domingo, 25 de outubro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – terceiro ato – num ato de vingança, o nome da irmã de Vitória foi riscado da lista; o povo revoltado disputa o direito de justiçamento; Diogo elimina o caderno da discórdia, mas há uma duplicata; Peste tenta dissuadir o destemido jovem; os rebeldes avançam sobre as tropas do ditador, que manifesta o seu desprezo por tudo e todos; Nada e seu manifesto

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus_25.html antes de ler esta postagem:

A confusão se estabeleceu...
As pessoas avançaram para cima da irmã de Vitória e subtraíram-lhe o caderno da secretária... Encontraram o nome da garota e imediatamente riscaram-no. A pobre coitada caiu sem dar um grito sequer.
Nada, que estava observando a tudo silenciosamente, pôs-se a bradar... Disse que todos estavam “unidos pela supressão”... Uns suprimiriam aos outros e disso resultaria a “limpeza geral”... O bêbado delirava com a situação que unia (num só êxtase) oprimidos e opressores.
(...)
O caderno estava nas mãos de um tipo enorme... Ele concordou que algumas limpezas precisavam ser feitas, os “alvos” deviam ser principalmente aqueles que se refestelaram e comeram do bom e do melhor enquanto a maioria se arrebentava de fome e pavor.
(...)
Peste reapareceu. O cenário provocou nele grande gargalhada.
Todos se tornaram imóveis e voltaram a ele os seus olhares.
A secretária acomodou-se ao seu lado enquanto os guardas tratavam de restabelecer a ordem e as marcas do regime.
O ditador virou-se para Diogo e resumiu que aqueles pelos quais lutava atacavam-se, poupando o trabalho do regime. Valia a pena sacrificar-se por aqueles tipos?
Diogo não deu atenção. Em vez disso, com a ajuda do pescador, atirou-se sobre o corpulento para arrancar-lhe o caderno. O rapaz rasgou-o na esperança de tornar impossíveis as tarefas da secretária.
Ela manifestou que seu esforço era inútil porque havia uma duplicata.
O rapaz disse aos camaradas que eles haviam sido enganados... Era preciso retomar o trabalho.
Peste sentenciou que aquelas pessoas reservavam para si mesmas o sentimento de temor... E, ao mesmo tempo, destinavam o seu ódio aos demais...
Diogo quis corrigi-lo anunciando que nem medo nem vitória interessavam... O que traria a vitória ao seu povo seria o avanço organizado sobre os inimigos... Os guardas recuaram.
(...)
Peste exigiu silêncio.
Discursou de modo que até os mais afastados pudessem ouvir.
Em síntese deixou claro que se tratava de um tipo muito mau. Era ele quem azedava o vinho e dessecava os frutos; matava o sarmento no instante mesmo em que estava para surgirem uvas, e o fazia verde quando todos o queriam para produzir fogo.
Não escondeu sua aversão às pessoas simples, às suas alegrias e desejo de serem livres...
Peste odiava aquele país... Todos deviam esperar o pior!
As prisões e os carrascos estavam sob seu controle... E mais a força e o sangue...
Seu desejo não era outro senão o de arrasar Cádiz. Uma vez arrasada, não haveria nem mesmo como resgatar sua história...
Silêncio! Deixou claro que apenas o silêncio é marca das “sociedades perfeitas”.
(...)
Aqueles que assistem à encenação ouvem uma série de sons conflitantes (“ranger de serrote; zumbidos; clarões de irradiação”). Dois grupos estão lutando... Os gestos em mímica revelam isso! Os homens de Peste sofrem para conter o grupo de Diogo. Quando a agitação diminui, nota-se que os rebeldes vencem a peleja.
(...)
Peste irritou-se profundamente... Bradou que ainda restavam os reféns.
O bêbado da cidade, Nada, disse que “sempre restaria alguma coisa”. Os (seus) escritórios e tudo o mais continuariam... Ainda que a cidade ruísse e os homens desertassem, “os escritórios se abririam em horário fixo, para administrar o nada”... O tipo concluiu sua fala dizendo que “o paraíso tem seus arquivos e mata-borrões”. Ele mesmo era a eternidade.
(...)
Nada se retirou.
O coro cantou a vitória...
O verão, enfim, terminava em vitória. Ela traria toda felicidade que os homens mereciam (as mulheres amadas; o vinho jorrando em inesgotáveis fontes; as flores).
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas