Isidore tentava animá-lo dizendo que de acordo com o mercerismo também os animais completam o ciclo e superam a morte...
O chefe disparou que ele devia dizer aquelas coisas para o dono do animalzinho morto... Isidore pensou que Hannibal estiva falando para ele conversar mesmo com o cliente pelo vidfone... Então respondeu que era o próprio patrão que fazia as vidchamadas... Será que dessa vez seria diferente?
Mais uma vez Milt intercedeu... Pediu para Hannibal não colocar o “cabeça de galinha” em mais uma situação de constrangimento... Estendendo a mão para o aparelho, disse que ele mesmo faria a ligação, mas foi interrompido pelo chefe, que garantiu que gostaria que Isidore entrasse em contato com o cliente.
J.R. Isidore tremeu da cabeça aos pés... Falou que não tinha condições de fazer a ligação, pois era “feio, peludo, encurvado, cinzento” e, além disso, a radiação do aparelho poderia fazer-lhe mal... Milt pediu o número de contato do cliente para que ele mesmo pudesse fazer a ligação.
Mas Sloat exigia que o próprio J.R. fizesse a ligação... E isso se tornou condição para ele permanecer no emprego.
(...)
Isidore pensou que não teria condições de realizar aquela tarefa... Não sabe como, mas disparou que não queria ser chamado de “cabeça de galinha” e que também o patrão havia sido afetado pela poeira... Talvez o cérebro de Sloat não tivesse sido atingido, mas ele tinha certeza de que não se diferenciavam tanto assim.
Desde que soubera de sua gafe, Isidore gaguejava sem parar... Naquele momento pensou que estava decretando a própria demissão... De repente lembrou-se que o dono do gato nem entrou em detalhes a respeito de seu animalzinho e partiu em disparada para o trabalho... Então era quase certo que não haveria ninguém na casa daquele tipo.
Isidore animou-se, pegou o rabisco que havia guardado em seu bolso e falou que poderia fazer a ligação... Sentou-se perante o vidfone e discou...
Milt disse a Hannibal que J.R. não devia ser obrigado a fazer aquilo... Falou também que era verdade que ele estava quase cego e, por estar contaminado da poeira, também deixaria de ouvir...
Sloat respondeu que também Milt estava contaminado, pois sua pele tinha a cor de “cocô de cachorro”.
(...)
Na tela apareceu a imagem de uma mulher...
Por essa J.R. não esperava... O dono do gato era casado... Ela foi se apresentando: sra. Pilsen...
Gaguejando como nunca, Isidore começou a detalhar o motivo de seu contato.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas