A secretária se retirou...
Diogo viu que o estigma estava alterado, então se pôs a avançar na direção de onde provinham gemidos. Aproximou de um dos doentes para liberá-lo.
Reconheceu o pescador, que o cumprimentou admitindo que já fazia muito tempo que estava emudecido.
Diogo devolveu-lhe um sorrido... O homem olhou para o alto e quis saber a respeito da iluminação que via no céu... O que podia ser aquela novidade?
Uma das portas começou a balançar... Também as cortinas se agitaram...
Aos poucos muita gente cercou o rapaz e o pescador... As pessoas arrancavam as mordaças e dirigiam seus olhares para o céu.
Diogo anunciou a todos que o vento soprava desde o mar.
(...)
Assim o segundo ato foi finalizado.
O pano caiu sobre o cenário.
(...)
Início do terceiro ato.
Vemos que Diogo tomou a
frente dos trabalhos. Ele está na praça e muitos habitantes se aglomeram nas
proximidades.
(...)
Diogo transmitiu
orientações. As estrelas que marcavam as portas das habitações infectadas
deviam ser apagadas. Evidentemente isso contrariava a primeira das ordens
impostas por Peste...
Diogo orientava; os
cidadãos procediam de acordo... Janelas eram abertas para que o ar pudesse
circular; os doentes eram reunidos. Ele exortava as pessoas para que fossem
altivas. As mordaças deviam ser atiradas para longe; todos deviam anunciar aos
gritos que não tinham medo.
(...)
A revolta interiorizada podia, enfim, ser externada com potentes
gritos.
O coro dava a medida
da disposição à insurgência.Os miseráveis ali reunidos, os que viviam à base de “azeitonas e pão”, e que provavam do vinho apenas nas ocasiões de nascimento e casamento, podiam enfim esperar...
Mas era certo que receavam perder o pouco que experimentavam.
(...)
Disse que perderiam azeitonas, pão e vida se não se
mobilizassem contra o “estado de coisas”... Era preciso perder o medo para
salvar a Espanha!
Através do coro, os cidadãos de Cádiz continuaram a revelar a sua índole
reticente... Reconheciam-se “pobres e ignorantes”... Pelo que sabiam, a “peste”
seguia o desenrolar do ano... Na primavera “germina e jorra”; depois há a época
do “estio, quando frutifica”; talvez ela morresse quando o inverno chegasse.
A dúvida que pairava era se aqueles que pronunciavam seus lamentos
estariam vivos quando o inverno se instalasse... Teriam de pagar com o próprio
sangue, os que eram habituados a pagar “com a moeda da miséria”?
(...)
O coro feminino referiu-se àquelas tarefas como “ações masculinas”... Suplicava
aos homens que não se esquecessem de suas mulheres abandonadas... Elas eram
ainda mais fracas, e esperavam ser lembradas pelos companheiros que
sobrevivessem.
Diogo interveio garantindo que Peste era o responsável por todo aquele
sofrimento. Peste separara os casais... Portanto era contra Peste que deviam
lutar.
(...)
O coro alertou que ainda
não era tempo de inverno...
Os carvalhos das florestas
estavam bem cobertos de bolotas...
As vespas faziam festa em seus troncos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus_24.html
Leia: Estado
de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto