J.R. Isidore achou que poderia ligar para a casa do proprietário do gato morto... Esperava que a ligação resultasse em nada. Ele lembrou que o tipo deu-lhe o animal adoentado sem entrar em detalhes, parecia estar atrasado para o trabalho e saiu em disparada em seu moderno hovercar...
O “cabeça de galinha” mostrou-se decidido a ligar para acalmar o nervosismo de Sloat... Mas ele não contava com a possibilidade de o dono do bichano ter uma esposa.
(...)
No momento mesmo em que a
senhora Pilsen se identificou, o pânico tomou conta de Isidore... Sua gagueira
acentuou-se, mas não havia como voltar atrás... Assim, ele foi dizendo que
queria falar-lhe a respeito do gato...
Imediatamente a mulher entendeu que ele só podia ser o
funcionário do hospital a quem o senhor Pilsen havia confiado Horace (este era
o nome do gato)... Ela perguntou se a enfermidade do bicho era mesmo pneumonite,
como o marido suspeitava...
Isidore não pestanejou e disse que o gato estava morto... Pelo vidfone
notava-se o desespero da madame... Ele quis tranquiliza-la dizendo que o Van
Ness possuía seguro e que haveria reparação... Ia dizendo algo a respeito do
sr. Hannibal Sloat, mas o chefe o interrompeu dizendo que entregariam um cheque
no valor correspondente ao catálogo da Sidney’s...
Aconteceu que J.R. se viu passando por uma experiência
inteiramente nova... Iniciou a conversa e sabia que não tinha como conclui-la...
Tentava dizer frases lógicas e pertinentes ao assunto enquanto Sloat e Milt o
encaravam... Prosseguiu dizendo que o próprio chefe escolheria o novo gato para
a família, bastando a ela fornecer as especificações (cor, sexo, raça...). Aos
poucos sua gagueira desapareceu de suas falas.
A senhora Pilsen parecia não ouvi-lo e a todo instante dizia que Horace
estava morto... J.R. a consolou dizendo que o bicho teve pneumonite... Nada
pôde ser feito e isso era lamentável, mas também o fato de o doutor Sloat
arranjar-lhe um substituto era uma notícia muito boa...
A mulher passou a falar que Horace era insubstituível... Despejou
lágrimas e disse que ele estava na família desde quando era apenas um filhote e
tinha um olhar de quem parecia perguntar algo... Nunca souberam o que ele
poderia querer saber... Mas agora ele deveria pertencer a uma realidade onde
acharia respostas para tudo... Novas lágrimas escorreram pela sua face enquanto
emendava que “todos nós saberemos um dia”.
Inspirado, J.R. ofereceu-lhe uma “cópia exata, elétrica” do gato Horace...
Eles mesmos encomendariam junto à Wheelright & Carpenter, que tinha
condições de fazer um serviço exemplar.
A dona protestou e garantiu que o marido Ed não poderia ouvir um absurdo
como aquele... Ele convivia com gatos desde criança e amava Horace.
Milt tomou o vidfone e
passou a falar com a senhora Pilsen... Esclareceu de modo profissional que a
situação era aquela que o senhor Isidore havia exposto... Ela poderia aceitar o
cheque no valor estipulado pelo catálogo da Sidney’s ou receber um novo gato
conforme a sugestão apresentada... Completou dizendo que sentiam muito pelo
ocorrido, mas o animalzinho havia contraído pneumonite, “que quase sempre é
fatal”.
A senhora Pilsen
estava mesmo inconsolável e falou que não poderia dizer aquilo ao marido...
Milt explicou que, então, bastava ela passar-lhe o número de contato do senhor
Ed que ele mesmo trataria do assunto... Quando Sloat arranjou uma caneta para
que Milt anotasse o que a mulher diria, ela se acalmou e perguntou se seria
possível que a reprodução sugerida por Isidore não provocasse nenhuma dúvida no
marido...
Milt tentou explicar que nesses casos os vizinhos costumam não notar a
substituição do bicho... Quis dizer que, pela proximidade, o dono de um animal
de estimação “nunca se engana”...
A senhora Pilsen pensou nas
palavras de Milt... Lembrou que Ed “nunca chegava fisicamente muito perto de
Horace”. Era ela que cuidava da caixa de areia utilizada pelo bichano... O
marido temia tanto perder Horace que talvez evitasse uma maior aproximação, e
quando o animal adoeceu evitou até mesmo olhar para ele... Por tudo isso ela
decidiu que aceitaria a substituição... Quis que entendessem que o marido não
poderia saber do acerto... Depois perguntou tempo teria de esperar até que o
bicho lhe fosse entregue.
Milt respondeu que em dez dias entregariam o “novo
gato”... Fariam a entrega durante o dia, enquanto o senhor Ed estivesse no
trabalho.
(...)
Milt perguntou a Sloat se, de fato, o dono de Horace não reconheceria
que o animal devolvido seria uma réplica... Hannibal respondeu que aquilo
ocorreria certamente... Mas não havia outro jeito.
Depois os dois elogiaram
muito o desempenho de J.R. ao vidfone. Inclusive decidiram que ele ligaria para
a Wheelright & Carpenter e acertaria os detalhes... Milt insistiu apenas
que ele não permitisse que levassem o gato morto, pois ele mesmo queria
conferir o trabalho da empresa comparando a réplica com o original.
É claro que Isidore ficou feliz... Disse que ligaria imediatamente
pedindo que fossem fotografar Horace... Ressaltou que o animal poderia entrar
em decomposição...
O próprio Isidore espantou-se com seu
raciocínio.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_21.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto