sexta-feira, 24 de outubro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – humanoides como Rachael Rosen e Luba Luft exerciam atração a tipos como Deckard; ensaio de “A Flauta Mágica”; tudo se torna passado e esquecimento - reflexões acerca da breve existência; ironicamente, é Luba quem interpreta Pamina

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_24.html antes de ler esta postagem:

Depois de conversar com Iran, Deckard também se angustiou... Afinal, o que ela tinha a lhe oferecer além de suas lamentações? Qualquer androide “no fio da navalha” era mais entusiasmado do que ela... Pensou mesmo que deveriam ter se separado quando discutiram sobre essa possibilidade no passado...
A lembrança de Rachael foi quase que natural... Deckard pensou a respeito de sua manifestada disposição em ajudá-lo... De fato, ela não havia mentido para ele sobre as habilidades e manhas dos Nexus-6... Levando-se em consideração que ela nada exigia em troca, sua contribuição não seria desprezível.
(...)
As anotações de Dave Holden indicavam que àquela hora poderia encontrar Luba Luft na “Casa de Ópera Memorial da Guerra”... Deckard interrompeu suas reflexões e acelerou fundo para cruzar o espaço em direção à segunda de sua lista...
A senhorita Luft era bonita... Deckard pensou sobre isso e mais uma vez se lembrou de Rachael... As androides exerciam atração sobre os humanos... Admitia isso sem deixar de levar em consideração que se tratava de algo muito estranho... Aqueles tipos eram máquinas, mas também agiam emocionalmente!
Por incrível que pareça, Deckard começou a imaginar-se envolvido numa espécie de romance com um “humanoide fêmea”... Definitivamente não considerava Rachael Rosen (“compleição de criança, plana e maçante”) das mais atraentes... Magra demais e sem busto... De acordo com a ficha de Luba Luft sua feição era a de uma jovem de 28 anos, então ela estaria “em vantagem”...
(...)
Interrompeu os pensamentos libidinosos sobre as andys e passou a imaginar que Holden também teria dificuldades ao tentar capturar Luba Luft...
Deckard lembrou-se que era um apreciador de ópera, e essa “bagagem cultural” podia facilitar a sua aproximação... Pensou que, também neste quesito, levava vantagem em relação ao experiente Dave.
De repente uma nova confiança o dominou... Polokov era um tipo valentão, mas os demais andys não sabiam que estavam sendo perseguidos e é por isso que ofereceriam menos resistência. Sendo assim não recorreria à ajuda de Rachael...
Agiria sozinho novamente...
(...)
Ao chegar à casa de ópera, Rick sentia-se animado...
Seguiu pelo terraço cantarolando trechos de árias italianas...
Viu que estavam ensaiando o final do primeiro ato de “A Flauta Mágica”, de Mozart... Acomodou-se para ouvir a canção do Papageno que falava dos sinos à bela Pamina...
Ninguém por ali dava conta da presença de Deckard, que refletia sobre a luta contra os inimigos da vida real... Era uma pena que os sinos cantados por Papageno (quando tocados fariam os inimigos desaparecerem instantaneamente) não existissem verdadeiramente...
Quanto tempo de vida ainda lhe restava? Lograria sucesso contra todos os andys restantes? Pobre Mozart... O genial compositor morreu jovem, pouco depois de compor “A Flauta Mágica”, e foi enterrado em vala para indigentes... Também aquele magnífico ensaio não duraria para sempre... Também músicos e cantores morreriam... Mozart seria esquecido... A Grande Poeira tomaria conta de tudo...
Mas tudo isso dizia respeito a situações futuras... Ao menos por enquanto a ordem das coisas era essa que ele vivia e conhecia bem... Do mesmo modo, representava perigo para outros... Os Nexus-6 teriam de escapar da caçada que ele empreendia, pois só assim continuariam a ter algum futuro.
No palco Pamina e Papageno prosseguiam o diálogo cantado... Ele perguntava o que deviam dizer; ela respondia que diriam a verdade...
Deckard apreciava o que ouvia... E não é que conseguiu identificar Luba Luft? Ela estava bem à sua frente. Era ela quem interpretava a Pamina!
Quanta ironia... Sua personagem afirmava que diria a verdade... Em sua existência de humanoide fugitiva, porém, teria de proceder de modo contrário para prosseguir viva.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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