quarta-feira, 7 de outubro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – primeiro ato – o coro e os lamentos dignos do “povo trancafiado”; uma primeira carroça transporta mortos; início de longo discurso; Peste anuncia o estado de sítio e o fim do “modo patético de ser”; homens e mulheres foram separados

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus_2.html antes de ler esta postagem:

O coro não poderia entoar nada diferente... A desgraça baixara sobre os habitantes da Cádiz trancada em si mesma.
Apenas Peste e o povo... Todas as portas haviam sido fechadas... Já não se ouvia o som do mar distante e “inalcançável”. A partir de então restaria o perambular em círculos por ambientes sem árvores ou água.
A morte estaria cada vez mais presente... A praça seria o centro da arena onde tantos certamente tombariam.
Tamanha angústia era desproporcional a qualquer falta que porventura tivessem cometido... É claro que não eram inocentes, mas todos ali eram amantes do mundo e dos dias quentes de verão... Como se salvariam? O céu havia se tornado vazio e os ventos se imobilizaram... Restava a dor, o gemido e o grito.
(...)
Gemidos em meio ao povo...
Depois o silêncio...
Passado um tempo, o som que tomou conta do cenário foi o do cometa novamente riscando sua trajetória no céu.
Zumbido... Sinos...
(...)
No palácio onde outrora o governador vivia avistavam-se apenas Peste e sua secretária... A cada gesto dela, riscando nomes em seu caderno, tambores rufavam...
Uma primeira carroça carregada de mortos atravessou o ambiente... Enquanto isso, o vagabundo Nada se ria a valer...
Peste ergueu-se e sinalizou...
O pouco movimento que havia interrompeu-se subitamente...
Era preciso ouvir o “dono do poder”.
(...)
A autoridade pôs-se a falar...
Em síntese, disse que definitivamente “reinava”... E isso era um direito... Não devia haver questionamentos. Todos tinham de se adaptar... Apenas isso.
O governo seria à sua maneira e, nesse sentido, os espanhóis daquela localidade tinham de se adequar. Sem essa de encará-lo como a um “rei negro” ou “suntuoso inseto”... Isso significava que deveriam abandonar sua “tendência ao patético”.
(...)
Tratava-se de um ditador... Ninguém via em Peste cetro ou outros “símbolos reais”. Em vez disso, unhas negras e “uniforme sóbrio”... Sua vestimenta era a de um suboficial... É claro que aquilo não era por acaso. Ele esclareceu que daquele modo atormentaria a todos, e esse era objetivo explícito.
Peste garantiu que era bom que todos fossem atormentados.
Seu discurso simplesmente anulava a personalidade dos governados. Para ele, todos ali tinham “tudo a aprender”... Onde estava o seu trono? Não existia, pois seu palácio era uma caserna... Nem mesmo território de caça havia para o novo governante... Em vez disso, o tribunal... A “nova ordem” era drástica: estado de sítio!
(...)
Peste chegou para abolir o "patético modo de ser"...
O que estava proibido a partir de então? A “ridícula angústia da felicidade”; o “rosto estúpido dos apaixonados”; a “contemplação egoísta das paisagens”; a “ironia”.
As pessoas tinham de se adaptar à organização!
Peste insistiu que ela (a organização) é mais valiosa do que a postura patética (algo mau e inútil).
Uma primeira providência a qual todos teriam de se sujeitar, pois imposta por força de Lei: homens seriam separados das mulheres.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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