domingo, 19 de outubro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – J.R. surpreende ao vidfone; a senhora Pilsen convenceu-se de que deveria aceitar uma réplica de Horace; Milt e Sloat encarregam Isidore de ligar para a Wheelright & Carpenter

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_1.html antes de ler esta postagem:

J.R. Isidore achou que poderia ligar para a casa do proprietário do gato morto... Esperava que a ligação resultasse em nada. Ele lembrou que o tipo deu-lhe o animal adoentado sem entrar em detalhes, parecia estar atrasado para o trabalho e saiu em disparada em seu moderno hovercar...
O “cabeça de galinha” mostrou-se decidido a ligar para acalmar o nervosismo de Sloat... Mas ele não contava com a possibilidade de o dono do bichano ter uma esposa.
(...)
No momento mesmo em que a senhora Pilsen se identificou, o pânico tomou conta de Isidore... Sua gagueira acentuou-se, mas não havia como voltar atrás... Assim, ele foi dizendo que queria falar-lhe a respeito do gato...
Imediatamente a mulher entendeu que ele só podia ser o funcionário do hospital a quem o senhor Pilsen havia confiado Horace (este era o nome do gato)... Ela perguntou se a enfermidade do bicho era mesmo pneumonite, como o marido suspeitava...
Isidore não pestanejou e disse que o gato estava morto... Pelo vidfone notava-se o desespero da madame... Ele quis tranquiliza-la dizendo que o Van Ness possuía seguro e que haveria reparação... Ia dizendo algo a respeito do sr. Hannibal Sloat, mas o chefe o interrompeu dizendo que entregariam um cheque no valor correspondente ao catálogo da Sidney’s...
Aconteceu que J.R. se viu passando por uma experiência inteiramente nova... Iniciou a conversa e sabia que não tinha como conclui-la... Tentava dizer frases lógicas e pertinentes ao assunto enquanto Sloat e Milt o encaravam... Prosseguiu dizendo que o próprio chefe escolheria o novo gato para a família, bastando a ela fornecer as especificações (cor, sexo, raça...). Aos poucos sua gagueira desapareceu de suas falas.
A senhora Pilsen parecia não ouvi-lo e a todo instante dizia que Horace estava morto... J.R. a consolou dizendo que o bicho teve pneumonite... Nada pôde ser feito e isso era lamentável, mas também o fato de o doutor Sloat arranjar-lhe um substituto era uma notícia muito boa...
A mulher passou a falar que Horace era insubstituível... Despejou lágrimas e disse que ele estava na família desde quando era apenas um filhote e tinha um olhar de quem parecia perguntar algo... Nunca souberam o que ele poderia querer saber... Mas agora ele deveria pertencer a uma realidade onde acharia respostas para tudo... Novas lágrimas escorreram pela sua face enquanto emendava que “todos nós saberemos um dia”.
Inspirado, J.R. ofereceu-lhe uma “cópia exata, elétrica” do gato Horace... Eles mesmos encomendariam junto à Wheelright & Carpenter, que tinha condições de fazer um serviço exemplar.
A dona protestou e garantiu que o marido Ed não poderia ouvir um absurdo como aquele... Ele convivia com gatos desde criança e amava Horace.
Milt tomou o vidfone e passou a falar com a senhora Pilsen... Esclareceu de modo profissional que a situação era aquela que o senhor Isidore havia exposto... Ela poderia aceitar o cheque no valor estipulado pelo catálogo da Sidney’s ou receber um novo gato conforme a sugestão apresentada... Completou dizendo que sentiam muito pelo ocorrido, mas o animalzinho havia contraído pneumonite, “que quase sempre é fatal”.
A senhora Pilsen estava mesmo inconsolável e falou que não poderia dizer aquilo ao marido... Milt explicou que, então, bastava ela passar-lhe o número de contato do senhor Ed que ele mesmo trataria do assunto... Quando Sloat arranjou uma caneta para que Milt anotasse o que a mulher diria, ela se acalmou e perguntou se seria possível que a reprodução sugerida por Isidore não provocasse nenhuma dúvida no marido...
Milt tentou explicar que nesses casos os vizinhos costumam não notar a substituição do bicho... Quis dizer que, pela proximidade, o dono de um animal de estimação “nunca se engana”...
A senhora Pilsen pensou nas palavras de Milt... Lembrou que Ed “nunca chegava fisicamente muito perto de Horace”. Era ela que cuidava da caixa de areia utilizada pelo bichano... O marido temia tanto perder Horace que talvez evitasse uma maior aproximação, e quando o animal adoeceu evitou até mesmo olhar para ele... Por tudo isso ela decidiu que aceitaria a substituição... Quis que entendessem que o marido não poderia saber do acerto... Depois perguntou tempo teria de esperar até que o bicho lhe fosse entregue.
Milt respondeu que em dez dias entregariam o “novo gato”... Fariam a entrega durante o dia, enquanto o senhor Ed estivesse no trabalho.
(...)
Milt perguntou a Sloat se, de fato, o dono de Horace não reconheceria que o animal devolvido seria uma réplica... Hannibal respondeu que aquilo ocorreria certamente... Mas não havia outro jeito.
Depois os dois elogiaram muito o desempenho de J.R. ao vidfone. Inclusive decidiram que ele ligaria para a Wheelright & Carpenter e acertaria os detalhes... Milt insistiu apenas que ele não permitisse que levassem o gato morto, pois ele mesmo queria conferir o trabalho da empresa comparando a réplica com o original.
É claro que Isidore ficou feliz... Disse que ligaria imediatamente pedindo que fossem fotografar Horace... Ressaltou que o animal poderia entrar em decomposição...
O próprio Isidore espantou-se com seu raciocínio.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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