Em seu escritório, Deckard analisava as informações que possuía a respeito dos Nexus-6...
Qual teste para identificação de androides poderia detectar um Nexus-6? Por qual motivo aqueles humanoides avançados estariam invadindo a Terra?
Deckard sabia que esses tipos beiravam a perfeição... Certamente eles superavam os humanos “especiais” em inteligência... É claro que não equivaliam aos “normais”, mas era bem provável que em alguns casos eles se mostrassem mais habilidosos do que os seus donos (que os utilizavam nas colônias espaciais).
(...)
Deckard entendia também que
o Teste de Empatia Voigt-Kampff era o mais adequado para o exame dos Nexus-6...
Ele tinha certeza que lhes faltavam sensibilidades básicas... Uma de suas “falhas”
era não conseguirem compreender a “fusão com Mercer” praticada pelos humanos...
Para Deckard isso beirava ao absurdo, dado que até mesmo os humanos subnormais
(os “cabeças de galinha”, como J.R. Isidore) vivenciavam a fusão sem traumas de
consciência (pelo que vimos anteriormente em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_29.html, J.R. parecia não se encaixar inteiramente nessa conceituação).
(...)
Então a “Empatia” era própria dos seres humanos, pois
para manifestá-la é necessário possuir o “instinto de grupo”... É a empatia que
faz com que pensemos no desejo que qualquer ser vivo tem de “permanecer vivo”...
Assim, a partir de reflexões desse tipo, Deckard concluía que a “Empatia” não
tinha qualquer serventia (e por isso não era própria) para predadores como
aranhas ou gatos...
Ele já havia pensado a respeito de “Empatia” em outras ocasiões e a
classificou como algo que “ofuscava as fronteiras entre caçador e vítima”... Talvez
herbívoros e onívoros pudessem vivenciá-la sem maiores problemas.
(...)
Os pensamentos de Deckard problematizam a “fusão com
Mercer”... Ao final do processo, todos os que participavam “caíam juntos na
vala do mundo tumular”... Isso nos ajuda a entender um pouco da experiência
vivida por J.R. Isidore (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_29.html).
As sensações dos que participavam (ódio ou amor; alegria ou tristeza...)
acabavam influenciando o estado de espírito de todos... Os seres humanos buscam
superação e resgatam-se da condição tumular... O mesmo não ocorre com uma cobra
ou coruja, por exemplo, que acabam destruídas.
Eliminar um androide, de
acordo com seu entendimento, não agredia a “regra da vida estabelecida por
Mercer” (um de seus mais antigos “mandamentos”): “matarás somente os assassinos”...
O mercerismo “evoluía para uma teologia completa”... Havia o
entendimento de que o “mal absoluto” puxava o manto do velho Mercer na
colina... O quê ou quem era esse mal? Os “merceritas” (seguidores dos princípios
de Wilbur Mercer) “sentiam o mal sem compreendê-lo”...
Do mesmo modo, como entender os “assassinos” referidos no “mandamento”?
Deckard não tinha dúvida de que “assassinos”
eram os robôs humanoides, inteligentes, e fugitivos após terem eliminado o seu
mestre (seu dono, um humano), que não conseguiam demonstrar nenhum sentimento
ou respeito pelos animais, ou que eram indiferentes em relação a estímulos ou
possibilidades de “vida melhor”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_3.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto