quinta-feira, 2 de outubro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – o nexus-6 comparado aos humanos; impossibilidade de empatia; para Deckard, “aposentar androides” não feria os princípios do mercerismo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas.html antes de ler esta postagem:

Em seu escritório, Deckard analisava as informações que possuía a respeito dos Nexus-6...
Qual teste para identificação de androides poderia detectar um Nexus-6? Por qual motivo aqueles humanoides avançados estariam invadindo a Terra?
Deckard sabia que esses tipos beiravam a perfeição... Certamente eles superavam os humanos “especiais” em inteligência... É claro que não equivaliam aos “normais”, mas era bem provável que em alguns casos eles se mostrassem mais habilidosos do que os seus donos (que os utilizavam nas colônias espaciais).
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Deckard entendia também que o Teste de Empatia Voigt-Kampff era o mais adequado para o exame dos Nexus-6... Ele tinha certeza que lhes faltavam sensibilidades básicas... Uma de suas “falhas” era não conseguirem compreender a “fusão com Mercer” praticada pelos humanos... Para Deckard isso beirava ao absurdo, dado que até mesmo os humanos subnormais (os “cabeças de galinha”, como J.R. Isidore) vivenciavam a fusão sem traumas de consciência (pelo que vimos anteriormente em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_29.html, J.R. parecia não se encaixar inteiramente nessa conceituação).
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Então a “Empatia” era própria dos seres humanos, pois para manifestá-la é necessário possuir o “instinto de grupo”... É a empatia que faz com que pensemos no desejo que qualquer ser vivo tem de “permanecer vivo”... Assim, a partir de reflexões desse tipo, Deckard concluía que a “Empatia” não tinha qualquer serventia (e por isso não era própria) para predadores como aranhas ou gatos...
Ele já havia pensado a respeito de “Empatia” em outras ocasiões e a classificou como algo que “ofuscava as fronteiras entre caçador e vítima”... Talvez herbívoros e onívoros pudessem vivenciá-la sem maiores problemas.
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Os pensamentos de Deckard problematizam a “fusão com Mercer”... Ao final do processo, todos os que participavam “caíam juntos na vala do mundo tumular”... Isso nos ajuda a entender um pouco da experiência vivida por J.R. Isidore (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_29.html). As sensações dos que participavam (ódio ou amor; alegria ou tristeza...) acabavam influenciando o estado de espírito de todos... Os seres humanos buscam superação e resgatam-se da condição tumular... O mesmo não ocorre com uma cobra ou coruja, por exemplo, que acabam destruídas.
Para Deckard, o “humanoide era um predador solitário”...
Eliminar um androide, de acordo com seu entendimento, não agredia a “regra da vida estabelecida por Mercer” (um de seus mais antigos “mandamentos”): “matarás somente os assassinos”...
O mercerismo “evoluía para uma teologia completa”... Havia o entendimento de que o “mal absoluto” puxava o manto do velho Mercer na colina... O quê ou quem era esse mal? Os “merceritas” (seguidores dos princípios de Wilbur Mercer) “sentiam o mal sem compreendê-lo”...
Do mesmo modo, como entender os “assassinos” referidos no “mandamento”?
Deckard não tinha dúvida de que “assassinos” eram os robôs humanoides, inteligentes, e fugitivos após terem eliminado o seu mestre (seu dono, um humano), que não conseguiam demonstrar nenhum sentimento ou respeito pelos animais, ou que eram indiferentes em relação a estímulos ou possibilidades de “vida melhor”.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto 

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