Luba Luft disse que teria confiança apenas se Deckard se submetesse ao exame com o qual ele pretendia analisá-la...
Um tanto desconfiado pela insistência da cantora, Deckard argumentou que ela não teria condições de conduzir o teste, pois este exigia muito preparo... Sem possibilitar a continuação daquela conversa, argumentou que as questões diziam respeito a situações comuns, que talvez ela tivesse de enfrentar em algum momento... E foi orientando que as respostas deviam ser rápidas porque isso contava para os registros que faria.
(...)
As questões, enfim, tiveram
início... Podemos notar que ele retornou às perguntas que havia feito a Rachael
Rosen.
(...)
A primeira das perguntas era aquela sobre a vespa que
a incomodaria num momento em que estivesse entretida com a televisão... Luba
quis saber o que é uma vespa... Falaram a respeito disso e ela insistiu que,
para responder com segurança, precisava conhecer a palavra em alemão... Deckard
protestou levando em conta que ela falava inglês muito bem. Ela explicou que
isso se devia ao seu compromisso com as interpretações das obras de Purcell,
Walton e Williams, mas ponderou que seu vocabulário não era amplo...
Perderam tanto tempo discutindo sobre o vocábulo (Wespe em alemão) que a
pergunta acabou sendo anulada.
(...)
A questão seguinte foi sobre o filme que mostrava um banquete
em que se servia cão cozido recheado com arroz... A reação de Luba foi de
indignação com a ideia de alguém matar um cão... Sabe-se que é um animal muito
caro!
É claro, salientou, havia
os cães “de mentira”, feitos com fios elétricos e motores, mas evidentemente
não eram comestíveis...
Deckard quis que ela entendesse que a situação hipotética seria anterior
à guerra... Então Luba disse que havia lido algo a respeito de habitantes das
Filipinas que se alimentavam de carne de cachorro...
Ele exigia uma resposta, e
salientou que esperava a sua “reação social, emocional, moral”...
Ela respondeu que desligaria o filme e sintonizaria o programa do Buster
Gente Fina...
Deckard quis saber por que ela desligaria o filme e
ela respondeu que não havia interesse nenhum nas Filipinas, a não ser a “Marcha
da Morte de Bataan” (episódio em que milhares de prisioneiros norte-americanos
e filipinos morreram ao serem transferidos de Bataan para a província de Tarlac
pelo exército japonês durante a segunda guerra mundial).
Os ponteiros se mexiam em todas as direções...
(...)
A terceira questão apresentada foi sobre a cabana “do alto da montanha”...
Luba não conseguia entender o conceito “área ainda verdejante”, e mais uma vez
a investigação atravancou... Deckard explicou de modo simplificado... Porém,
quando falou das gravuras Currier & Ives e da cabeça do veado acima da
lareira, houve nova intervenção da entrevistada... Ela simplesmente não
conseguia entender o que seriam “Currier, Ives ou decoração”... Relacionou
Currier a Curry, o molho indiano que poderia acompanhar o arroz que rechearia o
cão cozido apresentado na questão anterior...
(...)
O teste não poderia indicar
nenhum resultado confiável porque as interrupções atrapalharam...
(...)
Deckard tentou prosseguir apresentando
a situação em que um homem a convidaria para visitar o seu apartamento, onde
permaneceriam sozinhos... Luba interrompeu dizendo que não aceitaria convite
dessa natureza...
Bastante chateado, Deckard esclareceu que ainda
não havia feito a pergunta...
Luba esbravejou afirmando que o culpado pelo
fracasso do teste era ele mesmo, pois só lhe apresentava questões que não
entendia... Todavia, quando a questão era de fácil entendimento, como aquela
situação exposta, ele dizia que “ainda não era o teste!”... Ela não admitia
culpa alguma se era ele que escolhia a “questão errada”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_28.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto