sexta-feira, 16 de outubro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – segundo ato – Diogo se mostra indignado com a paisagem decadente e o silêncio dos concidadãos; desafio ao ditador e perseguição; o que está contido nas mentes dos oprimidos pode ser ouvido pelo regime

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus-segundo_15.html antes de ler esta postagem:

Agora vemos uma paisagem marcada por “monumentos hostis” (Mirantes, cabanas e arames farpados)...
Diogo está com uma máscara daquelas utilizadas nos hospitais... O rapaz tinha o passo apressado, mas se deteve para observar “os monumentos, o povo e Peste”. Dirigiu-se ao coro e tece seus questionamentos.
(...)
Ele queria saber onde estavam a Espanha e a Cádiz que conheciam... Aquele cenário só podia ser de outro mundo... Não havia ambiente para a vida humana nessa nova realidade... Por que todos emudeciam?
O coro respondeu que muito havia sido mudado. Outrora havia um povo... Agora os viventes nada mais eram do que uma massa moldada pelo sistema. Antes o povo era convidado; agora recebia convocações. Antes as pessoas se relacionavam e trocavam pão e leite; agora eram “abastecidas”.
Podemos dizer que, simbolicamente, a vida se tornara automatizada e regrada pelos papéis do regime de Peste... É o coro mesmo que afirma que “ninguém pode nada por ninguém e que é preciso esperar”, cada um em seu lugar, na fila a todos designada.
O povo não reagia... Os cidadãos não viam sentido nem mesmo em gritar contra o estado de coisas... As belas mulheres de outrora (que faziam seus esposos sofrerem de desejo) já não tinham “rostos de flor”.
(...)
Os membros do coro exclamam e pisoteiam...
A Espanha? Desapareceu!
O pisotear representa o sufocamento imposto pela administração de Peste.
O vento não sopra mais... As esperanças minguavam enquanto toda gente se via mergulhada na asfixia.
(...)
A Peste pediu a Diogo que se aproximasse...
Irradiações são ouvidas nas proximidades... O ditador parecia convencido de que o jovem havia compreendido que não podia se opor ao sistema.
O moço sentenciou que todos ali eram inocentes... Peste soltou prolongada gargalhada. Será que o corpulento governante entendia o que significa “inocência”?
Peste disse que não conhecia “inocência”. Diogo sugeriu que o ditador se aproximasse para reconhecer que “o mais forte mata o mais fraco”.
Para Peste a proposta não tinha cabimento... Manifestou que o mais forte ali era ele mesmo. Depois ordenou a seus guardas que avançassem sobre o rapaz.
Diogo fugiu... Os guardas o seguiram enquanto Peste anunciava que não podiam deixá-lo escapar... Os que fogem pertenciam ao regime... Aquele insolente devia ser marcado!
(...)
A perseguição é dramatizada por gestos de mímica... Apitos e sirenes de alarme enchem os ouvidos de todos.
(...)
É o coro que sintetiza o que se passava com Diogo, conhecido de todos por sua inteligência e humanidade.
O rapaz sentia medo... Ele mesmo havia confessado... Corria apavorado...
O povo tinha atitude diferenciada e “prudente”... As pessoas se sujeitaram ao poder estabelecido e estavam sendo “administradas”.
Resignação... Apenas isso... Os gritos estavam contidos. Eram os “gritos dos corações separados”, aqueles que (no fundo) sabiam que os tinham apartado do “mar sob o sol do meio-dia; do perfume da cana à tarde; dos braços frescos das mulheres”.
Eis a condição imposta a todos: Passos vigiados e contados; horas e atitudes regulamentadas... Listas e matrículas; muros e grades intermináveis... Fuzis!
Timidamente o coro declarava que os corações amargurados recusavam-se aceitar as imposições.
Recusavam também a fuga (de Diogo) que presenciavam... Não há refúgio nas casas! O único refúgio é o mar!
Mas os muros separavam mar e povo... Restava esperar (silenciosamente) que o vento voltasse a soprar sobre a cidade e possibilitasse a respiração.
(...)
Peste insistia... Diogo devia ser marcado... Também aqueles que faziam o coro, pois até o que não diziam podia ser ouvido por ele... Suas bocas deviam se esmagadas... Deviam ser amordaçados até aprenderem a pronunciar as palavras permitidas pelo regime, que eram as únicas que podiam ser repetidas incessantemente por bons cidadãos...
Um abraço,
Prof.Gilberto

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