Deckard interrompeu a conversa sobre a cobiçada coruja. Manifestou que já era tempo de iniciar os testes que o haviam levado até ali... Rachael referiu-se ao tio Eldon, que foi quem atendeu à solicitação do inspetor Harry Bryant... Deckard ouviu isso e ficou admirado ao constatar que a grande empresa Rosen era um “negócio de família”...
Rachael colocou as mãos nos bolsos do casaco e dirigiu-se para o elevador... Ele a seguiu e, enquanto desciam, perguntou se ela tinha algo contra ele.
A moça parecia não estar pronta para aquele tipo de indagação... Respondeu que ele era apenas um “reles funcionário do departamento de polícia” que estava encarregado de uma tarefa de muita responsabilidade em relação à empresa... Na sequência ele quis saber qual era a parcela da produção da Rosen que correspondia aos Nexus-6... Ela explicou que toda produção mais recente era equipada com essa avançada unidade cerebral...
Sem dúvida, uma informação que Bryant entenderia como assustadora... Todavia Deckard garantiu à anfitriã que a Escala Voigt-Kampff produziria os resultados esperados... Ele não temia ou tinha dúvidas sobre o experimento que estava para se iniciar.
Rachael argumentou que se o trabalho de Deckard não resultasse em positivo, a empresa teria de retirar os Nexus-6 do mercado... Em sua opinião isso era injusto, pois entendia que o departamento de polícia é que devia se equipar melhor para detectar o “minúsculo grupo de Nexus-6 que falhou”.
(...)
Eldon Rosen chegou...
Ele era um tipo de certa idade que se vestia
elegantemente.
Ao cumprimentar Deckard, explicou que ele sabia muito
bem que a empresa não fabricava nenhum humanoide na Terra... Então, entrar em
contato com a fábrica e solicitar “um lote de produtos” para a investigação que
se pretendia processar tornava-se praticamente impossível.
O que o velho quis dizer era que o trabalho de Deckard se desenvolveria
de modo limitado ao que havia sido possível arranjar... De algum modo ele
procurava evitar que a polícia interpretasse a situação como “falta de
cooperação” de sua parte.
(...)
Deckard anunciou que estava pronto para começar...
Notando o nervosismo de Eldon e Rachael, ele entendeu que sua posição
(pelo menos naquele instante) conferia-lhe algum poder... Inclusive o de
proibi-los de continuarem com a fabricação dos Nexus-6... O que seria da
empresa nos Estados Unidos, Rússia ou Marte?
Certamente um dos pilares
do sistema, parceira nos esforços de colonização do espaço, a Rosen não podia
suscitar suspeitas em relação à eficiência de seus humanoides...
Foi o próprio Deckard quem sugeriu que não havia nada a temer... Mas deixou
claro que se eles não confiavam na Escala Voigt-Kampff deveriam ter realizado
pesquisas para que um novo teste pudesse ser aplicado às unidades Nexus-6...
Nesse sentido, era certo que a própria empresa tinha sua parcela de
responsabilidade em relação aos rumos que o caso havia tomado.
(...)
Os três passaram por um longo corredor e chegaram a um “cubículo
elegante”... Ali, além dos móveis bem arranjados, havia uma mesa de canto onde
deixaram expostas revistas diversas... Entre elas, o catálogo atualizado da
Sidney’s... Melhor seria dizer “antecipado”, pois correspondia à edição de data
futura (!). Ao tomá-lo, Deckard protestou garantindo que ninguém podia contar
com informações privilegiadas sobre as mudanças dos preços...
Guardou o exemplar em sua
pasta ao mesmo tempo em que tentava se recordar da lei federal que punia aquela
violação.
O velho Rosen fez
questão de falar que a política da empresa não era aquela de obter informações
privilegiadas e “antecipadas”... Deckard tranquilizou-o ao dizer que não era
uma autoridade oficial, mas um “caçador de recompensas”.
(...)
Na mesa de jacarandá, Rick Deckard montou o seu aparelho... Instrumentos
poligráficos foram conectados... Pouco tempo depois ele disse que tudo estava
devidamente ajeitado para receber o “primeiro candidato”...
Via-se que Eldon Rosen se tornara ainda mais
nervoso.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_10.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto