segunda-feira, 19 de outubro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – segundo ato – Diogo teme morrer e deixar Vitória entre os vivos; revigorado, deve abandoná-la para prestar socorro aos mais necessitados; a moça só vê razão em viver ou morrer se for junto ao amado

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus-segundo_36.html antes de ler esta postagem:

A secretária advertiu-os... Disse que palavras como a que Vitória havia pronunciado (“amor”) estavam proibidas pelo sistema.
Ela voltou-se para Diogo e o feriu na axila. Era uma segunda marca... Isso significava que, de suspeito, ele passava à condição de contaminado.
A assistente de Peste lamentou. Disse que Diogo era um rapaz muito bonito... Olhou para Vitória e pediu desculpas por demonstrar que preferia os homens... Despediu-se e desejou boa noite aos dois.
(...)
Diogo se desesperou ao notar a segunda marca na axila. Abriu os braços e abraçou a amada. Vociferou que a beleza de Vitória o sufocava. Era triste saber que ela sobreviveria enquanto ele desapareceria para sempre. Apertou-a contra si e manifestou que não tinha mais importância... O amor dela de nada valeria se não apodrecessem juntos.
O rapaz a machucava... Ela protestou... Ele estava se comportando como louco... Pôs-se a rir e a perguntar sobre os “negros cavalos do amor” (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/09/estado-de-sitio-de-albert-camus-inicio.html)... Para ele, Vitória soube ser amorosa “nas belas horas”, porém num momento de desgraça (como aquele) os “negros cavalos fugiam”...
(...)
Ela podia ao menos morrer com ele.
Vitória recuperou o fôlego e disse que aceitava morrer com ele... Mas não “contra ele”... A fisionomia de Diogo a assustava. Tudo o que ela queria era manifestar sua ternura.
Ele soltou-a e, como a desculpar-se, disse que não queria morrer sozinho... Lastimava que a amada se recusasse a segui-lo.
Ela atirou-se em seus braços e garantiu que o acompanharia até o inferno se isso fosse necessário... Suas pernas tremiam... Pediu que a beijasse.
O casal enroscou-se num breve beijo... Vitória sufocava quando soltou um gemido... Ao se separarem, Diogo observou que não carregava nenhuma marca no corpo.
(...)
Vitória expressou o desejo de abraçá-lo novamente, no entanto ele escapou garantindo que não podia se esquecer da dor que parecia impregnada em seu ser... Para ela, bastava que se juntassem novamente, assim podiam ser consumidos pela “mesma febre”.
No entanto, Diogo estava decidido a juntar-se aos demais infectados... Não podia suportar o sofrimento de seus pares... Entendia que as pessoas precisavam ser ajudadas... Julgava que, estando em condições satisfatórias, tinha um papel a cumprir.
(...)
Vitória não aceitou a decisão do amado... Sabia que o seu engajamento junto aos atingidos pela doença o levaria à morte... Disse que invejaria a terra que o cobrisse na sepultura.
Ele passou a dissuadi-la e respondeu que ela devia permanecer “entre os que vivem”.
Talvez um prolongado beijo de amor pudesse igualar a condição de ambos... Vitória desejou que isso ocorresse para que pudesse viver (ou morrer) definitivamente com o amado.
As lamentações não tinham fim... O regime proibia o amor... Mas Vitória entendia que faziam uma espécie de chantagem para que todos acreditassem que “o amor era algo impossível”. E ela estava disposta a mostrar que era mais forte do que tudo isso.
Diogo não se considerava um tipo forte. Era com sinceridade que desejava não envolvê-la em futuro fracasso...
Vitória queria mostrar que, se era verdade que possuísse alguma força, era o seu amor que lhe vigorava... Então o colocava acima de todas as coisas para sustentar que não temia a mais nada... Poderia morrer feliz se Diogo prendesse as mãos às suas.
(...)
Vitória fazia essas declarações desesperadas... Ela só interrompeu seu discurso quando se ouviram gritos vindos da parte onde doentes se concentravam.
Diogo disse que “outros também gritam”... Ela respondeu que ficaria surda até a morte...
A carreta passou carregando mais mortos para o cemitério.
O rapaz chamou a atenção da amada... Ela disse que não podia ver mais nada porque o amor ofuscava a sua visão.
Ele ponderou que aquele céu que pesava sobre eles concentrava a dor do povo.
Vitória lembrou-lhe que tinha necessidade de toda a sua força para conduzir o amor que tinha dentro de si... As dores do mundo não lhe pertenciam... Elas eram tarefas “para homem” que necessitava se desviar “do único combate verdadeiramente difícil, da única vitória da qual poderia se orgulhar”.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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